Agência de notícias
Publicado em 8 de abril de 2025 às 18h01.
Nas semanas que antecederam o até certo ponto surpreendente anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de que abriu "diálogo direto" com o Irã, e que uma reunião está prevista para o sábado, o Pentágono lançou uma ampla e complexa movimentação de forças no Oriente Médio. Um porta-aviões foi enviado do Pacífico para o Golfo Pérsico, aviões de combate, bombardeiros e drones de ataque colocados em prontidão e baterias de sistemas de defesa aérea, como os Patriot, instaladas em países aliados e perto de bases.
A região vive dias de tensão desde os ataques do Hamas contra Israel, em outubro de 2023, e do início da guerra na Faixa de Gaza, e algumas vezes esteve muito perto de uma guerra de grande porte, como nas trocas de mísseis e bombardeios entre israelenses e iranianos, no ano passado.
Mas ao contrário do governo de Joe Biden, que tentou se manter o mais distante possível de problemas — embora tenha mantido o apoio militar aos israelenses — Donald Trump usa o poderio militar dos EUA como forma de intimidação, especialmente do Irã, com quem busca firmar um novo acordo sobre o programa nuclear.
Uma primeira amostra veio no mês passado, com a intensificação dos ataques contra a milícia houthi no Iêmen, aliada a Teerã. Não se sabe até que ponto as bombas afetaram a capacidade do grupo, responsável por atacar navios no Mar Vermelho e cidades israelenses, em solidariedade ao Hamas em Gaza. Na sexta-feira Trump divulgou o vídeo do que seria um ataque contra integrantes da milícia, cuja autenticidade não foi confirmada.
Os bombardeios no Iêmen foram um prelúdio para o reforço das posições americanas no Oriente Médio. Além do porta-aviões USS Harry Truman, posicionado no Mar Vermelho desde o ano passado, o grupamento do porta-aviões USS Carl Vinson deixou o Oceano Pacífico e deve chegar ao Golfo Pérsico em até duas semanas.
No comunicado em que confirmou o reposicionamento, na semana passada, Sean Parnell, porta-voz do Pentágono, disse que os EUA e seus aliados “estão preparados para responder a qualquer ator estatal ou não estatal que busque ampliar ou intensificar o conflito na região".
Também na semana passada, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, anunciou um reforço das capacidades aéreas dos EUA no Oriente Médio, sem detalhar como isso aconteceria. Nos dias que se seguiram, foi revelado por fontes militares que ao menos seis bombardeiros B-2 estão na base militar em Diego Garcia, localizada no Oceano Índico e administrada em parceria com o Reino Unido.
As aeronaves podem realizar ataques nucleares e com bombas antibunker, capazes de destruir instalações subterrâneas, como as centrais de enriquecimento de urânio no Irã, e têm autonomia suficiente para cobrir os cerca de 4 mil km que separam a ilha do território iraniano.
De acordo com o jornal Wall Street Journal, citando fontes militares, os EUA incrementaram o número de aviões de combate F-35 e de drones de ataque, incluindo os MQ-9 Reaper, usados, assim como os B-2, em ações contra os houthis no Iêmen. Na segunda-feira, os americanos ainda entregaram a Israel baterias do sistema de defesa aérea Patriot, além de um Sistema de Defesa de Área de Alta Altitude Terminal (Thaad), capaz de interceptar mísseis balísticos.
Como tem demonstrado em sua guerra tarifária contra o resto do planeta, Trump, em seu segundo mandato, escolheu o caminho da ameaça e da intimidação para conseguir acordos, sejam eles econômicos ou políticos. Até agora, sem tanto sucesso.
Sua primeira aposta, a resolução da guerra na Ucrânia, teve um início promissor, mas esbarrou em um governo russo que quer, antes de um cessar-fogo, obter o maior número possível de concessões, além da relação tortuosa e explosiva entre o líder americano e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Com o Irã, Trump escolheu uma outra estratégia. Antes de oferecer vantagens, ele faz demonstrações de força e ameaças — na segunda-feira, ao lado do premier israelense, Benjamin Netanyahu, voltou a sugerir que atacaria o país se um novo acordo sobre o programa nuclear não for fechado em breve.
Em carta enviada aos iranianos, no mês passado, o prazo estabelecido era de dois meses para um acerto.
— Acho que se as negociações não forem bem-sucedidas, o Irã estará em grande perigo, e odeio dizer isso, porque eles não podem ter uma arma nuclear — afirmou na segunda-feira, no Salão Oval.
Segundo o presidente americano, os dois lados já mantêm um diálogo direto, e devem se encontrar no sábado, mas Teerã diz que, neste momento, as conversas serão realizadas indiretamente, ou seja, com um mediador, no Sultanato de Omã.
Na conversa com jornalistas, Trump disse esperar que seja firmado um acordo “ainda mais duro” do que o assinado em 2015 e rasgado por ele três anos depois.
Em Teerã, nem todos compartilham do relativo entusiasmo do presidente americano. O governo colocou as tropas em estado de prontidão e a retórica das autoridades está elevada. Na sexta-feira, o presidente do Majlis, o Parlamento do país, Mohammad Qalibaf, disse que “se os americanos atacarem a santidade do Irã, toda a região explodirá como uma faísca em um depósito de munições”.
Contudo, após a relativa facilidade com que Israel burlou as defesas aéreas do país nos dois ataques do ano passado, e demonstrou as fragilidades dos serviços internos de segurança, fica no ar a real capacidade do Irã diante de uma ofensiva dos EUA, possivelmente com o apoio de Israel e outros aliados regionais.