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Quem é a democrata que está ganhando força na briga pela Casa Branca

Elizabeth Warren é, hoje, a maior rival de Joe Biden na disputa pela nomeação democrata e a corrida presidencial dos Estados Unidos em 2020

A democrata Elizabeth Warren: senadora se tornou um dos principais nomes do Partido Democrata para a disputa pela Casa Branca em 2020 (Richard Brian/Reuters)

A democrata Elizabeth Warren: senadora se tornou um dos principais nomes do Partido Democrata para a disputa pela Casa Branca em 2020 (Richard Brian/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 15 de outubro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 15 de outubro de 2019 às 06h00.

São Paulo – Em 2016, o então presidente do banco Wells Fargo, John Stumpf, foi convocado para uma audiência no Congresso dos Estados Unidos. O tema era o escândalo envolvendo a criação fraudulenta de mais de dois milhões de contas e cartões de crédito, sem a autorização dos clientes, e que resultou na demissão de 5 300 funcionários. Não bastasse a multa que a instituição recebeu e a mancha na sua reputação centenária, Stumpf enfrentou, ao vivo, a ira de uma senadora, na época em sua primeira legislatura: Elizabeth Warren.

Eleita por Massachusetts em 2013, a primeira mulher a conquistar o feito no estado, Warren chamou a atenção do eleitorado com a promessa de “lutar contra os grandes” e pedindo por uma regulação maior no mercado financeiro. Pudera: conhecia de perto a posição dos bancos na escala de poder da sociedade americana.

Advogada e ex-professora da Universidade Harvard, Warren se especializou em falências e trabalhou na Agência de Proteção Financeira do Consumidor, ligada ao governo federal. Mais do que credenciais profissionais, havia a experiência pessoal: na infância, enfrentou o temor de perder a casa em que vivia com a família em razão de um empréstimo feito em um momento financeiro difícil.

“Você deveria renunciar...deveria ser preso”, dizia Warren ao banqueiro no Congresso. “Você não deixou o cargo, não devolveu um centavo e não demitiu um único executivo do alto escalão. Sua definição de ‘responsabilidade’ é empurrar a culpa para os funcionários mais baixos que não tem uma prestigiada empresa de relações públicas para se defender”, continuou ela para o executivo, que engolia a seco os comentários.

Aos poucos, a senadora foi ganhando cada vez mais notoriedade pelo discurso combativo. “Não estou em Washington para trabalhar para os bilionários”, costuma dizer. Hoje, em 2019, desponta como uma das candidatas mais fortes na corrida pela nomeação democrata para as eleições presidenciais de 2020. Está disputando ponto a ponto pela liderança com o ex-vice-presidente, Joe Biden, e é seguida, um pouco atrás, pelo senador de Vermont, Bernie Sanders.

Desde o final de setembro, as pesquisas indicam que Warren que pode ultrapassar Biden em breve, e já o fez em algumas sondagens, mas ainda sem uma diferença significativa. Ainda assim, suas chances são altas: ela tem 40% de probabilidade de se tornar a indicada do Partido Democrata e ser a oponente oficial de Trump, segundo estimativa da consultoria política Eurasia. As chances de Biden são de 30%.

Nascida em Oklahoma, estado no centro-este dos Estados Unidos, em 1949, Warren se identificava como republicana até 1996, quando migrou para seu atual partido, o Partido Democrata, e diz ser “a nerd dos dados” pela fama de manter políticas detalhadas sobre os mais diversos temas. Na sua plataforma da corrida eleitoral, ela tem planos para taxar os mais ricos, reduzir a desigualdade, bem como as dívidas estudantis, e fatiar as grandes empresas de tecnologia, como Google e Facebook.

“Warren brinca que tem um plano para tudo e é esse perfil propositivo e reformista quem tem jogado em seu favor”, diz a professora Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP. “É a agenda que interessa ao eleitorado, uma voz estável em um momento de profunda instabilidade política."

Ainda de acordo com Magnotta, especialista em política americana, a senadora também se beneficia da percepção que os americanos têm dos demais candidatos democratas, Biden e Sanders. Aliás, Warren arrebatou o apoio do Partido das Famílias Trabalhadoras, grupo progressista que vem ganhando cada vez mais influência política e sempre se posicionou com o senador de Vermont, Bernie Sanders.

“Joe Biden, embora tenha sido vice-presidente de Obama, é cercado de controvérsias e não é especialmente popular entre as minorias. E Sanders, que sempre defendeu uma agenda à esquerda, não consegue conquistar o establishment e a massa de eleitores moderados”, diz a professora.

O que ainda não está definido, alerta a especialista, é o rumo que o eleitorado irá seguir daqui em diante: o de continuar no caminho da polarização ou buscar uma terceira via, como Warren, solidificando a sua liderança na corrida democrata.

Para Melissa Michelson, cientista política da Universidade Yale e professora de Menlo College, na Califórnia, o oba-oba em torno de Warren deve ser observado com ceticismo. Ela considera ainda ser cedo para cravar que a sua vantagem vai se traduzir numa liderança duradoura. “Muito do seu crescimento se deve ao fator ‘elegibilidade’ e os eleitores podem estar se movendo dos candidatos menores para os mais fortes, numa tentativa de evitar a fragmentação e focar na eleição geral”, diz.

Nem tudo são flores no caminho de Warren. Assim como Biden, que viu seu nome envolvido no escândalo da Ucrânia que resultou na abertura do processo de impeachment de Trump, Warren também enfrenta polêmicas. Uma, aliás, deve continuar a assombrá-la e é uma das deixas favoritas de Trump para atacá-la: a sua ancestralidade indígena, alvo de um teste de DNA que enfureceu essas comunidades nos EUA.

A pesquisadora da Universidade Yale nota também que a senadora enfrentará desafios importantes. “Não podemos esquecer que ela é uma mulher, e a única nomeada democrata até hoje foi Hillary, que acabou perdendo em 2016”, diz Michelson, que pesquisa a participação das mulheres e minorias na política. Na sua percepção, isso pode ser preocupante para quem pensa que os Estados Unidos ainda não estão prontos para uma mulher na presidência. “A misoginia e o machismo prevalecem", diz.

Além disso, há a fragilidade da sua candidatura entre as minorias, especialmente os negros, que são 25% do total de eleitores democratas. “Hoje, é impossível pensar em vencer sem essa base”, diz a professora americana. Neste ponto, o panorama parece estar mudando a favor de Warren, já que o apoio desses eleitores está aumentando. Nas sondagens da Universidade Quinnipiac, uma das mais tradicionais dos Estados Unidos, o percentual de apoiadores de Warren saltou de 10% para 19%.

A fase da candidatura de Warren, neste momento, é boa. Na última sondagem de Quinnipiac, a senadora aparece com 30% de intenções de voto ante 27% de Biden. Mas não se pode esquecer que sua candidatura ainda enfrentará muitos testes até que as primárias do Partido Democrata sinalizem a preferência ou rejeição do eleitorado pela senadora.

Um momento potencialmente decisivo está marcado para acontecer nesta terça-feira, 15 de outubro, quando acontece mais uma rodada de debates entre os pré-candidatos democratas, o maior da história das primárias presidenciais. Warren estará diante de seus dois rivais, Joe Biden e Bernie Sanders, e o mundo estará de olhos abertos para os desdobramentos do embate - o primeiro depois da abertura do inquérito de impeachment de Donald Trump.

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