Trump concede entrevista na Casa Branca (Carlos Barria/Reuters)
Reuters
Publicado em 17 de março de 2017 às 20h36.
Última atualização em 18 de março de 2017 às 07h53.
Miami/Moscou - Durante a campanha presidencial de 2016, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, minimizou os seus laços empresariais com a Rússia. Desde que assumiu o poder como presidente, ele tem sido até mais enfático.
"Eu posso te dizer, falando por mim, eu não devo nada à Rússia", disse o presidente Trump durante uma entrevista à imprensa no mês passado. "Eu não tenho empréstimos. Eu não tenho nenhum negócio na Rússia."
Contudo, nos EUA, integrantes da elite russa têm investido nos edifícios de Trump.
Uma revisão da Reuters descobriu que pelo menos 63 indivíduos com passaporte ou endereço russos compraram pelo menos 98,4 milhões de dólares em propriedades em sete torres de luxo da marca Trump no sul da Flórida, de acordo com documentos públicos, entrevistas e registros corporativos.
O grupo de compradores inclui empresários com conexões políticas, como um ex-executivo de uma firma de construção gerenciada pelo Estado com base em Moscou e que trabalha em instalações militares e de inteligência, o fundador de um banco de investimentos em São Petersburgo e um dos fundadores de um conglomerado com interesses nos setores bancários, imobiliário e eletrônico.
Pessoas do segundo e terceiro escalões do poder russo investiram nos edifícios Trump também. Um deles recentemente divulgou uma foto de si com o líder de uma gangue de motocicletas que foi punida pelos EUA por seu suposto papel na tomada da Crimeia por Moscou.
A revisão que a Reuters fez de pessoas da Rússia que investiram em edifícios de Trump na Flórida não encontrou nenhuma indicação de irregularidades pelo presidente ou por sua organização imobiliária.
Além disso, nenhum dos compradores parece ser do círculo próximo do presidente russo, Vladimir Putin.
A Casa Branca direcionou as perguntas da Reuters para a Organização Trump, cujo principal representante legal afirmou que o escrutínio dos laços empresariais de Trump com a Rússia estava errado.
"Eu posso dizer definitivamente que essa é uma história exagerada criada pela mídia", declarou Alan Garten, em entrevista. "Eu tenho estado próximo a essa empresa e sei dos negócios dessa empresa."
O cálculo de investidores da Rússia pode ser conservador.
A análise descobriu que pelo menos 703, cerca de um terço, de proprietários das 2044 unidades nos sete edifícios de Trump são companhias de responsabilidade limitada, que tem a possibilidade de esconder a identidade do verdadeiro dono.
Também não foi possível determinar a nacionalidade de muitos compradores.
Russos-americanos que não usaram um endereço ou passaporte russos nas compras não foram incluídos na conta.
A análise teve a Flórida como foco porque o Estado tem a maior concentração de edifícios da marca Trump, e determinar o dono das propriedades é mais fácil lá do que em outros Estados.
O resort de Sunny Isles Beach, local de seis das sete torres residenciais de Trump na Flórida, se destaca por outro motivo: o código postal que inclui as seis torres tem um número estimado de 1.200 moradores nascidos na Rússia, segundo o Censo.
A organização Trump anuncia todos os sete edifícios da Flórida no seu site. A renda exata que Trump gerou com os edifícios não é clara.
Informados da análise da Reuters, dois adversários democratas do presidente, o senador Ron Wyden e o deputado Adam Schiff, repetiram os chamados por uma maior transparência das finanças do presidente.
"Enquanto o presidente nega ter investido na Rússia, ele tem dito pouco ou nada sobre o investimento russo nos seus negócios e propriedades nos Estados Unidos ou em outros lugares", afirmou Schiff, do Comitê de Inteligência da Câmara.