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Elite política da Europa não recebeu o recado do Brexit

Após os eleitores do Reino Unido terem escolhido sair da União Europeia, o establishment da região reagiu conservando tudo como era antes


	Brexit: mais recente rodada de ex-autoridades econômicas que entraram no setor financeiro que antes regulamentavam está causando preocupação
 (Phil Noble / Reuters)

Brexit: mais recente rodada de ex-autoridades econômicas que entraram no setor financeiro que antes regulamentavam está causando preocupação (Phil Noble / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2016 às 18h52.

Parece que a elite política da Europa não recebeu o recado do Brexit.

Seis semanas após os eleitores do Reino Unido terem repreendido a classe dominante ao optar por sair da União Europeia, o establishment da região reagiu conservando tudo como era antes.

A porta giratória de ex-responsáveis pelas políticas que foram para o setor financeiro deu mais algumas voltas, porque o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, assinou contrato com o Goldman Sachs Group e o ex-presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, entrou no Citigroup.

Enquanto isso, o ex-primeiro-ministro David Cameron está sendo criticado por nomear diversos assistentes para receberem honrarias, inclusive a estilista de sua esposa.

Um possível desfecho é um maior apoio aos partidos populistas que se aproveitam da alienação, como o Partido de Independência do Reino Unido ou a Frente Nacional da França.

“Qualquer coisa que não dê uma imagem favorável ao governo ou às instituições públicas só confirma algumas das atitudes que provavelmente contribuíram para o voto a favor do Brexit”, disse Chris Roebuck, professor convidado na Cass Business School de Londres e ex-assessor do UBS Group.

Para alguns eleitores, “existe um grupo de pessoas por aí que não são pessoas comuns como eu e você, e que se beneficiaram depois da crise financeira -- porque são uma elite”.

Contratações

A mais recente rodada de ex-autoridades econômicas que entraram no setor financeiro que antes regulamentavam está causando preocupação.

King, que uma vez reclamou dos banqueiros “incompetentes e gananciosos”, se tornou assessor sênior do Citigroup, informou o Financial Times na semana passada.

O papel de Barroso como assessor do Goldman Sachs foi criticado pelo presidente da França, François Hollande, que disse que isso era “moralmente inaceitável”.

O líder francês conhece bem as críticas à elite. Menos de uma semana antes de seus comentários sobre o Goldman, a revista satírica Le Canard Enchaîné publicou revelações de um salário mensal de 9.895 euros (US$ 10.958) pago pelo Estado francês ao cabelereiro de Hollande.

O valor supera o salário de um membro do Parlamento Europeu.

King e Barroso são apenas parte de uma aparente onda de contratação de ex-autoridades econômicas no setor financeiro da Europa. Entre outras nomeações anunciadas em julho estão a de Jörg Asmussen, ex-secretário de Estado no Ministério do Trabalho alemão que participou uma vez do Conselho Executivo do Banco Central Europeu, que entrará na Lazard no próximo mês.

O executivo do FMI José Viñals, um ex-vice-governador do Banco da Espanha, assumirá a presidência do conselho do Standard Chartered.

Crise de confiança

As autoridades europeias deveriam tomar cuidado com as impressões que essas decisões profissionais podem causar, disse Emily O’Reilly, provedora de justiça europeia.

“Quando ex-comissários da UE ou autoridades da UE aceitam cargos no setor privado que envolvem fazer pressão sobre seus ex-colegas, isso é muito prejudicial para a opinião pública a respeito da UE”, escreveu ela em um email enviado à Bloomberg.

“A UE já está atravessando uma crise de confiança com os cidadãos e é essencial que essas opiniões não se tornem enraizadas”.

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