O meia Ozil, da Alemanha, em derrota contra a Coreia do Sul (Getty Images)
Maurício Grego
Publicado em 29 de junho de 2018 às 11h17.
Última atualização em 29 de junho de 2018 às 11h18.
A fase não anda boa para a Alemanha.
Apesar de tudo o que vai bem nesse país de 83 milhões de habitantes -- economia em crescimento, mercado imobiliário em expansão e índice de desemprego em mínima recorde --, o orgulho nacional sofreu fortes revezes nas últimas semanas. Os alemães gostam de lembrar ao resto do mundo que fabricam carros incríveis, jogam um futebol excelente, elegem governos estáveis e possuem um banco sólido e de reputação mundial -- verdades absolutas que começaram a desmoronar.
A chanceler Angela Merkel, baluarte da estabilidade europeia, enfrenta um motim cada vez maior dentro de seu próprio governo; a outrora orgulhosa indústria automotiva vai de um escândalo a outro; o Deutsche Bank é uma sombra do que foi. E para completar, veio o choque da humilhante derrota da seleção de futebol, na quarta-feira, quando a Alemanha, a atual campeã, foi eliminada da Copa do Mundo na primeira fase pela primeira vez desde 1938.
A derrota foi um acontecimento com tanto significado nacional que até mesmo a chanceler se sentiu compelida a comentar: “Honestamente, estamos todos muito tristes nesta noite”, disse Merkel, em evento público após a derrota por 2 a 0 para a Coreia do Sul, seleção que ocupa o 57º lugar no ranking da Fifa, liderado pela Alemanha. Agora, o futuro do técnico da seleção alemã, Joachim ‘Jogi’ Löw, à frente da equipe há quase 12 anos, é questionado.
Merkel, no cargo por um ano a mais que Löw, também enfrenta um futuro incerto -- apenas três meses depois de formar uma nova coalizão para seu quarto mandato. Seus aliados bávaros ameaçam a estabilidade do governo com a promessa de agir unilateralmente contra os imigrantes que tentam entrar no país se ela não assinar um acordo válido para toda a União Europeia sobre o assunto na cúpula que começa nesta quinta-feira.
O drama político pegou de surpresa muitos observadores acostumados à estabilidade do sistema político da Alemanha, mas os problemas de Merkel foram ofuscados na quarta-feira pela indignação nacional com a derrota em campo. A manchete do Bild, o maior jornal da Alemanha, na manhã desta quinta-feira, resumiu: “Sem palavras!” O assunto foi destacado até pelo sério Frankfurter Allgemeine Zeitung e a revista Der Spiegel chamou o desempenho da equipe de “desgraça histórica”.
Essa é uma descrição condizente também com a indústria automotiva alemã. Não passa uma semana sem novas revelações sobre o escândalo da fraude do diesel que envolveu a Volkswagen pela primeira vez em 2015. O CEO da Audi foi preso na semana passada acusado pelos promotores de tentar adulterar evidências nas investigações em andamento, e continua na prisão desde então, uma queda sem precedentes de um líder corporativo importante na Alemanha. O fluxo constante de más notícias levou o organizador da premiação automotiva de maior prestígio do país a cancelar o ostentoso evento na semana passada, afirmando que não havia motivos para júbilo.
Por último vem o Deutsche Bank. Aparentemente todos os dias é comunicada a saída de algum executivo importante no momento em que o maior banco da Alemanha tenta cortar milhares de postos de trabalho em meio a uma iniciativa para voltar a gerar lucros. O banco registra, de longe, o pior desempenho do índice de referência da Alemanha neste ano e perdeu 43 por cento de seu valor desde o início de 2018.