Juan Orlando Hernández, eleito presidente de Honduras (Orlando Sierra/AFP)
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 22h16.
Tegucigalpa - As eleições gerais de novembro representaram para os cidadãos de Honduras e a comunidade internacional o fim da crise política derivada do golpe de Estado que em 2009 derrubou o então presidente Manuel Zelaya, agora eleito deputado para a próxima legislatura.
Zelaya não conseguiu retornar ao poder através de sua esposa, Xiomara Castro, que como candidata presidencial pelo esquerdista partido Liberdade e Refundação (Libre) perdeu as eleições para Juan Orlando Hernández, do conservador Partido Nacional.
O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) considerou Hernández como presidente eleito com 36,89% dos votos, contra 28,77% de Castro, que no mesmo dia do pleito se declarou 'presidente eleita' e não reconheceu os resultados oficiais da disputa.
A União Europeia, a Organização dos Estados Americanos e vários países da Ásia e América, começando pelos Estados Unidos, reconheceram o triunfo de Hernández.
Com a realização das eleições, que foram qualificadas como transparentes pela comunidade internacional, o presidente em fim de mandato, Porfirio Lobo, que deixará o posto em 27 de janeiro de 2014 após um mandato de quatro anos, sai fortalecido após ter assumido em 2010 um país literalmente em chamas.
A derrubada de Zelaya dividiu os hondurenhos política e socialmente, e o país foi isolado pela mesma comunidade internacional que agora reconheceu e felicitou Hernández pelo triunfo, o segundo consecutivo do Partido Nacional desde que Honduras retornou à democracia, em 1980.
Apesar da derrota sofrida por Zelaya à frente do Livre, partido do qual é coordenador geral, ele acabou eleito deputado no parlamento hondurenho pelo seu departamento natal de Olancho.
Zelaya, que chegou ao poder em janeiro de 2010 sob a bandeira do conservador e centenário Partido Liberal, retornou ao país em maio de 2011 após um exílio forçado na República Dominicana depois do golpe de Estado.
O ex-governante foi tirado do poder e do país quando promovia um referendo que a lei não lhe permitia.
Zelaya também é em parte artífice que seu novo partido tenha surgido como a principal legenda de oposição no Parlamento, deslocando a partir de 2014 ao Partido Liberal, que também se fracionou após o golpe de Estado.
O presidente eleito, que para alguns setores do país é um político muito ambicioso que governará com mão de ferro, ganhou as eleições após uma campanha focada no tema da segurança, advertindo que fará 'o que tiver que fazer' para garantir esse direito à cidadania.
Honduras é considerado o país mais violento do mundo, com uma taxa anual de homicídios de mais de 80 para cada 100.000 habitantes, quando a média latino-americana é de 20, o que as autoridades vinculam à ação do narcotráfico internacional que utiliza o país como ponte de mais de 90% da cocaína que chega aos Estados Unidos.
O desgaste sofrida pela administração de Lobo, que não conseguiu cumprir aos hondurenhos suas únicas duas promessas, 'trabalho e segurança', não afetou Hernández, que buscou a candidatura presidencial a partir do Parlamento, do qual é presidente e se retirou temporariamente para se dedicar à campanha.
Hernández é um advogado de profissão e reservista de 45 anos e é natural de Gracias, no departamento de Lempira.
O Libre não somente enfraqueceu o Partido Liberal, que viu reduzido de 45 a 27 seu número de deputados no parlamento, mas também tirou cadeiras do Partido Nacional, que de 71 passou a 48, acabando com o bipartidarismo tradicional no poder legislativo hondurenho.
O triunfo político do Libre, um dos quatro novos partidos que surgiram após o golpe de Estado contra Zelaya, não foi uma surpresa para os hondurenhos, mas sim o do Partido Anticorrupção (PAC), que se apresentou às eleições com o apresentador de televisão Salvador Nasralla como candidato presidencial e surge como terceira força.
O PAC conseguiu 13 deputados, além de ter ganhado no departamento caribenho de Cortés, o segundo mais importante do país e o primeiro em desenvolvimento econômico, comercial e industrial.
Os cinco partidos pequenos não conseguiram juntos nem 1% dos votos na última eleição, da qual pela primeira vez participaram nove partidos e que foi a nona consecutiva desde que o país retornou à democracia.
As forças no Parlamento passaram de duas para quatro, e assim nenhum partido terá maioria simples para se impor ao momento de discutir iniciativas de lei, o que os obrigará a fazer alianças.
Até agora as alianças mais prováveis são as de Libre e PAC e a do Partido Nacional com o Liberal, duas instituições que se alternaram no poder durante mais de um século, algumas vezes com interrupções ditatoriais.