Eleições no Irã: os 76 anos de idade do atual líder, Ali Khamenei, fazem pensar que esta instituição poderá ter um protagonismo inusitado nos próximos anos (Raheb Homavandi/ Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2016 às 11h24.
Teerã - As eleições parlamentares e para a Assembleia de Especialistas desta sexta-feira no Irã constituirão o mais confiável termômetro para comprovar a profundidade e as possibilidades futuras da mudança política e social na República Islâmica, hoje imersa em um inegável processo de degelo.
O resultado dos votos dos 54.915.024 iranianos convocados às urnas não causará um terremoto ou uma revolução no país, cujo regime teocrático ainda parece estável e sólido, mas permitirá ver o alcance do desejo, demonstrado pelo triunfo do moderado Hassan Rohani nas presidenciais de 2013, de se aproximar da comunidade internacional e de avançar rumo a um sistema menos rígido.
Se os cidadãos reconhecerem os esforços de Rohani para alcançar um histórico acordo nuclear com Ocidente que pôs fim às duras sanções que pesavam sobre o país e acreditarem em suas promessas de melhora econômica, já incipiente, os candidatos moderados e reformistas que o apoiam poderão desbancar os conservadores que dominam o parlamento desde 2004.
Essa circunstância terá consequências no balanço de poderes na República Islâmica e permitirão a Rohani avançar em seus planos de degelo com o Ocidente, de abertura econômica, e iniciar sua promessa eleitoral de melhorar a situação das liberdades públicas, até agora em segundo plano.
Consequências mais profundas pode ter a votação para a Assembleia de Especialistas, a câmara composta por 88 clérigos xiitas cuja missão principal é a de escolher o líder supremo em caso de vacância e que inclusive pode afastá-lo de seu cargo, algo que por enquanto nunca aconteceu.
Os 76 anos de idade do atual líder, Ali Khamenei, fazem pensar que esta instituição poderá ter um protagonismo inusitado nos próximos anos.
Nestas eleições concorrem 6.229 candidatos ao cargo de deputado e 161 clérigos para a Assembleia de Especialistas, o maior número de concorrentes na história da Revolução Islâmica, apesar de representarem pouco mais da metade das pessoas que se apresentaram em primeira instância e que foram desqualificadas pelo Conselho de Guardiães.
O papel deste organismo, nomeado diretamente pelo líder supremo, é o de autorizar ou vetar os candidatos eleitorais, instrumento que é usado para impedir a postulação de pessoas críticas ao regime ou que não abraçam seus princípios fundamentais.
Como em outras ocasiões, os reformistas criticaram com dureza o fato de o Conselho vetar a participação de muitos de seus candidatos mais reconhecidos.
Nesta semana, o poderoso ex-presidente e candidato reformista à Assembleia de Especialistas, Akbar Hashemi Rafsanyani, lamentou como um evento "ruim para o sistema islâmico" e como "uma boa desculpa para a propaganda do inimigo" a eliminação de candidatos reformistas nestas eleições, entre eles, o neto do fundador da República Islâmica, Hassan Khomeini.
"É certo que eliminaram muitos reformistas, mas também ficaram de fora muitos dos elementos mais radicais. O que vimos é que o sistema prefere um parlamento formado por Lariyanis. E achamos que é positivo, dada sua tendência à moderação", disse à Agência Efe um diplomata europeu em referência a Ali Lariyani, o influente presidente do atual parlamento.
Lariyani, uma das figuras centrais do movimento principalista conservador foi durante a presente legislatura movimentando-se rumo a posturas moderadas e apoiou abertamente Rohani durante a negociação nuclear, abrindo uma lacuna com os setores mais radicais.
Em qualquer caso, as esperanças reformistas se centram em conseguir que amplos setores compareçam às urnas, particularmente entre os mais ricos e entre os profissionais liberais, que constituem seu principal apoio, mas que rejeitam o regime e que não desejam apoiá-lo participando das eleições.
Assim, sua campanha se centrou em pedir às pessoas que votem, inclusive com pedidos específicos aos que "não acreditam no sistema".
E com isso concordaram o próprio Khamenei e os defensores dos princípios da Revolução Islâmica, para os quais uma ampla participação cidadã na votação serviria para defender o sistema, exibir sua boa saúde e acabar com as acusações de que não conta com o apoio da população.