Soldados malianos tuaregues: o levante independentista dos tuaregues do norte do Mali, que representam 7% da população do país, provocou mal-estar em muitos dirigentes do Exército. (Joe Penney/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2013 às 15h30.
Bamaco - Mali realizará neste domingo eleições presidenciais para legitimar a transição política no país, em mais uma tentativa de por fim a um ano no qual um levante independente e um golpe de Estado arrastaram o país para a beira do abismo.
Ao todo, os 27 candidatos, entre os quais se destacam os ex-primeiros ministro Ibrahim Boubacar Keita e Modibo Sidibé, o ex-ministro de Economia Sumaila Cissé e Dramane Dembelé, candidato do partido majoritário Adema, apresentaram programas centrados no fim da crise política e territorial, na reconciliação, no combate à corrupção e em melhorar a situação da economia.
O último obstáculo para a realização do pleito foi superado em 18 de junho na capital de Burkina Fasso, Ouagadougou, quando o governo de Mali e os rebeldes tuaregues que controlam parte da região central de Kidal assinaram um acordo de cessar-fogo.
O pacto, assinado com a mediação do presidente de Burkina Fasso, Blaise Compaoré, estabeleceu também o retorno a Kidal da Administração Civil e do Exército, que se concretizou no dia 5 de julho com o envio de um grupo de 150 soldados vindos da capital Bamaco.
Em contrapartida a esta presença, supervisionada pela Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA) e pela missão da França no país (Serval), as autoridades se comprometeram a organizar, após as eleições, um diálogo para determinar a condição administrativa de Azawad (nome pelo qual é conhecida a região norte de Mali).
Uma missão da União Europeia, formada por 90 observadores a curto e a longo prazo, vai acompanhar a organização do processo eleitoral, cuja data muitos consideraram precipitada devido à falta da presença da imprensa e de tempo para seu planejamento.
No entanto, o principal responsável da organização das eleições, o general Siaka Sangaré, assegurou à Agência Efe que graças ao acordo foi possível entregar com tranquilidade os cartões eleitorais em Kidal, onde vivem 35.000 dos quase sete milhões de malineses com direito ao voto.
Apesar dos "contratempos" para elaborar as listas e distribuir os cartões eleitorais, como reconhecem vários responsáveis, o presidente da Comissão Eleitoral Independente, Mamadou Diamountenin, disse que "apesar do alarme ter soado em várias ocasiões, iniciaram-se as medidas de retificação necessárias".
Todos no país concordam que o próximo domingo é fundamental para Mali dar um grande passo rumo à reconciliação nacional das diferentes forças políticas, divididas desde o golpe de estado de 22 de março de 2012 entre o governo de Bamaco e os independentistas tuaregues que pegaram em armas em janeiro do ano passado.
Segundo o acordo de Ouagadougou, 60 dias depois da realização da votação devem ser iniciadas conversas para definir o status administrativo de Azawad e elaborar uma estratégia para o desenvolvimento desta região desértica de 850.000 quilômetros quadrados.
O levante independentista dos tuaregues do norte do Mali, que representam 7% da população do país, provocou mal-estar em muitos dirigentes do Exército, que não viram com bons olhos como o então presidente, Amado Toumani Touré, lidava com a crise.
O desconforto evoluiu para várias ações de protesto, até que no dia 22 de março um grupo de militares liderados pelo capitão Amado Haya Sanogo perpetrou um golpe de Estado. O levante fez explodir uma nova crise política e ao invés de frear o avanço tuaregue, deu asas ao movimento.
O Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA) conseguiu em apenas uma semana o controle do norte do país e em 6 de abril proclamou o estado de Azawad.
Paralelamente, os militares, pressionados pela Comunidade Internacional e especialmente pela Comunidade Econômica de Estados de África Ocidental (Cedeao), concordaram em restabelecer a antiga ordem constitucional, mas não abriram mão de impor o ritmo da transição.
A intervenção militar francesa em janeiro deste ano, que provocou a fuga dos grupos radicais islâmicos e favoreceu o retorno do MNLA ao norte do país, abriu também caminho para eleições que farão o país avançar rumo à recuperação econômica e social.