Presidente do Equador, Rafael Correa, durante evento do seu partido político, o Aliança País (AP), em Quito (Guillermo Granja/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de fevereiro de 2014 às 23h08.
Quito - As recentes eleições no Equador evidenciaram problemas no governo, que afirma seguir sendo a primeira força política do país, embora admita a existência de erros em sua estratégia de campanha e prepare uma reestruturação em suas fileiras.
Os resultados finais não foram divulgados ainda, mas se sabe que o Aliança País (AP), movimento liderado pelo presidente Rafael Correa, perdeu a emblemática prefeitura da capital, Quito, e continuou sem a de Guayaquil, governada há mais de 20 anos pelo Partido Social Cristão.
O AP também ficou fora de outras prefeituras importantes, como as de Cuenca, Portoviejo, Manta e Machala, segundo antecipações oficiais dos resultados.
O líder, Rafael Correa, foi o primeiro a admitir esses revezes e inclusive anunciou uma reestruturação no AP, após reconhecer que "estas eleições mostraram muitas vulnerabilidades", embora tenha descartado "um fracasso eleitoral" do partido governamental.
"Seguimos sendo a primeira força política do país", mas a derrota de Quito dói por ser uma cidade "básica para a governabilidade" e por sua influência no país, disse o governante dois dias após o pleito.
Passados os primeiros momentos e após o impacto que gerou entre seu direção e militância a perda das citadas prefeituras, o AP tenta ver a situação de outra perspectiva e ressalta sua liderança política nacional.
Seu secretário-geral, Galo Mora, fala de "uma tergiversação geral" sobre os resultados e nega um "reposicionamento" da direita no país, ao ressaltar que o partido manterá as 69 prefeituras que conseguiu em 2009, ou mais, e que subirão para mais de 100 com as alianças estipuladas com a formação Avanza e o Partido Socialista.
O AP, por outra parte, conseguiria cerca de uma dezena dos 23 governos provinciais frente aos seis que obteve em 2009.
Segundo seu responsável, o avanço da direita não é mais que uma ficção que se estendeu como uma "imagem fantasmagórica" em torno da derrota do governo na prefeitura de Quito.
Mas outros observadores ressaltam o valor simbólico das derrotas nas prefeituras das cidades citadas e lembram o sintomático interesse com o qual o presidente Correa se dedicou à campanha eleitoral, em particular durante as últimas semanas, quando redobrou seus esforços em apoiar Augusto Barreira, o prefeito governista na busca da reeleição na capital.
E assinalam como possível erro a presença quase constante junto aos candidatos locais do líder, que em pleitos anteriores foi fundamental para captar votos em todo o território nacional.
Essas aparições, consideram, puderam ter um efeito contrário ao buscado, já que teriam diminuído o protagonismo dos candidatos do AP em vez de servir para transferir-lhes os votos que o governante deveria atrair.
O analista político e professor universitário Simón Pachano destaca que, apesar de tratar-se de eleições de caráter local, o próprio Correa as transformou com sua participação direta, que ele mesmo justificou ao advertir que os resultados podiam afetar a Revolução Cidadã, como denomina o projeto político governamental.
Nesse contexto, prova da confiança que existe no AP sobre a liderança de Correa, menos de uma semana depois das eleições já surgiram os que encorajam o desejo de o líder tentar um quarto mandato, com a necessária reforma da Constituição envolvida, para "consolidar o projeto da Revolução Cidadã", segundo disse ontem à agência pública "Andes" o legislador Fabián Solano.
"Não se trata de perenizar uma pessoa no poder, mas de manter uma liderança para consolidar um projeto político", declarou o impulsor da iniciativa, do Partido Socialista, aliado do governo.