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Eleições no Equador: Daniel Noboa e Luisa González vão disputar o segundo turno

Pleito teve participação de 83% dentre os mais de 13 milhões de eleitores

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Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 06h19.

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O presidente do Equador, Daniel Noboa, e a candidata opositora Luisa González estão no segundo turno das eleições presidenciais do Equador, que ocorrerá em 13 de abril. A disputa de domingo, 9, foi acirrada, com González - apadrinhada do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), e que já havia sido rival de Noboa em 2023 - conseguindo quase um empate técnico. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o pleito teve grande participação popular: cerca de 83% dos mais de 13 milhões de eleitores foram às urnas.

Com pouco mais de 80% do total de votos computados pelo CNE, Noboa aparecia com 44,4% dos votos e González com 44,1%. Em terceiro lugar, o líder indígena Leonidas Iza tinha 4,7%.

Para ser eleito em primeiro turno, um dos candidatos precisa obter maioria simples ou 40% dos votos e uma diferença de pelo menos dez pontos sobre o adversário. Na História recente, somente Correa conseguiu vencer no primeiro turno, em 2009 e 2013.

A primeira pesquisa de boca de urna publicada após o fim da votação apontava para a vitória de Noboa já no primeiro turno, com 50,2% dos votos. González, por sua vez, aparecia com 42,2%. Outras sondagens, no entanto, não davam mais de 50% dos votos ao presidente. Imediatamente após a divulgação da pesquisa, Correa rejeitou os números.

"Eles sabem que é uma mentira. Essa é a pesquisa de boca de urna do governo".

Segundo o CNE do país, a votação ocorreu "com total normalidade". A campanha deste ano adotou fortes medidas de segurança diante do temor de que o cenário do último pleito, em 2023, se repetisse no país, que foi de um dos mais seguros da América Latina para uma taxa de 38 homicídios por 100 mil habitantes. O pleito ficou marcado pelo assassinato do candidato Fernando Villavicencio, morto a tiros em um ato de campanha na capital, Quito. A tragédia catapultou a candidatura de Noboa, 37 anos, que correria por fora, vencendo González, 47 anos.

Apesar da aparente tranquilidade, os serviços de emergência alertaram sobre "graves denúncias de um possível atentado à democracia", sem dar detalhes. As fronteiras estão fechadas até segunda-feira, enquanto cerca de 100 mil integrantes da força pública vigiam os locais de votação. Durante o dia, um policial morreu e outro ficou ferido em um "ataque armado" na cidade portuária de Guayaquil, segundo a polícia.

"Recebi ameaças [...] Há relatórios de inteligência que dizem que há riscos, que querem atentar contra a minha vida", disse a candidata González à AFP no início do dia.

Mais de mil observadores internacionais acompanharam o pleito. Segundo o o eurodeputado espanhol Gabriel Mato, chefe da missão da União Europeia (UE), que enviou mais de 100 observadores, as primeiras horas de votação transcorreram “calmamente”, apesar de “certos atrasos” na instalação das seções eleitorais e na abertura dos centros de votação.

Além do presidente, serão eleitos os 151 membros da Assembleia Nacional e cinco para o Parlamento Andino. A relação com o Legislativo será decisiva para o próximo mandatário, que tem o desafio de recuperar um país mergulhado em uma crise econômica e na guerra entre cartéis.

Noboa versus González

Noboa, que em 2023 se tornou o presidente mais jovem da História do país, é herdeiro de um império de bananas. O empresário é filho de Álvaro Noboa, que tentou cinco vezes ser presidente do Equador. Membro de uma das famílias mais conhecidas e ricas do país, ele foi deputado na última legislatura.

Noboa já pretendia concorrer às presidenciais neste anos, mas viu seus planos se anteciparem quando o ex-presidente Guillermo Lasso convocou novas eleições em 2023, numa manobra conhecida como "morte cruzada", em que dissolveu o Congresso para impedir que o Legislativo o destituísse em um processo de impeachment por corrupção. Eleito, Noboa foi imbuído de cumprir apenas os 16 meses que faltavam para o fim do mandato de Lasso.

Muito ativo nas redes sociais, Noboa se tornou popular como um governante linha-dura contra o tráfico de drogas.

"O Equador já mudou e quer continuar mudando, quer consolidar sua vitória", disse o presidente.

González, por sua vez, aspira ser a primeira mulher presidente eleita na história do país. Ao contrário de Noboa, ela possui uma agenda que promete mais segurança "com justiça social" e respeito aos direitos humanos.

"Eles são o medo, nós somos a esperança", disse a advogada ao depositar seu voto.

Crises

Noboa termina um mandato breve, mas vertiginoso. Cortes de energia causados por uma seca histórica mergulharam o país na escuridão. A violência alimentada pelas drogas levou ao controle de prisões por gangues criminosas e ao ataque a um canal de televisão por homens armados enquanto seus jornalistas transmitiam ao vivo. Houve, ainda, disputas diplomáticas com o México e alegações de abusos por parte das forças de segurança em sua ofensiva contra o crime.

Os equatorianos ainda sentem os efeitos de um Estado endividado, com uma taxa de pobreza de 28% e concentrado no financiamento da dispendiosa guerra contra o tráfico de drogas. Depois de mais de uma década de gastos sem a receita do boom do petróleo que antes enchia os cofres do Estado, a dívida pública agora está em torno de 57% do PIB, de acordo com o FMI.

Dolarizado, com portos estratégicos no Pacífico e espremido entre os dois maiores produtores de cocaína do mundo — Colômbia e Peru — o Equador se tornou um paraíso das drogas.

"O Equador é o lar das máfias albanesa e balcânica, da italiana 'Ndrangheta e das máfias turcas", diz Douglas Farah, consultor de segurança e analista sobre América Latina."E agora você tem gangues locais como Los Lobos e Los Choneros, que lutam por território para que possam transportar o produto através do Equador para seus novos compradores na Europa e na Ásia".

Essa transformação deixou níveis recordes de assassinatos, extorsões e sequestros, que excederam as capacidades das forças públicas. Os equatorianos "nunca experimentaram esse tipo de violência", disse Farah.

A resposta de Noboa foi mobilizar as Forças Armadas, prender líderes de gangues e interceptar carregamentos de cocaína sempre que possível. O presidente deu ao público a sensação de que algo está sendo feito, embora poucos especialistas acreditem que esta seja uma estratégia bem-sucedida a longo prazo.

Alternativas como fortalecer a polícia e os serviços sociais, reformar as prisões e criar empregos custam tempo e dinheiro. O Equador tem pouco de ambos.

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