Eleições na Colômbia: segundo turno será realizado no dia 19 de junho (Juan BARRETO, Yuri CORTEZ/AFP)
AFP
Publicado em 29 de maio de 2022 às 20h46.
Última atualização em 29 de maio de 2022 às 20h53.
O senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, vencedor do primeiro turno realizado neste domingo (29), disputará a presidência da Colômbia com Rodolfo Hernández, um milionário azarão que surpreendentemente tirou a direita da corrida pelo poder.
Petro venceu o primeiro turno com 40,3% dos votos, 12 pontos percentuais a mais que Hernández (28,2%), com quem disputará um segundo turno em 19 de junho, de acordo com a autoridade eleitoral.
Com esses resultados, os colombianos castigaram de maneira inédita os partidos tradicionais e principalmente a direita, que pela primeira vez ficará de fora da disputa pela presidência.
Hernández derrotou Federico Gutiérrez (23,8%), candidato de uma coalizão de forças ligada ao partido no poder, e Sergio Fajardo (4,2%), candidato centrista.
Petro, 62, e Hernández, 77, se enfrentarão em uma votação para eleger o sucessor de Iván Duque, muito impopular em função de sua gestão econômica durante a pandemia e que enfrentou protestos maciços em 2019 e 2021 liderados por jovens duramente reprimidos pela força pública.
Como as pesquisas antecipavam, a esquerda alcançou seu melhor resultado eleitoral em um país historicamente governado por elites, com a maior produção de cocaína do mundo e crescente violência rural, apesar do acordo de paz de 2016 que desarmou os guerrilheiros das Farc.
VEJA TAMBÉM: Ascensão eleitoral da esquerda gera oposição de militares na Colômbia
Até uma semana atrás, as pesquisas apontavam Gutiérrez como o provável rival de Petro no segundo turno. Mas Hernández, que não pertence a um partido político e de difícil inserção no espectro ideológico, foi a surpresa.
"Hoje sabemos que existe uma cidadania firme para acabar com a corrupção como sistema de governo", declarou o azarão Hernández, que aguardava os resultados em traje de banho e bebendo cerveja no pátio de sua mansão, segundo um vídeo compartilhado com a mídia de sua campanha.
Petro, que depôs as armas em 1990 após a desmobilização do M-19, grupo rebelde nacionalista do qual foi membro por 12 anos, veio a esta eleição defendendo a mudança e a ruptura.
"Estamos representando a vontade de mudança (...) estou confiante de que essa vontade de mudança será a maioria", disse o candidato após votar em um bairro popular de Bogotá.
Segundo o analista Daniel García-Peña, "nestes últimos quatro anos a desigualdade e os níveis de pobreza, desacordo e descontentamento se aprofundaram, e Petro é quem soube ler, interpretar e se conectar com o eleitorado".
Tal era o sentimento entre muitos eleitores. "As pessoas que governam o país estão em pedaços, então temos que mudar", disse à AFP Luis Hernán Álvarez, segurança que votou em Petro em Bogotá.
VEJA TAMBÉM: Por que massacre no Texas não deve mudar lei contra armas nos EUA
Assim, os colombianos escolherão seu próximo presidente entre a mudança radical proposta por Petro e a alternativa incerta de Hernández, que engloba todo o seu programa na luta frontal contra a corrupção.
"Hoje perderam aqueles que acreditavam que seriam governo para sempre", comemorou Hernández, empreiteiro e ex-prefeito de Bucaramanga, cidade do nordeste do país com quase 600 mil habitantes.
Hernández procurará governar este país de cerca de 50 milhões de habitantes com apenas dois congressistas em um corpo de 296 legisladores e esperando que as forças opostas a Petro se unam em torno de sua candidatura.
O Pacto Histórico, coalizão liderada por Petro e Francia Márquez, a ambientalista que quer ser a primeira vice-presidência negra, obteve o melhor resultado para a esquerda nas eleições legislativas de março, embora sem obter maiorias.
A autoridade eleitoral foi questionado pelas inconsistências na contagem preliminar dessas eleições, que subtraiu votos do movimento Petro e de outros grupos políticos. A diferença de um milhão de votos entre a apuração preliminar e a contagem final coloca em dúvida a transparência do processo.
Na ausência de uma auditoria externa do software usado para a soma dos votos, a campanha do Petro anunciou sua própria fiscalização e expressou preocupação com a compra de votos.
Durante uma campanha tensa e polarizada, Petro também denunciou ameaças. Sua proteção foi reforçada, obrigando-o a se proteger com colete à prova de balas e escudos ao seu redor para subir nas nos palanques, temendo um assassinato como os do século XX, quando cinco candidatos presidenciais foram mortos na Colômbia.
Empresários, pecuaristas e setores conservadores temem que Petro leve o país ao abismo com seu ambicioso plano de suspender a exploração de petróleo, responsável por um terço das exportações (13,5 bilhões de dólares em 2021).
O senador também propõe a reforma do sistema público-privado de previdência e da polícia, implicados em violações de direitos humanos durante a repressão aos protestos.
Quem vencer terá que lidar com um país ainda convalescendo dos estragos da pandemia.
A pobreza atinge 39% da população, o desemprego urbano 17,2% e a informalidade 43,5%. A corrupção e a situação econômica são as principais preocupações dos colombianos, segundo a empresa Invamer.