Falta de combustível na Argentina virou tema da campanha (Luis Robayo/AFP)
Redação Exame
Publicado em 30 de outubro de 2023 às 16h53.
Última atualização em 30 de outubro de 2023 às 17h16.
Sergio Massa vive em jornada dupla: é ministro da Economia da Argentina e, ao mesmo tempo, candidato presidencial que disputa o segundo turno. Poucos dias depois da primeira rodada de votação, no dia 22, começou a faltar combustível nos postos argentinos, e o tema virou uma arma do rival Javier Milei na campanha.
A falta de gasolina nos postos começou em meados da semana passada e continuava nesta segunda, 30. Relatos da imprensa argentina apontam filas nos postos de Buenos Aires e de várias cidades no interior do país. Motoristas trocam informações entre si ao saber da chegada de uma carga de combustível em um posto, e correm para lá antes que acabe.
No domingo, 29, Massa subiu o tom e pressionou as distribuidoras. “Se o fornecimento de combustível não for resolvido até a meia-noite de terça-feira, 31, as empresas não poderão enviar navios para exportação a partir de quarta-feira, 1º”, disse. “O petróleo argentino pertence primeiro aos argentinos.”
O ministro disse que algumas empresas estavam segurando o fornecimento de combustível, apostando que o governo desvalorizaria a taxa de câmbio oficial após a votação do primeiro turno, o que não aconteceu. O governo sinalizou que não deve desvalorizar o peso no câmbio oficial até depois das eleições, que terão o segundo turno em 19 de novembro.
Ao mesmo tempo, faltam dólares no mercado argentino para pagar importações. O governo colocou vários limites para as empresas obterem dólares, apelidados de "cepos", e com a demora da burocracia para aprovar os pedidos, houve casos de navios com combustível que ficaram no litoral argentino, esperando o pagamento chegar para atracar.
Embora a Argentina seja um país produtor de petróleo e grande parte de seu uso interno de gasolina seja refinada localmente, parte do diesel é importada, com volumes em torno de 15% a 20%. Com as restrições de acesso a dólares impostas pelo Banco Central, as importações têm sido mínimas.
Há também a questão que o governo fez um acordo com as petroleiras para manter os preços no varejo com reajuste mais baixos do que no atacado. Com isso, grandes compradores acabam abastecendo frotas em postos nas ruas, o que reduz a oferta ao público.
As quatro maiores petroleiras do país dizem que a situação deve se normalizar nos próximos dias. Em nota, elas afirmam que houve uma alta forte na demanda nas últimas semanas, por causa de um feriado prolongado, eleições e início da época de plantio agrícola. Isso coincidiu com paradas programadas em algumas refinarias, o que reduziu a oferta em um momento que ela crescia.
Em meio à crise, o deputado Javier Milei, rival de Massa no segundo turno, levou o tema para a campanha. "O desabastecimento e a inflação são consequências diretas do modelo da casta que defende este governo de delinquentes, com o ministro Massa na cabeça", postou Milei.
"Te colocam um 'cepo' para 'cuidar' da oferta de dólares e faltam dólares. Colocam preços máximos na gasolina para que 'haja para todos' e falta gasolina", prosseguiu o candidato ultralibertário.
"Massa: é o responsável pela decadência argentina. Intermináveis filas de carros e motos nos postos. Isso é parte do que nos espera com as manobras. Na Argentina, não restou um dólar. Massa comeu todos com suas mentiras. Com isso, ganhou uns pontinhos para a eleição, mas veja o que temos. Desabastecimento de combustíveis na Argentina, uma semente de Venezuela", disse Patricia Bullrich, candidata que ficou em terceiro lugar no primeiro turno e declarou apoio a Milei, em um vídeo repleto de imagens das filas de carros.
Tanto Milei como Bullrich apontam que cenas assim podem ser o futuro da Argentina se Massa ganhar. O ministro tem o desafio duplo de resolver o problema atual e convencer os eleitores de que ele tem como garantir que situações assim não vão mais acontecer se ele for eleito.