A Itália, terceira maior economia da zona do euro, está mergulhada na sua mais prolongada recessão nos últimos 20 anos (Giuseppe Cacace/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2013 às 09h08.
Roma - O ressurgimento político de Silvio Berlusconi e a ascensão de um comediante populista e boca-suja tornaram imprevisível o resultado da eleição italiana do fim de semana, que pode não resultar no governo forte de que o país necessita.
A Itália, terceira maior economia da zona do euro, está mergulhada na sua mais prolongada recessão nos últimos 20 anos. Sucessivos governos não conseguiram fazer a economia nacional decolar nesse período.
A insatisfação popular com o desemprego recorde, especialmente entre os jovens, com os aumentos tributários e com as dificuldades italianas, junto com uma recente onda de casos de corrupção, alimentaram o apoio ao alternativo Movimento 5 Estrelas, do comediante Beppe Grillo.
Hábil no uso da internet, Grillo tem atraído multidões para vê-lo gritar até ficar rouco sobre os palanques, em discursos cheios de palavrões dirigidos à desacreditada classe política.
Alguns analistas dizem que o 5 Estrelas pode se tornar o terceiro maior partido no Parlamento, com cerca de 20 por cento dos votos, à frente inclusive do Povo da Liberdade (PDL), de Berlusconi.
O ex-premiê, de 76 anos, passou a maior parte de 2012 à sombra, acuado por um escândalo sexual e por suspeitas de corrupção, depois de ser escorraçado do poder no auge da crise financeira nacional, em 2011.
Mas desde dezembro Berlusconi voltou à ativa, atacando em aparições televisivas as medidas de austeridade impostas por seu sucessor, o tecnocrata Mario Monti. Com isso, ele reduziu à metade a vantagem de dez pontos percentuais que o centro-esquerdista Pier Luigi Bersani registrava nas pesquisas.
Grande comunicador --e amparado em seu império televisivo--, Berlusconi está conquistando muitos votos com a promessa de restituir o valor pago em um odiado imposto sobre habitação criado por Monti. Adversários dizem que essa promessa equivale a uma compra de votos.
Bersani, um ex-ministro bem avaliado mas de pouco brilho, e seu Partido Democrático parecem se aferrar à sua própria linha de campanha, mostrando-se complacentes com a liderança nas pesquisas e incapazes de responder de forma dinâmica à ameaça representada por Berlusconi e Grillo.
Monti, cuja atuação contra a crise financeira foi muito elogiada por outros governos europeus e investidores, tem poucas chances de permanecer no cargo. Analistas disseram na quinta-feira que o apoio ao centrista está minguando, e que ele pode ficar com menos de 12 por cento dos votos.
Incógnitas
Os especialistas ainda acham que o resultado mais provável seria um governo chefiado por Bersani e apoiado por Monti, mas a ascensão de Grillo e Berlusconi, e o mau desempenho eleitoral do atual premiê, causam inquietação quanto à chance de que a Itália tenha um governo forte e comprometido com reformas.
Adversários de Bersani também dizem que ele seria incapaz de chegar a um acordo com Monti sobre as reformas, e que seria tolhido por sindicatos e grupos esquerdistas, algo que seu partido nega.
Pela lei eleitoral, as pesquisas de opinião estão proibidas desde 9 de fevereiro. As últimas mostravam a centro-esquerda com cerca de 5 pontos percentuais à frente do bloco de Berlusconi, e analistas acreditam que isso ainda se mantém, ainda que possivelmente com um ligeiro declínio.
Na quarta-feira, a agência de classificação de crédito Standard & Poor's disse que a Itália pode perder o impulso para a realização de reformas importantes se nenhum vencedor emergir claramente da eleição.
O ágio entre os títulos italianos com vencimento em dez anos e os papéis alemães que balizam o mercado subiu 14 pontos-base na quinta-feira, num sinal de que os investidores, até agora tranquilos, estão pouco a pouco despertando para o risco de um governo fraco.