Mundo

Eleição americana pode ser decidida fora dos EUA — e os democratas buscam esses 6,5 milhões de votos

Para Bruce Heyman, votos no exterior decidiram as eleições presidenciais de 2020 em estados como Arizona e Geórgia, e serão essenciais em novembro

Cabine de votação nos EUA: além dos cidadãos que moram no país, democratas querem atrair os 6,5 milhões de expatriados aptos para votar neste ano (AFP/AFP)

Cabine de votação nos EUA: além dos cidadãos que moram no país, democratas querem atrair os 6,5 milhões de expatriados aptos para votar neste ano (AFP/AFP)

Luciano Pádua
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 13h33.

Chicago, Estados Unidos - A campanha de Kamala Harris à presidência dos Estados Unidos não está blefando quando diz, recorrentemente, que a disputa contra Donald Trump será apertada. Esse foi o tom dos discursos do ex-presidente Barack Obama e Hillary Clinton na convenção democrata, além da própria Kamala afirmar rotineiramente isso. E eles têm mais um alvo para atrair votos que podem fazer a diferença: os milhões de americanos que moram em outros países.

Segundo Bruce Heyman, um diplomata aposentado que foi embaixador dos EUA no Canadá durante o governo de Barack Obama, há aproximadamente 6,5 milhões de americanos morando fora do país aptos para votar.

O ex-diplomata coordena uma iniciativa para auxiliar americanos expatriados a votarem para os democratas. Ele conta que a ideia partiu de uma observação de quando servia como embaixador dos EUA no Canadá durante as eleições de 2016. Na época, ele não podia por lei fazer campanha ou declarar apoio ao partido. Agora, aposentado, lidera esse esforço.

"Ao mesmo tempo que Hillary Clinton venceu por quase três milhões de votos, ela perdeu no colégio eleitoral. Ela perdeu por cerca de 77.000 votos", disse durante coletiva de imprensa para correspondentes internacionais. "Olhamos especialmente para o estado de Michigan, onde ela perdeu por 11.000 votos."

"Sentamos e pensamos: quantos americanos moram no Canadá? E no mundo? Eles poderiam ter votado no Michigan? Foi aí que iniciamos uma análise de quantos americanos viviam fora dos EUA", prosseguiu.

Em 2016, de acordo com Heyman, o departamento de Estado do país apontou que havia aproximadamente 9 milhões de americanos vivendo fora do país, dos quais 6,5 milhões estava aptos para votar. "Quantos votaram em 2016? Pouco mais de 500.000, uma porcentagem muito pequena", disse.

Os expatriados não votavam, em sua avaliação, por uma série de motivos, como não saber que podiam ou como proceder para votar. E muitos que sabiam esses passos não foram até o final com o processo de votação.

Em 2020, Heyman foi à campanha de Joe Biden e propôs uma iniciativa de votos no exterior. "Eles nos olharam e perguntaram: o que é isso? E eu respondi: exatamente, ninguém faz isso", lembrou. "O conceito era abordar americanos vivendo no exterior e ensiná-los sobre como votar, auxiliá-los no processo de votação de forma efetiva. O resultado foi um aumento nos votos de 73,5%, algo enorme. Quase 900.000 eleitores votaram."

Estados decisivos

Na análise do ex-diplomata, quase metade desses votos foram para os chamados "battlegorund states", os estados que foram decisivos para a vitória na disputa presidencial em 2020.

"Não eram apenas votos aleatórios, mas votos que contavam para o colégio eleitoral. A nossa análise mostrou que, na margem, basicamente ganhamos no estado do Arizona, na Geórgia e o Senado para os democratas com os votos de americanos vivendo no exterior", diz.

Neste ano, nas contas do partido democrata, 1,6 milhão desses votos de expatriados seriam de eleitores dos estados decisivos para a campanha: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia, e Wisconsin (além da Carolina do Norte, que recentemente voltou à mira da campanha de Kamala).

O Comitê Nacional Democrata investirá 300.000 dólares para alcançar os eleitores fora do país, segundo CBS News. O investimento, que o DNC afirma ser o primeiro em um ciclo presidencial, tem como objetivo apoiar o "Democrats Abroad", o principal grupo democrata encarregado de registrar e ajudar eleitores não militares fora dos EUA com suas cédulas por correspondência.

Além de Heyman, outra técnica democrata foi escalada para levar a mensagem dos votos no exterior aos americanos. Os números de eleitores variam, mas a mensagem é basicamente a mesma.

"Em 2022, a última eleição nacional nos EUA, havia quase três milhões de americanos vivendo no exterior aptos a votar. Mas apenas uma pequena porcentagem votou, cerca de 3,5%", disse Miriam Sapiro, conselheira sênior do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), ex-embaixadora e representante de Comércio dos EUA, em outra coletiva. "As embaixadas dos EUA e a organização Democrats Abroad têm informações sobre como se registrar para votar."

Voto diferente

Os expatriados votam diferente dos americanos que vivem nos EUA, defende Heyman.

"Quando você vive fora do país, os tópicos que são falados aqui, como acesso ao aborto ou preço do pão ou da gasolina, não são tão importantes. Não são essas as questões que fazem as pessoas em Berlim, Londres ou Cidade do México votarem", disse.

Para eles, aponta o ex-diplomata, o que importa mais é o papel dos EUA no mundo. "É política externa, percepção. Um exemplo: se você andar pelas ruas de Chicago e perguntar o que as pessoas pensam da Otan, eu diria que uma porcentagem alta de pessoas perguntaria o que é a Otan", afirmou.

"Mas se você andar pelas ruas de Varsóvia e perguntar a mesma coisa os americanos que vivem ali terão opiniões fortes", prosseguiu. "Se formos bem-sucedidos como fomos em 2020, quando aumentamos os votos em 73%, e repetirmos isso, podemos vencer a eleição", disse, apoiando a candidatura de Kamala Harris.

Acompanhe tudo sobre:Eleições EUA 2024

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru