Mundo

Egito vive dia histórico de democracia

A mera realização de um pleito em liberdade era algo inimaginável até pouco mais de 15 meses atrás

O transcorrer do pleito foi considerado ótimo pelas organizações encarregadas de fazer o acompanhamento da votação (©AFP / Mahmud Hams)

O transcorrer do pleito foi considerado ótimo pelas organizações encarregadas de fazer o acompanhamento da votação (©AFP / Mahmud Hams)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2012 às 16h55.

Cairo - Os eleitores do Egito foram nesta quarta-feira às urnas para votar no primeiro presidente após a queda do regime de Hosni Mubarak, com a sensação de decidir pela primeira vez em suas vidas o destino do Egito.

A mera realização de um pleito em liberdade era algo inimaginável até pouco mais de 15 meses atrás, antes de a pressão dos protestos populares forçar a renúncia de Mubarak.

Por isso, apesar da convulsa transição política no país, os milhões de cidadãos que se aproximaram dos colégios eleitorais - é provável que a participação não seja divulgada antes de alguns dias - viveram com a esperança de um principiante o momento de depositar a cédula na urna.

"Esta é a primeira vez em minha vida que voto para escolher o presidente", reconheceu emocionada a eleitora Fatima el-Hajj na escola Bahezat al-Badia, no bairro popular de Imbaba.

Independente da preferência política dos eleitores, um desejo era comum entre a maioria deles: o Egito precisa de estabilidade para recuperar a segurança nas ruas e impulsionar a debilitada economia.

Essa estabilidade é que, de uma maneira ou de outra, foi vendida pelos candidatos favoritos na corrida presidencial, dois islamitas e dois ex-membros do alto escalão do antigo regime.

O último primeiro-ministro de Mubarak e candidato continuísta, Ahmed Shafiq, contou nas últimas horas com o voto de um bom número de eleitores que antes se mostravam indecisos, em detrimento do postulante ex-secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, o outro grande candidato laico.


Os resultados, que deverão ser conhecidos na próxima terça-feira, são imprevisíveis, mas as pesquisas de intenções de voto divulgadas e os testemunhos recolhidos pela Agência Efe indicam um grande apoio ao candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi.

A grande disputa para o provável segundo turno - que será realizado nos dias 16 e 17 de junho - envolve Shafiq, Moussa e o islamita moderado Abdel Moneim Abul Futuh.

No bairro de classe média Aguza, vestindo um niqab (véu islâmico que cobre todo o rosto, exceto os olhos), a eleitora Sana Mohammed Taha explicou à Agência Efe que seu voto foi para Shafiq "porque é alguém que tem experiência, e era um dos bons assessores de Mubarak".

"Nas eleições parlamentares, votei na Irmandade Muçulmana, mas dessa vez não, porque seus xeques nos mentiram muito. A Irmandade não é formada por anjos. Entre eles, há bons e maus", declarou.

A votação - que se prolongou por uma hora a mais que o esperado, até 21h locais (16h de Brasília) para permitir maior participação popular - teve nitidamente mais presença nas urnas em vários colégios do que nas eleições legislativas, segundo a Agência Efe pôde constatar.

"Há muita participação, mais que o previsto. É uma grande festa democrática. A cada hora votam aqui entre 80 e 100 pessoas, mal consegui respirar até agora", brincou entre risos o presidente de uma mesa eleitoral no colégio militar de ensino médio de Imbaba, o juiz Kamal Kurdi.

Os organizadores do pleito parecem ter aprendido a lição da desordem generalizada nas eleições legislativas de finais de 2011 e início de 2012, que acarretou em numerosas irregularidades. Nesta quarta-feira, uma ordem e harmonia pouco frequentes tomou conta dos colégios eleitorais.


Às margens do Mar Mediterrâneo, em Alexandria, segunda maior cidade do país, longas filas de eleitores esperaram pacientemente nos centros de votação, que abriram suas portas de maneira pontual.

"Sou casada, mas meu marido não me disse em quem devo votar. Somos livres para escolher e cada um tem de respeitar a opinião do outro", afirmou à Efe a eleitora Saad Mohamed, com o rosto também coberto por um niqab.

No entanto, a Comissão Suprema Eleitoral Presidencial registrou algumas irregularidades, principalmente atos considerados eleitoreiros por parte de vários candidatos.

Em entrevista coletiva, o presidente da Comissão, Farouk Sultan, explicou que o órgão denunciou três candidatos - Shafiq, Abul Futuh e Mursi - ante a Procuradoria Geral por suas infrações.

Apesar de tudo, o transcorrer do pleito foi considerado ótimo pelas organizações encarregadas de fazer o acompanhamento da votação.

Em declarações à Efe, o chefe da equipe de observadores da Liga Árabe - o mais numeroso de todos os presentes -, Mohammed el-Khamlichi, destacou que a participação eleitoral foi massiva nos centros de votação que seus 52 analistas visitaram.

A delegação constatou irregularidades como o atraso da abertura de alguns colégios e a distribuição de panfletos de propaganda por seguidores de certos candidatos, mas, segundo a entidade, "a polícia interveio imediatamente para impedi-lo".

Khamlichi, de nacionalidade marroquina, indicou que a organização "ganhou experiência, sobretudo no caso dos juízes, que também supervisionaram as eleições legislativas". 

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEgitoEleiçõesOriente MédioPrimavera árabe

Mais de Mundo

Trump nomeia Chris Wright, executivo de petróleo, como secretário do Departamento de Energia

Milei se reunirá com Xi Jinping durante cúpula do G20

Lula encontra Guterres e defende continuidade do G20 Social

Venezuela liberta 10 detidos durante protestos pós-eleições