Os manifestantes pedem a saída do marechal Hussein Tantawi do comando do país (Amr Nabil/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2011 às 11h53.
Cairo - O marechal Hussein Tantawi, comandante das Forças Armadas do Egito, no governo desde fevereiro, deve discursar em breve à nação, segundo anúncio da televisão pública, feito pouco depois do início de uma reunião entre o conselho militar que dirige o país e várias forças políticas para encontrar uma saída para a crise.
A influente Irmandade Muçulmana anunciou que participará na reunião, que acontece menos de uma semana antes das primeiras eleições legislativas desde a queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro.
Milhares de pessoas começaram a reunir-se na tarde desta terça-feira na emblemática Praça Tahrir para exigir uma rápida transferência do poder aos civis.
Os manifestantes acusam o poder militar que querer eternizar-se e dar continuidade à política de repressão do regime de Mubarak.
Na segunda-feira à noite, o CSFA reconheceu pela primeira vez desde o início da violência, que já fez 28 mortos em apenas três dias, que o país está em "crise", após o pedido de renúncia do governo de Essam Charaf, nomeado em março pelo exército para administrar os assuntos cotidianos.
O conselho militar ainda não disse se aceita esta demissão, mas o Egito já entrou na mais grave crise desde a queda do ex-presidente. Na próxima semana está previsto acontecer as primeiras eleições legislativas da era pós-Mubarak.
Neste contexto de crise, é provável que as eleições sejam marcadas pela violência.
A Irmandade Muçulmana, força política melhor organizada no país, boicotou a manifestação de Tahrir e pediu calma, ansiosa pela eleição que começa no dia 28 de novembro, na qual acredita estar em posição de força.
"Mais o número (de manifestantes) aumenta, mais tensão vai ter", afirmou à AFP Saad al-Katatny, secretária geral do Partido da Liberdade e da Justiça ligado a irmandade.
Segundo o ministério da Saúde, 28 pessoas - 26 no Cairo, uma em Alexandria e uma em Ismaïliya - morreram desde sábado, principalmente na Praça Tahrir, epicentro do levante do início do ano.
"Ninguém pode negar que o Egito se encontra diante de um grande perigo e de uma tormenta", escreveu nesta terça-feira o jornal governamental Al-Gumhuriya.
"Quem vai parar com o fogo?", questiona a manchete do Al Wafd (liberal), que afirma: "Os problemas acontecem porque o governo não foi formado por revolucionários (...) a multidão desceu para as ruas para fazer valer suas reivindicações".
Afetada pelos distúrbios, a Bolsa do Cairo anunciou uma suspensão temporária das suas atividades nesta terça-feira após uma queda de 4,48% de seu índice de referência EGX-30. O pregão acabou fechando em baixa de 4,77%.
Os militantes parecem determinados a manifestar até o fim para forçar o CSFA entregar o poder aos civis.
As Forças Armadas afirmaram que devolveriam o poder aos civis após eleições presidenciais que deveriam acontecer após as legislativas, mas a data para isso acontecer nunca foi determinada.
Durante a noite de segunda-feira, milhares de manifestantes ainda gritavam "o povo quer a queda do marechal" (Hussein Tantawi), o primeiro governante de fato do Egito.
"Agora é o CSFA que deve renunciar e responder por seus atos diante de nós", reagiu Tarek Sabri, uma professora de 35 anos.
"Precisamos de um governo com verdadeiros poderes, nenhum governo liderado pelo CSFA tem valor", disse Mohammed al-Hita, um militante de 24 anos.
O conselho militar é acusado de querer se manter no poder, de não manter as promessas de reformas e continuar com a política de repressão da era Mubarak.
Segundo a Anistia Internacional, o CSFA "sufocou a revolução" e algumas violações aos direitos Humanos cometidas desde que chegaram ao poder são piores do que no regime de Mubarak.
A manifestação desta terça-feira deve ser iniciada oficialmente às 16H00 (14H00 GMT) em Tahrir para exigir a formação de um governo nacional.
Na noite de ontem, violentos confrontos continuaram nas ruas adjacentes da Praça.
O ministério do Interior acusou em um comunicado os manifestantes de terem lançado um coquetel molotov e de atirarem com fuzis de caça, ferindo 112 membros das forças de ordem. O comunicado informa sobre "116 presos no Cairo, 46 em Alexandria e 29 em Suez".