Policiais e torcedores entram em confronto após o fim da partida entre Al-Masry e Al-Ahly (AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2012 às 12h55.
Cairo - O poder egípcio, questionado após a morte de 74 pessoas na quarta-feira em confrontos entre torcedores de futebol em Port Said (norte), anunciou nesta quinta-feira a destituição dos dirigentes da Federação Egípcia deste esporte e a demissão do governador da cidade.
O primeiro-ministro, Kamal al-Ganzuri, anunciou as medidas em um debate parlamentar muito agitado, enquanto torcedores de futebol se reuniam no Cairo para marchar em direção ao Ministério do Interior como forma de protesto.
O primeiro-ministro confirmou também a saída dos principais autoridades de segurança de Port Said. Muitas testemunhas acusaram as forças públicas de inoperância e criticaram as falhas no esquema de segurança da partida disputada na quarta-feira nesta cidade.
O presidente da Assembleia, Saad al-Katatni, do movimento Irmandade Muçulmana, primeira força política do país, considerou que "a revolução egípcia enfrenta um grande perigo".
"O massacre de Port Said se deve a uma tremenda negligência dos serviços de segurança", declarou, sem chegar a pedir a queda do governo.
Alguns deputados tomaram a palavra para pedir "o fim" do gabinete de Ganzuri, ou para afirmar que o conselho militar que dirige o país tem a "inteira responsabilidade" pelo ocorrido.
O poder militar tem que se "responsabilizar", disse o deputado do Bloco Egípcio (liberal) Mohammed Abu Ahmed, exigindo a saída dos generais à frente do país desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak, há quase um ano.
A violência explodiu na quarta-feira à noite depois que o árbitro apitou o fim da partida na qual o Al-Masry, um clube de Port Said, causou a primeira derrota do Al-Ahly na temporada, 3 a 1.
Neste momento, centenas de torcedores do Al-Masry invadiram o campo e começaram a lançar pedras e garrafas contra os do Al-Ahly. No total, 74 pessoas morreram e centenas ficaram feridas, um registro trágico que tornou esta partida uma das mais mortíferas da história do futebol.
Milhares de simpatizantes da popular equipe do Cairo se reuniram nesta quinta-feira diante de sua sede com a intenção de se dirigir à Praça Tahrir, símbolo da revolta contra Mubarak, e seguir de lá para o Ministério do Interior.
Enquanto isso, em Port Said, uma cidade situada na entrada norte do canal de Suez, reinava nesta quinta-feira um ambiente de calma.
A televisão estatal anunciou durante a noite a mobilização do Exército na cidade "para evitar novos confrontos" entre os torcedores. Os correspondentes da AFP não perceberam nenhuma presença das forças armadas nesta quinta-feira no interior da cidade, apenas fora dela.
O Conselho Superior das Forças Armadas (CSFA), no poder no Egito desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011, decretou um luto nacional de três dias.
O Conselho Militar também realizou uma reunião de emergência para examinar "as medidas necessárias para enfrentar as consequências destes acontecimentos trágicos", segundo a agência oficial Mena.
O marechal Hussein Tantawi, que comanda o CSFA, tentou passar tranquilidade durante a noite, garantindo que a situação da segurança no país continua sendo "boa" e que "estas coisas podem ocorrer em qualquer lugar do mundo".
Todos estes anúncios não evitaram a emergência de um sentimento de indignação no país, e muitos falam de uma "conspiração contra a revolução" que acabou com o regime de Mubarak.
"É claramente um complô", segundo Mohammed, um jovem morador de Port Said. "Os soldados não fazem nada, deixam as pessoas passarem, não registram corretamente. Está claro que isto estava preparado", afirmou.
Os "ultras", conhecidos por serem os torcedores mais fervorosos do clube Al-Ahly, estiveram presentes durante a revolta de janeiro-fevereiro de 2011, e seguiram participando de manifestações hostis ao exército e à polícia, o que, nas redes sociais, alimenta as suspeitas de uma "vingança" contra eles.
A Irmandade Muçulmana, grande vencedora das últimas eleições legislativas, acusou os partidários do ex-presidente Mubarak de estarem por trás da violência.
Já a União Europeia pediu uma "investigação independente" sobre o massacre em Port Said.
* Matéria atualizada às 13h53