Militares em ação contra acampamentos: violência começou depois que polícia iniciou operação durante manhã de hoje para desmantelar acampamentos de protesto dos seguidores de Mursi (Mohamed Abd El Ghany/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2013 às 20h16.
Cairo - O governo do Egito decretou nesta quarta-feira estado de emergência e toque de recolher, uma tentativa de impedir que o caos se estenda pelo país, cenário de violentos distúrbios que deixaram cerca de 200 mortos.
A violência começou depois que a polícia iniciou uma operação durante a manhã de hoje para desmantelar os acampamentos de protesto dos seguidores do presidente deposto Mohammed Mursi nas praças de Rabea al Adauiya e Al Nahda, no Cairo.
Pouco depois, a Irmandade Muçulmana, grupo em que Mursi militou até chegar à presidência, convocou seus simpatizantes para protestarem contra a ação da polícia, o que transformou as ruas de várias cidades do país num campo de batalha.
No Cairo, houve manifestações de partidários da Irmandade em várias áreas, como no distrito de Nasser, onde fica a praça Rabea al Adauiya, e na praça Mustafa Mahmoud, no bairro de Mohandesin, onde houve confrontos dos islamitas com a polícia.
Segundo as autoridades, 21 delegacias e postos policiais, assim como edifícios governamentais, foram atacados por manifestantes durante o dia. Até a histórica Biblioteca de Alexandria, no norte do país, foi alvo de um ataque armado.
No sul, pelo menos sete igrejas foram atacadas, muitas delas incendiadas. As autoridades e a Irmandade se acusaram mutuamente de responsabilidade pelas agressões aos templos cristãos. Pelo menos 235 pessoas morreram e mais de 2 mil ficaram feridas durante os distúrbios em diferentes pontos do país, anunciou o governo.
A presidência, com o aval do Conselho de Ministros, decretou estado de emergência durante um mês por causa do "perigo que ameaça a segurança e a ordem nos territórios do país".
O estado de emergência esteve em vigor no Egito com a justificativa de luta contra o terrorismo de 1981 até maio de 2012, quando não foi renovado pela junta militar que governou o país desde a queda de Hosni Mubarak (1981-2011) até a ascensão de Mursi ao poder em junho do ano passado.
O governo também impôs o toque de recolher, por período indeterminado, vigente das 19h as 06h em 14 das 27 províncias do país, entre elas Cairo e Giza. Hoje, o horário foi atrasado, excepcionalmente, em duas horas para que a população pudesse retornar para suas casas a tempo.
O primeiro-ministro Hazem el Beblaui afirmou que a decisão de decretar o estado de emergência foi "muito difícil", mas obrigatória diante da escalada da violência. "O Estado tem que ser respeitado e deve impedir que os direitos dos cidadãos sejam agredidos por outros", acrescentou.
As forças do governo conseguiram tomar o controle da praça de Rabea al Adauiya, e pela manhã da praça de Al Nahda.
Com a ajuda de escavadeiras e veículos blindados, a polícia invadiu Rabea al Adauiya, e destruiu as barracas de acampamento e a estrutura montada na praça por partidários de Mursi, além de efetuar a prisão de manifestantes na região.
Existem informações confusas sobre a possível detenção de oito dirigentes da Irmandade Muçulmana, incluindo o vice-presidente do Partido Liberdade e Justiça, braço político do grupo, Essam al Arian; o clérigo Safwat el Hegazy e o líder da Irmandade, Mohammed al Beltagui.
Fontes de segurança confirmaram a prisão dos líderes em Al Adauiya, o que foi desmentido por Arian em seu perfil no Facebook, mas não se descarta que outra pessoa tenha acessado a conta do islamita para postar o desmentido.
Os graves incidentes de hoje já tiveram consequências políticas, com a renúncia do vice-presidente de Relações Internacionais, Mohamed ElBaradei.
Em carta dirigida ao presidente interino, Adly Mansour, ElBaradei justificou sua renúncia por não se sentir capaz de assumir a responsabilidade de decisões com as quais não concorda e que teme as consequências.