Manifestante pró-democracia segura pôster do presidente deposto Mohamed Mursi durante protesto (Khaled Abdullah/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2013 às 18h29.
Cairo - O Egito criticou nesta quinta-feira a decisão dos EUA de reduzir a ajuda militar e econômica ao país por causa da repressão à Irmandade Muçulmana, embora Washington tenha salientado que não está rompendo relações com o tradicional aliado árabe.
O governo instalado em julho pelos militares reiterou que o Egito não cederá à pressão dos EUA, e disse estranhar a decisão num momento em que o Cairo "enfrenta uma guerra contra o terrorismo".
No entanto, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse que Washington aceitaria retomar parte da ajuda "com base no comportamento" do governo provisório em restaurar a democracia.
Washington anunciou na quarta-feira que irá reter o envio de tanques, caças, helicópteros e mísseis ao Egito, além de 260 milhões de dólares em ajuda financeira, enquanto avalia a situação da democracia e dos direitos humanos depois da tomada do poder pelos militares.
A decisão, segundo autoridades dos EUA, demonstra a insatisfação norte-americana com os rumos do Egito desde a deposição do presidente islâmico Mohamed Mursi, em 3 de julho.
Mas o Departamento de Estado disse que não irá interromper toda a ajuda, e que será preservado o apoio militar para operações de combate ao terrorismo e pela segurança na península do Sinai, fronteiriça com Israel.
Além disso, continuarão sendo beneficiados programas que beneficiem a população egípcia em áreas como educação, saúde e desenvolvimento do setor privado.
Essa diferenciação ilustra um dilema dos EUA com relação ao Egito: o desejo de passar a impressão de estar promovendo a democracia, em contraponto à necessidade de manter a cooperação com uma nação estratégica.
O gabinete egípcio criticou o anúncio dos EUA, dizendo em nota que "o governo expressou estranheza com a decisão que foi emitida num momento tão vital, em que o Egito está enfrentando uma guerra contra o terrorismo".
Badr Abdleatty, porta-voz da chancelaria, também reagiu em tom desafiador. "A decisão foi errada. O Egito não vai se render à pressão norte-americana e continuará seu caminho rumo à democracia, conforme estabelecido pelo roteiro", disse ele a uma rádio, referindo-se aos planos do governo provisório com vistas à realização de eleições.
No entanto, o porta-voz também disse que o Egito tem "interesse em continuar as boas relações com os Estados Unidos".
A posição dos EUA expõe divergências com relação a outro aliado importante de Washington, a Arábia Saudita, que havia saudado a deposição de Mursi e despejado ajuda financeira ao novo governo.
Já Israel tenta conter sua frustração, temendo que a decisão norte-americana prejudique a influência dos EUA na região e afete o tratado de paz que o Estado judeu mantém desde 1979 com o Egito.
Kerry disse que os EUA desejam ter certeza de que a realização de eleições continua sendo uma prioridade para o governo provisório.
"De forma alguma este é um recuo da nossa relação ou um rompimento do nosso sério compromisso de ajudar o governo", disse ele a jornalistas durante visita à Malásia.
O gabinete egípcio decidiu na quinta-feira redigir um projeto de lei que regulamentaria as aglomerações públicas e os protestos pacíficos, o que pode complicar ainda mais as manifestações por parte dos grupos islâmicos e de outros oponentes.