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Economista: expectativas da classe média é desafio para AL

Para gerente do BID, a nova classe média vem com expectativas legítimas de consumo e em torno de uma melhor qualidade dos serviços públicos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 28 de março de 2014 às 17h05.

Costa do Sauípe - Os governos dos países latino-americanos precisam dobrar seus esforços para poder atender, além das antigas reivindicações de redução da pobreza e da desigualdade, as novas expectativas da classe média de melhor qualidade de serviços públicos e mais participação.

A advertência é do advogado e economista Alexandre Meira da Rosa, gerente do Setor de Infraestrutura e Meio Ambiente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e responsável por um dos principais documentos divulgados durante a 55ª Assembleia Anual de governadores da instituição, realizada na Costa do Sauípe, na Bahia.

"É fato que as cidades latino-americanas são não apenas maiores, mas também mais ricas e que há uma nova classe média que vem com expectativas legítimas não só de consumo, porque querem ter um carro ou ir de moto para o trabalho, mas também expectativas em torno de uma melhor qualidade dos serviços públicos", afirmou Meira da Rosa em entrevista à Agência Efe.

Para este especialista, "os governos da região estão hoje em um necessário ponto de inflexão: atender essas novas expectativas é o grande desafio que têm pela frente".

Uma pesquisa apresentada hoje na Costa de Sauípe por este gerente do BID reflete algumas das exigências da classe média da América Latina que, segundo dados do próprio organismo, já representa cerca de 30% da população da região, após ter passado de 103 milhões de pessoas em 2003 para 152 milhões em 2009.

Segundo o estudo, feito em cinco das maiores cidades da região, além de segurança, transparência e participação, o que mais preocupa a classe média é a mobilidade urbana, tanto que já não está entre suas prioridades serviços básicos como água, saneamento, eletricidade ou lixo.


"A principal mensagem desta pesquisa é de que a infraestrutura urbana importa, e importa muito. A segunda mensagem é que os moradores das cidades querem e podem participar das decisões dos governos locais", afirmou Meira da Rosa.

Para ele, o recado foi "vamos ouvir mais o povo", e essa mesma mensagem foi transmitida pelas manifestações do ano passado no Brasil por melhores serviços públicos.

"Foram pessoas mobilizadas pelas redes sociais, que são hoje um instrumento muito poderoso, que saíram às ruas em massa para protestar contra um aumento de 20 centavos na tarifa do ônibus", disse o gerente do BID.

De acordo com o especialista, quando a população das grandes cidades pede transparência, o que quer é ter uma voz mais ativa na decisão dos investimentos em infraestrutura.

"É um desejo dessa nova sociedade - vamos chamá-la assim porque não é só a nova classe média - por mais participação nas decisões", disse.

O economista acrescentou que se o transporte é o que mais preocupa a classe média, isso se deve ao fato de ser o serviço mais afetado pelos problemas de mobilidade urbana.

"A classe média é que dirige seu carro até o trabalho e sente que as ruas estão cada vez mais engarrafadas e que a mobilidade está impossível. Por isso, é natural que ela sinta a necessidade de um transporte público de qualidade. As classes de renda mais baixa já utilizam o transporte público e também têm a expectativa de um transporte público de mais qualidade", afirmou.


É por isso que se pode dizer, acrescentou, "que um dos grandes desafios de investimento na América Latina é em mobilidade urbana".

"Acho que haverá muito em breve um consenso de toda a sociedade de que nossas cidades não podem continuar com os níveis de imobilidade de hoje".

O gerente do BID acrescentou que o processo de urbanização pelo qual a América Latina passou nos últimos 50 anos gerou benefícios econômicos, mas também muitos desafios de infraestrutura, diante da necessidade de oferecer serviços públicos a uma população que cresceu muito rápido.

Por isso, as cidades terminaram concentrando a atividade econômica e o emprego da região, mas também os maiores problemas, como desigualdade e desemprego, disse.

"Os grandes centros urbanos latino-americanos são na realidade um microcosmo de nossas sociedades. A existência dessas desigualdades, desses problemas são, um pouco, um reflexo de nossa própria região", afirmou.

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