O consumo dos americanos e o aumento nos gastos do governo federal sustentam o crescimento econômico dos EUA, enquanto inflação e decisões do Federal Reserve continuam a influenciar o cenário. (Wikimedia Commons)
Redator na Exame
Publicado em 30 de outubro de 2024 às 10h53.
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos registrou um crescimento de 2,8% no terceiro trimestre de 2024, conforme divulgado pelo Departamento de Comércio nesta quarta-feira, 30. Esse avanço anualizado, ajustado para inflação e sazonalidade, ficou abaixo da previsão de 3,1% esperada por economistas consultados pela Dow Jones e também da expansão de 3,0% do segundo trimestre. Embora o crescimento tenha ficado aquém das expectativas, ele ainda demonstra uma resiliência considerável da economia americana diante de taxas de juros elevadas e preocupações persistentes sobre a inflação.
O crescimento no terceiro trimestre foi impulsionado principalmente por uma elevação significativa no consumo dos americanos e um aumento expressivo dos gastos governamentais, especificamente os gastos do governo federal, que registraram alta de 9,7%. Entre esses gastos, destacaram-se as despesas com defesa, que aumentaram 14,9%, refletindo uma política de investimentos em segurança. O consumo pessoal, responsável por cerca de dois terços do PIB, subiu 3,7%, marcando o maior avanço desde o primeiro trimestre de 2023 e contrariando previsões de desaceleração. Esse desempenho revela uma confiança dos consumidores e uma capacidade de manter os gastos, mesmo em um contexto de juros mais altos e restrições econômicas.
Por outro lado, as importações, que cresceram 11,2%, tiveram um efeito moderador no resultado final, uma vez que as importações, que representam um custo nas contas do PIB, praticamente equilibraram o crescimento das exportações, que subiram 8,9%. A balança comercial, portanto, desempenhou um papel relevante no crescimento econômico, embora não suficiente para aumentar a taxa final do PIB além das expectativas.
A divulgação do PIB ocorre em meio a expectativas de que o Federal Reserve (Fed) reduza novamente sua taxa de juros de curto prazo em mais 0,25 ponto percentual na próxima reunião, marcada para o dia 7 de novembro. Embora o desempenho do PIB tenha sido sólido, a inflação, embora em queda, ainda está acima da meta do banco central americano, o que pressiona as decisões da política monetária. Desde meados de 2022, a inflação nos EUA vem apresentando sinais de desaceleração.
O índice de preços de consumo pessoal (PCE), indicador preferido do Fed para monitorar a inflação, subiu 1,5% no trimestre, bem abaixo da meta de 2% definida pelo banco central e significativamente abaixo do aumento de 2,5% registrado no trimestre anterior. Já o núcleo do PCE, que exclui os preços de alimentos e energia — elementos voláteis no índice geral —, avançou 2,2%, permanecendo um pouco acima do esperado. As pressões inflacionárias ainda são uma preocupação, mas o ritmo de desaceleração nos preços sugere que o Fed poderá reduzir juros de forma controlada, buscando um equilíbrio entre crescimento e controle da inflação.
Esse cenário de crescimento ocorre em meio a uma acirrada disputa presidencial nos EUA, com Kamala Harris, vice-presidente e candidata democrata, enfrentando o ex-presidente republicano Donald Trump. Harris, que tem destacado a força e resiliência da economia americana como um dos principais argumentos de campanha, utiliza o crescimento do PIB como uma prova da competência da administração atual, uma vez que a economia dos EUA cresce agora por dez trimestres consecutivos. Trump, no entanto, critica fortemente a gestão econômica da administração Harris-Biden, usando a alta inflação como um ponto central em seus ataques, lembrando que os preços alcançaram um dos maiores picos nas últimas décadas sob o atual governo.
A taxa de poupança pessoal dos americanos desacelerou para 4,8% no terceiro trimestre, em comparação com os 5,2% registrados no segundo trimestre, refletindo o uso de economias e crédito por parte dos consumidores para manter os níveis de consumo. Este movimento é um indicador da resiliência do consumidor, mas também sugere que uma parte significativa das compras está sendo financiada por crédito e poupança acumulada, o que pode ser insustentável no longo prazo, dependendo da evolução dos preços e da capacidade de poupança da população.
Apesar do cenário de crescimento, a inflação acumulada ainda serve como munição para a campanha de Trump, que afirma que o governo atual deixou os preços subirem ao maior patamar desde os anos 1980, um ponto frequentemente lembrado em seus discursos de campanha. Já a campanha democrata se posiciona ao lado do crescimento contínuo do PIB, atribuindo a recuperação a uma série de políticas econômicas que promoveram resiliência e desenvolvimento sustentado.