Funcionários usam roupas de proteção: ao mesmo tempo que têm de enfrentar o Ebola, países foram abalados pela queda do valor de mercado das matérias-primas (Dominique Faget/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2015 às 10h47.
Dacar/Monróvia/Conacri - No átrio de mármore do hotel Mammy Yoko, em Freetown, o gerente Nuno Neves avistou algo que não tinha visto desde que o vírus do Ebola atingiu Serra Leoa há nove meses: empresários estrangeiros.
A rede Radisson Blu abriu o hotel de quatro estrelas em abril para atender investidores em uma das economias de mais rápido crescimento da África. Um mês depois, o Ebola atravessou a fronteira com a Guiné, e os investidores fugiram.
Durante meses Serra Leoa ficou isolada do mundo em meio ao pânico pelo pior surto registrado até hoje da febre hemorrágica, que já matou mais de 9.500 pessoas nesse país, na Guiné e na Libéria, e infectou mais de 23.500.
Nove das 11 companhias aéreas que servem Freetown, incluindo a British Airways, suspenderam voos. Mineradoras tiraram do país os empregados estrangeiros e os bancos restringiram o crédito para empresas locais.
Para evitar o fechamento, Neves reduziu a jornada de trabalho dos funcionários e os salários. O que salvou o hotel de 170 quartos foi o afluxo de trabalhadores humanitários em outubro.
Com as taxas de infecção em ligeiro declínio, os investidores começaram a falar sobre a reconstrução pós-Ebola. Neves tem observado o retorno dos empresários, que não apareciam desde a inauguração do hotel.
"Eles não trazem suas equipes. Só vêm para ver o que está acontecendo e, em seguida, vão embora", disse, acrescentando que o mantra 'business as usual' continua distante.
"Este será um ano focado no Ebola. Primeiro, a luta para acabar com Ebola e, depois, a reconstrução." Para Serra Leoa, Guiné e Libéria, o momento é terrível.
Ao mesmo tempo que têm de enfrentar o Ebola, esses países foram abalados pela queda do valor de mercado das matérias-primas: o preço do minério de ferro, maior produto de exportação da Libéria e de Serra Leoa, caiu praticamente pela metade no ano passado.
Entre o Ebola e a baixa das commodities, o Banco Mundial estima que os três países vão perder pelo menos 1,6 bilhão de dólares em produção este ano, ou mais de um décimo de seus PIBs combinados.
Serra Leoa, o mais afetado pelo Ebola, também tem sido o mais atingido economicamente. Depois de um crescimento de 11 por cento em 2013, a previsão é que a sua economia, que totaliza 5 bilhões de dólares, se contraia 2,5 por cento este ano.
Seus dois maiores empregadores, a Africa Minerals e a London Minerals, suspenderam a produção de minério de ferro na sequência da queda de preços.
Serra Leoa tem mais da metade de seus 6 milhões de habitantes vivendo na pobreza e o Ebola já destruiu mais de 180.000 postos de trabalho, pois causou grandes danos à agricultura e ao setor de serviços, de acordo com o Banco Mundial.