Pessoas caminham por rua em Diaobe, Senegal: país anunciou a cura do último caso de ebola confirmado (Seyllou/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2014 às 16h17.
Monróvia - Impotência na Libéria, alívio relativo no Senegal: os países africanos atingidos pela epidemia de ebola tentam desesperadamente frear o avanço incontrolável do vírus.
"Estamos aterrorizados. Os doentes chegam em grande número", declarou nesta quarta-feira Sophie Jan, uma porta-voz da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Libéria.
No centro anti-ebola de Monróvia, os doentes continuam a chegar sem cessar, enquanto a Libéria é atualmente o país mais atingido pela epidemia.
Na terça-feira, o ministro da Defesa da Libéria, Brownie Samukai, declarou em discurso nas Nações Unidas que seu país "enfrenta uma séria ameaça a sua existência nacional". A doença agora "está se propagando como um incêndio fora de controle, devorando tudo em seu caminho", afirmou em tom de desespero.
A fim de coordenar sua ajuda aos países africanos atingidos pela epidemia, a Comissão Europeia organizará na segunda-feira uma reunião com especialistas e ministros. A Comissão anunciou na semana passada o desbloqueio de 140 milhões de euros para reforçar os serviços de saúde nos países afetados.
O surto, o pior desde a identificação desta febre hemorrágica em 1976, fez 2.296 mortos de um total de 4.293 casos registrados. Destes, 1.224 mortes foram na Libéria, de acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) até 6 de setembro.
Quatro países do oeste africano lutam contra o vírus: Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria.
Em Serra Leoa, onde cerca de 500 pessoas morreram, espera-se um aumento do número de vítimas por ocasião de uma operação particularmente radical. As autoridades anunciaram um confinamento a domicílio de seis milhões de pessoas a partir de 19 de setembro por 72 horas.
"Nós prevemos um aumento de 5 a 20% do número de caso durante esta tentativa de romper o canal de transmissão", explicou Steven Ngaoja, que dirige o centro governamental anti-ebola.
A epidemia também devasta a economia. A taxa de crescimento de Serra Leoa deverá passar de 11,3% a 7%.
O Banco Mundial também prevê um recuo da economia da Guiné, cujo crescimento deve passar de 4,5% a 3,5%.
Para o alívio das autoridades locais, o Senegal anunciou a cura do único caso confirmado de ebola no país, um estudante guineense que foi tratado em um hospital da capital senegalesa.
O Senegal, depois de vários alarmes falsos, tornou-se o quinto país no final de agosto afetado pela epidemia, com a descoberta do caso do estudante que entrou no país pouco antes do fechamento das fronteiras com Guiné em 21 de agosto.
Medo da morte
Em Monróvia, a situação continua dramática nesta quarta-feira, confirmando que o vírus encontra terreno particularmente fértil em países com infra-estrutura de saúde debilitada.
Um paciente que mal se mantinha em pé teve seu acesso negado a um centro de tratamento, já superlotado de doentes.
"Eu vim para cuidar de mim, mas eles me disseram que não há mais espaço. Tenho dores de cabeça e febre. Vou para casa", disse à AFP, sob o olhar dos curiosos.
Perto dali, uma mulher suplica: "Senhor, ajude-nos a não acabar como este homem e dê força a ele para que possa chegar a sua casa".
Muitos na capital pedem o reforço das medidas preventivas. Essas chamadas têm aumentado desde o anúncio na segunda-feira pela OMS de que "vários milhares de novos casos de ebola na Libéria são esperados nas próximas três semanas."
"Emmanuel, não saia de casa hoje. Não deixa ninguém entrar", pede a seu filho mais velho Kluboh Johnson, uma mulher de 45 anos de idade prestes a ir para o trabalho.
"Eu estou com medo. Não sei o que fazer. Será que vamos morrer?", pergunta.
A organização das Nações Unidas reconheceu na terça-feira que seria impraticável impedir a propagação do vírus em áreas onde ela "aumenta exponencialmente", como em Monrovia, e que é uma prioridade em primeira instância "reduzir a transmissão".
A fundação Bill e Melinda Gates anunciou nesta quarta-feira a doação de 50 milhões de dólares "para acelerar as operações de emergência".
Além disso, preocupados com o risco de contaminação, alguns pilotos da Air France, após comissários de bordo, se recusam a realizar voos em direção a países atingidos pela doença.