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É falso que Itália tenha registrado 232 mortes de crianças pela covid-19

O governo italiano não havia registrado óbitos de pessoas com menos de 30 anos até o dia 24 de março

Itália: país é o mais afetado pela pandemia do coronavírus na Europa (Stefano Montesi - Corbis/Getty Images)

Itália: país é o mais afetado pela pandemia do coronavírus na Europa (Stefano Montesi - Corbis/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 25 de março de 2020 às 20h32.

Última atualização em 25 de março de 2020 às 21h26.

São falsas as postagens segundo as quais a Itália registrou a morte de 232 crianças na atual pandemia de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Até o dia 24 de março, o governo italiano ainda não havia registrado óbitos de pessoas com menos de 30 anos.

Essa verificação foi realizada com base em consultas a diversos documentos oficiais de diferentes órgãos do governo da Itália.

O post que foi objeto desta verificação foi escrito no Facebook por um usuário à 1h22 da manhã desta quarta-feira, 25 de março. O texto dizia que “morreram 232 crianças num dia na Itália e o demente manda as crianças voltarem para a escola.”

A postagem era uma referência ao pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, na noite de 24 de março. O mandatário minimizou a pandemia de covid-19 e sugeriu que os governadores deveriam descumprir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre elas a de fechar escolas e universidades.

Outros posts de mesmo teor foram encontrados pelo Comprova no Facebook. Esses, no entanto, traziam outra informação, que as supostas 232 mortes de crianças teriam ocorrido em um dia com 793 mortes por covid-19 na Itália.

O Comprova verificou uma postagem feita por um perfil pessoal no Facebook.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para fazer a verificação, o Comprova procurou, inicialmente, os dados oficiais publicados pelo Ministério da Saúde da Itália. Como mostram os relatórios diários da pasta, de fato houve um dia em que o país teve 793 mortes provocadas pelo novo coronavírus. Isso ocorreu entre os dias 20 de março, quando o total de óbitos era de 4.032, e 21 de março, quando o total chegou a 4.825 mortes.

Diante desses números, a imprensa registrou que aquele fora o dia, até então, com mais mortes no país europeu. Uma rápida pesquisa no Google com os termos “793 mortes Itália” mostra diversos links semelhantes com o registro desse fato.

Desde então, a Itália registrou um total de 651 mortes em 22 de março, 601 no dia 23, 743 no dia 24 e 683 nesta quarta-feira, 25, chegando ao total de 7.503 óbitos.

Em seguida, o Comprova foi atrás do número de mortes de crianças italianas por causa da covid-19.

Na Itália, os dados a respeito das mortes provocadas por covid-19 são também congregados pelo Instituto Superior de Saúde (Istituto Superiore di Sanità-ISS), órgão técnico do Serviço Nacional de Saúde (Servizio Sanitario Nazionale) italiano, equivalente ao Sistema Único de Saúde (SUS) existente no Brasil.

Desde 28 de fevereiro, o ISS coordena um sistema de informações abastecido pelos dados dos governos regionais e locais italianos. Todos os dias, esse sistema de vigilância integrada divulga neste site informações consolidadas a respeito do andamento da pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Segundo o mais recente relatório, disponível tanto em italiano quanto em inglês e publicado em 25 de março, a Itália tinha 6.157 mortes provocadas pela covid-19, sendo que nenhuma delas era de crianças. Na realidade, 100% dos óbitos registrados na Itália, segundo o relatório do ISS, foram de pessoas com 30 anos ou mais.

Os dados do ISS italiano usam uma metodologia diferente daquela utilizada pelo Ministério da Saúde da Itália para consolidar os dados. Dessa forma, podem haver discrepâncias entre os relatórios.

Como afirma o ISS italiano na nota técnica que acompanha seu relatório diário, os dados coletados “estão em fase de consolidação contínua e, como é previsível em situações de emergência, algumas informações estão incompletas.”

O órgão governamental informa ainda que diferenças nos dados ocorrem principalmente por causa de eventuais atrasos entre a confirmação do diagnóstico e a inclusão da informação na plataforma oficial que congrega os dados.

O Comprova entrou em contato com o usuário que fez a postagem no Facebook referente ao discurso de Bolsonaro, solicitando a fonte de informação. O usuário não respondeu ao contato e, após receber a mensagem, apagou o post. Naquela altura, o conteúdo já havia sido compartilhado mais de 38.000 vezes.

Viralização

Outras duas postagens encontradas pelo Comprova no Facebook e feitas em 21 de março continuam no ar. Juntas, tiveram quase 7.000 compartilhamentos.

O jornal Observador e o site de fact-checking Polígrafo, ambos de Portugal, e o site brasileiro Aos Fatos também verificaram conteúdos com esses números a respeito da pandemia de covid-19 na Itália.

*Coalização de 24 veículos de comunicação, incluindo a EXAME, para verificar informações falsas que circulam pelas redes sociais sobre o novo coronavírus. Esta checagem foi realizada pela equipe do Estadão.

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