MANILA, FILIPINAS: cerca de 6.000 já foram mortos desde que a política anti-drogas do presidente Rodrigo Duterte começou em junho / Dondi Tawatao/Getty Images
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2016 às 05h57.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h46.
Afaga com uma mão, bate com a outra. É com as duas mãos, separadas, que o presidente filipino Rodrigo Duterte tem levado as políticas interna e externa das Filipinas. Hoje, ele começa uma visita de 2 dias ao Camboja, onde deve se reunir com o rei Norodom Sihamoni e o primeiro ministro Hun Sen, antes de se ir para Singapura. Na viagem, Duterte deve reafirmar o compromisso com o cumprimento da lei e um acordo de paz em relação aos conflitos que assombram o Mar do Sul da China.
O Camboja é um tradicional aliado da China, com quem as Filipinas disputam a posse de algumas ilhas e recifes de coral na região. Em julho, um tribunal internacional decidiu em favor das Filipinas, mas a China não reconhece a decisão. Uma aproximação entre o Camboja e as Filipinas pode levar a algum tipo de resolução do conflito antes que as forças envolvidas se agravem.
Nas Filipinas os problemas têm outra forma de serem solucionados. Desde que Duterte assumiu a presidência em junho, a polícia matou, pelo menos, 2.000 pessoas envolvidas com tráfico ou consumo de drogas. O número sobe para 6.000 pessoas se contabilizarmos os assassinatos cometidos por grupos de extermínio — uma média de 37 mortes por dia.
Duterte clamou por “matá-los todos”. Os que não morreram também viraram estatística: o governo já bateu em 3,5 milhões de residências (nos bairros nobres, ao invés de armas, a polícia apresenta folhetos que informam o que acontece com quem é pego usando drogas), forçando 727.600 usuários e 56.000 traficantes a se render, o que lotou as cadeias.
As Filipinas são a maior economia do sudeste asiático e registraram um crescimento de 7,1% no PIB do terceiro trimestre de 2016, com baixa inflação e taxas de desemprego. A aprovação do presidente passa de 80%. Com isso, o apreço pelos direitos humanos não deve avançar tão cedo. A mão que assina acordos de paz não é a mesma que puxa o gatilho.