Washington - Duas enfermeiras americanas foram declaradas curadas do ebola nesta sexta-feira. Uma delas recebeu alta, deixou o hospital e foi recebida pelo presidente americano, Barack Obama, na Casa Branca.
A boa notícia sobre as duas enfermeiras, que contraíram o ebola enquanto cuidavam de um paciente liberiano no Texas (sul), ocorre enquanto a cidade de Nova York lidava com seu primeiro caso confirmado de infecção pela febre hemorrágica.
Vestindo camiseta azul turquesa e aparência saudável, Nina Pham sorriu durante a coletiva concedida na parte externa do Centro Clínico dos Institutos Nacionais de Saúde (NHI, na sigla em inglês) em Bethesda, Maryland.
"Eu me sinto afortunada e abençoada por estar aqui hoje", disse Pham aos jornalistas, expressando sua gratidão àqueles que rezaram por ela e cuidaram dela enquanto esteve doente.
"Estou em processo de recuperação, enquanto reflito sobre os muitos outros que não foram tão afortunados", prosseguiu.
"Embora não tenha mais ebola, eu sei que pode demorar um pouco até eu recuperar as forças", afirmou a jovem.
A enfermeira não tomou nenhum medicamento experimental contra o ebola enquanto esteve isolada no hospital de pesquisas especializado em Bethesda, Maryland, afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas e Alergias.
Pham foi a primeira trabalhadora de saúde a ser infectada com ebola nos Estados Unidos, e pegou a doença do paciente liberiano Thomas Eric Duncan, que deu entrada no Hospital Presbiteriano de Dallas em 28 de setembro.
Outra enfermeira colega dela, Amber Vinson, também foi infectada. Ela também se curou, mas ainda não foi liberada do Hospital da Universidade Emory, em Atlanta, Geórgia (sul).
"Os exames não detectam mais o vírus no sangue dela", destacou o hospital, acrescentando que a jovem "fazia bons avanços", mas que permaneceria na unidade de doenças infecciosas graves para prosseguir com os cuidados de suporte até segunda ordem.
Pham, de 26 anos, disse que seus pensamentos estão com a amiga, Amber, e com outro profissional de saúde, o médico americano Craig Spencer, diagnosticado com ebola na quinta-feira, em Nova York, após voltar da Guiné.
Ela também agradeceu ao médico Kent Brantly, o missionário americano que desenvolveu a doença na Libéria durante o verão e que doou plasma para ajudá-la em sua recuperação.
Horas depois de deixar o hopsital, a jovem foi recebida, nesta sexta, no Salão Oval da Casa Branca, pelo presidente americano, Barack Obama, que a abraçou.
Consultado durante uma coletiva de imprensa, o porta-voz do executivo, John Earnest, afirmou que Obama, que não estava "preocupado em absoluto" com a ideia do encontro, quis saudar o trabalho desta jovem, "que ficou doente cuidando de um paciente com ebola".
"Ela não o fez para ganhar aumento de salário ou para se destacar, o fez porque era o seu trabalho", afirmou Earnest. "O fato de estar curada é uma notícia fantástica", acrescentou.
Paciente liberiano
O diagnóstico confirmando que Pham tinha ebola foi anunciado em 12 de outubro, e o de Vinson, no dia 15.
Pham foi inicialmente internada em Dallas, no mesmo hospital onde trabalhava, e foi transferida para o Centro Clínico dos Institutos Nacionais de Saúde no dia 16.
As duas tiveram contato direto com Duncan, que no mês passado viajou de sua Libéria natal para o Texas para visitar a família, antes de adoecer e morrer de ebola em 8 de outubro.
Pham e Vinson trabalhavam na unidade de cuidados intensivos, embora continue o mistério de como exatamente foram infectadas.
Segundo os Centros de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), uma "quebra de protocolo" seria a causa, e desde então, o órgão emitiu normas mais duras para vestir os trajes de proteção durante o tratamento de pacientes com ebola.
A doença é transmitida através do contato direto com suor, vômito, sangue ou outros fluidos corporais de uma pessoa infectada.
Funcionários sanitários correm um risco particular de contrair ebola.
Na quinta-feira, foi confirmada a infecção de Spencer com ebola, depois de tratar pacientes no oeste da África como membro da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Um total de nove pessoas já foram tratadas de ebola nos Estados Unidos e todas, com exceção de Duncan, sobreviveram.
Mais de 4.800 pessoas morreram vítimas da doença desde o começo do ano, sobretudo em Libéria, Guiné e Serra Leoa, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Não há medicamentos no mercado para tratar o ebola e nenhuma vacina aprovada para evitar o contágio pelo vírus mortal, descoberto em 1976.
Segundo a OMS, testes com a vacina contra o ebola poderiam começar em dezembro no oeste da África e centenas de milhares de doses podem ser produzidas em meados de 2015.
-
1. O que é ebola?
zoom_out_map
1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
-
2. A origem
zoom_out_map
2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
-
3. A epidemia atual
zoom_out_map
3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
-
4. Os sintomas
zoom_out_map
4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
-
5. Transmissão
zoom_out_map
5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
-
6. O tratamento
zoom_out_map
6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
-
7. Como se proteger
zoom_out_map
7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
-
8. Epidemia global
zoom_out_map
8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
-
9. Vacina experimental
zoom_out_map
9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
-
10. Fronteiras fechadas
zoom_out_map
10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
-
11. Não há mercado para a vacina
zoom_out_map
11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
-
12. Medicação
zoom_out_map
12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
-
13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
zoom_out_map
13/13 (Reuters)