Mario Draghi: o primeiro-ministro pode renunciar já na noite desta quarta-feira (Massimo Di Vita/Archivio Massimo Di Vita/Mondadori Portfolio/Getty Images)
Da redação, com agências
Publicado em 20 de julho de 2022 às 17h19.
Última atualização em 20 de julho de 2022 às 18h07.
O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, pode renunciar em breve ao cargo, apesar de ganhar um voto de confiança no Senado nesta quarta-feira, 20, pondo fim a um governo de unidade nacional que durou quase um ano e meio.
Draghi ganhou a votação, mas as abstenções em massa de três grandes partidos indicaram que ele não tem mais o apoio da maioria do Parlamento. Draghi pode renunciar já na noite desta quarta-feira.
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Draghi inicialmente apresentou sua renúncia no fim da semana passada, depois que o Movimento 5 Estrelas (M5S), grupo relevante em sua coalizão, boicotou uma votação no Senado.
O M5S e seu líder, Giuseppe Conte, já vinham criticando Draghi por sua postura de apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia e a inflação alta.
Tendo ganhado força na política italiana após a crise econômica dos anos 2010 e com pautas vistas como antissistema, Conte antecedeu Draghi como premiê, de 2018 a 2021. Ao sair do cargo, Conte manteve seu grupo na coalizão de Draghi, figura já conhecida na Europa por seu período à frente do Banco Central Europeu (BCE) durante a última crise do euro.
Mas o boicote na semana passada abriu de vez o racha na coalizão.
Nesta quarta-feira, o M5S voltou a se abster de apoiar Draghi na moção de confiança. O grupo foi acompanhado pelo Liga Norte, de Matteo Salvini, de extrema-direita, e pelo Forza Italia, do ex-premiê de direita Silvio Berlusconi.
Na semana passada, o presidente italiano, Sergio Mattarella, não aceitou a renúncia e disse a Draghi para determinar se havia apoio suficiente no Legislativo para que ele conseguisse uma maioria.
Agora, a rejeição dos três partidos de direita no Senado hoje deve fazer com que o governo fique inviável e Draghi renuncie de vez.
Uma saída de Draghi, visto como figura de credibilidade pelos mercados, aumenta as incertezas sobre a situação econômica na Itália e, por tabela, em toda a zona do euro. Sua saída do governo também pode afetar o recebimento pela Itália de recursos de recursos do pacote de mais de € 700 bilhões para recuperação da União Europeia pós-pandemia.
O sistema político na Itália é parlamentarista, com o presidente chefe de Estado, mas o primeiro-ministro chefe de Governo, tendo de ter uma coalizão que forme maioria no Parlamento.
Como presidente, Sergio Mattarella tem somente a prerrogativa de aceitar a renúncia de Draghi e pedir ao Parlamento que forme uma nova coalizão (ou convocar novas eleições).
Se Draghi sair, os parlamentares precisaram entrar em um acordo para encontrar um novo líder que mantenha a coalizão por mais um ano, até as eleições oficiais marcadas para junho de 2023.
Se isso não ocorrer, eleições antecipadas poderiam ser convocadas, ocorrendo ainda neste ano.
A opção por eleições antecipadas é vista por boa parte da elite política como problemática para a estabilidade do país, criando turbulências na política e na economia italianas em um momento altamente delicado.
A Itália, para além da crise política em casa, está no centro também da crise econômica e energética em meio à guerra. O país recebe 40% de seu gás importado da Rússia, um dos países com maior dependência. A Itália já teve significativa redução de fornecimento russo neste ano, no que é visto como uma retaliação do governo Vladimir Putin contra membros da União Europeia pelo apoio à Ucrânia.
A inflação italiana superou 7%, puxada pela alta nos preços de energia que afetam toda a Europa com a guerra.
Com a inflação em alta pelo mundo, a sucessora de Draghi no Banco Central Europeu, Christine Lagarde, também deverá confirmar nesta quinta-feira o primeiro aumento da taxa de juros do Banco Central em mais de uma década.
O novo cenário de juros fará a Itália enfrentar custos mais altos para refinanciar sua dívida, em 150% do Produto Interno Bruto (PIB).
(Com Estadão Conteúdo)
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