O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente dos EUA, Donald Trump (Jonathan Ernst/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 12 de junho de 2018 às 01h15.
Última atualização em 12 de junho de 2018 às 01h29.
São Paulo - Em um momento histórico, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, realizaram na noite desta segunda-feira (horário de Brasília ) a primeira rodada das negociações entre os países em Singapura.
Esta é a primeira cúpula entre governantes dos dois países após décadas de tensões por causa da Guerra da Coreia (1950-1953), incluindo dezenas de negociações frustradas sobre a desnuclearização da Coreia do Norte.
HISTORY. #SingaporeSummit pic.twitter.com/XF3GNzzBui
— Dan Scavino Jr. Archived (@Scavino45) June 12, 2018
A reunião, impensável até poucos meses, aconteceu em Singapura e tem como objetivo a interrupção do programa nuclear norte-coreano. Seu sucesso, no entanto, dependerá da disponibilidade dos líderes encontrarem um caminho para um dilema e tanto: se, por um lado, o governo dos EUA busca o fim do programa nuclear do país asiático, o regime norte-coreano quer a redução da presença militar americana na região.
O programa nuclear norte-coreano é uma dor de cabeça para a comunidade internacional há décadas. Contudo, desde que Kim assumiu a liderança do regime, os testes balísticos e nucleares tornaram-se ainda mais frequentes. O objetivo da estratégia era o de usar o de transformar esse isolado país em uma potência nuclear, fazendo dele um ator capaz de se sentar à mesa de negociações com outros poderosos, como os EUA, em pé de igualdade.
Desde que Trump passou a ocupar a presidência, a tensão entre os países se tornou ainda mais urgente e o mundo esteve à beira da catástrofe por vários momentos. No início deste ano, porém, uma mudança na postura de Kim sinalizou ao mundo a sua disponibilidade em negociar. As provocações e as ameaças tornaram-se promessas de uma cúpula que se consolidou nesta madrugada (horário de Brasília).
Abaixo, veja os principais momentos do encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un.
A cúpula, a primeira entre um presidente americano e um líder do regime em exercício, começou com um longo aperto de mão entre Trump e Kim, com as bandeiras dos países ao fundo. “O mundo inteiro está acompanhando esse momento”, disse Kim a Trump por meio de um intérprete, “e vão pensar que essa é uma cena de fantasia, um filme de ficção científica”.
“Estou me sentindo ótimo. Teremos uma grande discussão e teremos muito sucesso”, disse o presidente americano. “Superamos muitas velhas práticas, preconceitos e obstáculos para estar aqui”, respondeu Kim.
De acordo com uma especialista em linguagem corporal ouvida pela agência Reuters, os dois líderes tentaram dominar esse momento, disputando quem, afinal, estaria no controle da negociação. Ambos, no entanto, exibiam sinais de nervosismo.
Depois, a dupla se encontrou a sós (quer dizer, acompanhados apenas de seus tradutores) por pouco mais de 40 minutos. O conteúdo dessa conversa ainda não foi divulgado, mas o presidente americano foi visto repetindo “muito bem, muito bem” ao sair do cômodo.
Após uma caminhada pelos jardins do luxuoso Capella Hotel, na ilha de Sentosa, o republicano e o norte-coreano deram início a uma nova rodada de conversas, desta vez acompanhados de seus assessores mais próximos.
.@POTUS Trump, @SecPompeo, @AmbJohnBolton, and the U.S. delegation meet with North Korean leader Kim Jong Un and the #DPRK delegation at the #SingaporeSummit. pic.twitter.com/N1JUqVIceB
— Department of State (@StateDept) June 12, 2018
Do lado dos EUA, estavam presentes com o presidente americano o Secretário de Estado, Mike Pompeo, um dos principais articuladores dessa aproximação, e o chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly.
Do lado norte-coreano, um dos principais oficiais do regime, Kim Yong Chol (que visitou os EUA há poucas semanas), o ministro das Relações Exteriores, Ri Yong Ho, e um representante do Partido dos Trabalhadores, Ri Su Yong.
Perguntado se abriria mão de suas armas nucleares, Kim não respondeu os jornalistas, mas Trump aproveitou a deixa para dizer que “trabalhando juntos, vamos cuidar disso, vamos solucionar esse grande problema, esse dilema”.
O impacto desse encontro, independentemente do seu resultado, já é visto por especialistas como histórico. Especialmente para o povo norte-coreano. Jean H. Lee, do Wilson Center, avaliou que o encontro será celebrado no país, uma vez que tudo o que a Coreia do Norte desejava era ser tratada de igual para igual aos olhos da comunidade internacional.
“Era isso que Kim tinha em mente quando acelerou o desenvolvimento do programa nuclear”, avaliou ela à rede de notícias CNN, “é surpreendente ver que ele conseguiu exatamente isso e é assustador pensar que demos justamente o que ele queria”, pontuou.