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'Domingo Sangrento' na Irlanda do Norte completa 50 anos

O primeiro-ministro irlandês, Micheal Martin, tornou-se o primeiro líder da República da Irlanda a participar da cerimônia anual e depositou uma coroa de flores no local

Mural que representa as manifestações do "Bloody Sunday", no bairro católico de Bogside, em Londonderry (AFP/AFP)

Mural que representa as manifestações do "Bloody Sunday", no bairro católico de Bogside, em Londonderry (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 30 de janeiro de 2022 às 10h50.

Cinquenta anos depois da morte de 13 manifestantes na Irlanda do Norte em uma ação dos soldados, uma passeata homenageou neste domingo as vítimas do "Domingo Sangrento", um dos dias mais sombrios da história recente do Reino Unido.

Seguindo o mesmo percurso da manifestação pacífica pelos direitos civis que terminou em um banho de sangue em 30 de janeiro de 1972, a marcha reuniu parentes das vítimas e teve uma cerimônia diante do monumento em homenagem aos mortos no "Bloody Sunday".

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O primeiro-ministro irlandês, Micheal Martin, tornou-se o primeiro líder da República da Irlanda a participar da cerimônia anual e depositou uma coroa de flores no local.

"Estou aqui para homenagear as pessoas que o Estado britânico matou", declarou à AFP Michael Roach, um texano de 67 anos com raízes irlandesas. "Não haverá justiça até que os paraquedistas sejam levados à justiça por assassinato".

Outra manifestação foi convocada para a tarde, nas ruas de Derry - nome que os habitantes preferem, em vez do nome oficial de Londonderry, que consideram um sinal da dominação britânica -, para coincidir com o horário em que os paraquedistas do primeiro batalhão abriram fogo contra os manifestantes católicos.

O 'Bloody Sunday' ("Domingo Sangrento") levou muitos jovens católicos a abraçar o IRA (Exército Republicano Irlândês), um grupo paramilitar contrário à presença dos britânicos na ilha da Irlanda.

Apenas em 1998 foi assinado o Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa, que acabou com três décadas de um conflito que deixou 3.500 mortos.

O exército britânico alegou que os paraquedistas responderam aos tiros dos "terroristas" do IRA (Exército Republicano Irlandês), uma versão que foi repetida em um relatório preparado às pressas nas semanas seguintes ao massacre.

Apesar de todos os depoimentos que contradiziam esta versão, apenas em 2010 foi reconhecida oficialmente a inocência das vítimas: algumas foram baleadas nas costas ou quando estavam deitadas no chão, enquanto acenavam com um lenço branco.

Anistia

Após uma investigação mais longa, de 12 anos, e a mais cara já registrada no Reino Unido (quase 200 milhões de libras esterlinas, 268 milhões de dólares no câmbio atual), o então primeiro-ministro David Cameron fez um pedido oficial de desculpas por atos "injustificados e injustificáveis".

"Aconteceu há meio século, mas para nós parece que foi ontem", declarou George Ryan, de 61 anos, um historiador e guia na segunda maior cidade da Irlanda do Norte. Para ele, a perspectiva de um julgamento dos militares pelo 'Bloody Sunday' "parece mais improvável do que nunca, mas é mais importante do que nunca".

Nenhum soldado foi processado pelo "Domingo Sangrento". O caso aberto contra um deles foi abandonado por questões jurídicas e o governo britânico apresentou um projeto de lei para encerrar qualquer caso que possa ser aberto relacionado ao conflito, algo que todas as partes consideraram uma "anistia".

O juiz Mark Saville, que coordenou a investigação publicada em 2010, afirmou no sábado à BBC que "entende" o sentimento de que "a justiça ainda não foi feita".

Na entrada do bairro católico de Bogside, a frase "Não há justiça britânica" ocupa o espaço que antes delimitava a entrada de "Derry livre".

Problemas no horizonte

Há poucos dias, uma bandeira dos paraquedistas hasteada em um bairro leal à coroa britânica da cidade causou alvoroço. A questão chegou a ser discutida durante uma sessão no Parlamento, em Londres.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, classificou o "Domingo Sangrento" como um "dia trágico" e um "dos mais sombrios".

Nos últimos meses, as consequências do Brexit evidenciaram o frágil equilíbrio estabelecido pelo acordo de paz de 1998.

Os controversos dispositivos alfandegários, que para evitar uma nova fronteira terrestre com a Irlanda - mas que estabelecem uma fronteira marítima de fato com a Grã-Bretanha - estão sendo negociados atualmente entre Londres e Bruxelas.

As tensões comunitárias também aumentaram: durante distúrbios em Belfast no ano passado, os "muros da paz" que separam os bairros católicos e protestantes foram incendiados.

As eleições locais de maio serão decisivas para o delicado equilíbrio político instaurado. Com um retrocesso dos unionistas (favoráveis à permanência no Reino Unido), uma vitória dos republicanos parece factível. O Sinn Fein, que já foi o braço político do IRA, deseja a convocação de um referendo em um prazo de cinco anos sobre a reunificação da ilha.

 

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