Policiais ucranianos na cidade de Kharkiv, onde duas pessoas morreram na noite de sexta-feira durante confrontos entre ativistas pró-Moscou e nacionalistas (SERGEY BOBOK/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de março de 2014 às 11h29.
Kharkhiv - A crise na Ucrânia provocou duas mortes durante a noite em Kharkiv, um reduto de língua russa no leste do país, em um tiroteio entre nacionalistas ucranianos e manifestantes pró-Rússia, um dia antes do referendo sobre a anexação da Crimeia à Rússia.
Em Moscou, quase 50.000 pessoas saíram às ruas neste sábado contra a "ocupação" russa da Crimeia e a política do presidente russo, Vladimir Putin, em uma passeata provocada por um grupo de oposição.
Perto da praça moscovita da Revolução, no entanto, 15.000 pessoas manifestaram apoio à política do Kremlin.
O primeiro-ministro pró-Moscou da região autônoma da Crimeia, Serguei Axionov, jogou ainda mais lenha na fogueira na sexta-feira, quando pediu à comunidade de língua russa da Ucrânia que siga o exemplo e organize referendos para solicitar a integração à Federação Russa.
As novas autoridades de Kiev perderam a esperança sobre uma possível paralisação do processo de secessão da península do sul da Ucrânia, após o fracasso do encontro entre o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e seu colega americano, John Kerry.
A Rússia cedeu a península da Crimeia para a Ucrânia em 1954, quando as duas repúblicas integravam a União Soviética. Moscou, no entanto, mantém no porto Sebastopol a base de sua frota no mar Negro.
Tiroteio em Kharkiv
Em Kharkiv, importante centro industrial do leste do país, um militante pró-Moscou e um civil morreram em um tiroteio durante a noite de sexta-feira entre nacionalistas radicais e ativistas leais à Rússia.
Os militantes pró-Moscou afirmam que foram alvos de tiros quando estavam reunidos no centro da cidade, que foi capital da Ucrânia soviética entre 1917 e 1934. Segundo a polícia, a ação não provocou vítimas.
Mas em seguida os partidários de Moscou tentaram invadir um edifício no qual estavam as pessoas que consideravam responsáveis pelos tiros. Os ocupantes do prédio abriram fogo, segundo a polícia, que não informou se os ativistas de língua russa responderam.
Cinco pessoas ficaram feridas, incluindo um policial, que está em situação grave.
O edifício abrigava a sede de um grupo radical vinculado ao movimento paramilitar de ultradireita Pravy Sektor, presente nas barricadas de Kiev durante os três meses de protestos que terminaram com a destituição do presidente Viktor Yanukovytch.
Após várias horas de cerco, 30 integrantes do pequeno grupo se renderam às forças de segurança e libertaram três reféns.
No Parlamento ucraniano, o presidente interino, Olexander Turchynov, acusou a Rússia de organizar e financiar "há muito tempo provocações que resultam em assassinatos".
O porta-voz do movimento Pravy Sektor, Artem Skorovadski, denunciou uma "provocação planejada".
Moscou reagiu ao tiroteio de Kharkiv. O ministro russo para os Direitos Humanos, Konstantin Dolgov, pediu ao governo da Ucrânia que declare ilegais os grupos nacionalistas.
Ao mesmo tempo, a Rússia obteve uma vitória na disputa com o Ocidente depois de interceptar eletronicamente e apreender na sexta-feira um avião teleguiado (drone) americano de reconhecimento quando sobrevoava a Crimeia.
Acordo Ucrânia-UE em 21 de março
Os países ocidentais planejam diferentes iniciativas de apoio às autoridades de Kiev após o fracasso na tentativa de mudar a estratégia de Vladimir Putin.
"Putin não está pronto para tomar uma decisão sobre a Ucrânia antes do referendo", disse Kerry, antes de advertir que a posição russa "terá consequências".
O chefe da diplomacia britânica, William Hague, afirmou que chegou o momento da União Europeia adotar sanções mais duras contra a Rússia.
A Ucrânia assinará o trecho político do acordo de associação com a UE em 21 de março em Bruxelas, anunciou o primeiro-ministro do país, Arseni Yatseniuk, após uma reunião com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. A parte econômica será assinada "mais tarde".
Os membros do Conselho de Segurança da ONU pretendem votar neste sábado uma resolução de urgência contra o referendo da Crimeia, mas os diplomatas esperam que a Rússia utilize o poder de veto.
Os exercícios militares do exército russo nas imediações da fronteira com a Ucrânia provocam o temor de muitos ucranianos sobre uma possível intervenção da Rússia além da Crimeia.
Mas o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, afirmou que o país "não tem, e não pode ter, planos para invadir a região sudeste da Ucrânia".