Venezuelanos fazem fila no lado de fora de um supermercado estatal em Caracas, na Venezuela (Jorge Silva/Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2015 às 12h04.
Kevin Blanco se declara humilhado por ter que aceitar tomar remédio veterinário após um transplante de rim, devido à falta de medicamentos na Venezuela.
Segundo cálculos da Federação Farmacêutica, o país sofre de 70% de escassez de remédios.
A prednisona e o cellcept - imunossupressores que evitam a rejeição de órgãos transplantados - desapareceram das farmácias públicas e privadas.
Isso colocou em uma situação crítica centenas de pacientes que não podem suspender a medicação um dia sequer, sob o risco de perder o órgão transplantado pelo qual esperaram por anos.
"Quando a prednisona humana acabou, todo mundo começou a procurar a canina", afirma o presidente da Federação Farmacêutica, Freddy Ceballos.
"Estas pessoas estão correndo risco de vida", afirma por sua vez Francisco Valencia, presidente da Fundação Amigos Trasplantados, que apoia esses pacientes.
Blanco, de 47 anos e transplantado há 15, esteve sem os dois medicamentos por um mês até a última terça-feira, quando voltou a receber os remédios, mas durante esse período precisou consumir prednisona para animais.
"É humilhante saber que tua vida depende de um medicamento para animais", afirma Blanco, 47 anos, acrescentando que seu médico alertou que o uso do remédio veterinário seria "por sua conta e risco".
O governo de Nicolás Maduro - que não divulga cifras oficiais da falta de remédios desde fevereiro de 2014 - nega a falta de prednisona, indicando que em julho Cuba enviou um lote de 1,2 milhão de pílulas.
Mas, segundo o presidente da Federação Médica Venezolana, Douglas León Natera, muitos pacientes estão comprando antibióticos, esteroides e medicamentos tópicos em pet shops.
Por trás disso tudo, está uma seca de recursos devido à queda dos preços do petróleo.
A crise da saúde também se vê na falta de insumos hospitalares, como reativos para exames, o que levou à suspensão de várias cirurgias, em um país onde os marcapassos já são reutilizados.