As tensões entre adversários de Kadafi e membros do governo que apoiam os rebeldes podem frustrar as expectivas de se escolher um único líder que conduza a paz (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2011 às 22h19.
São Paulo - Com a iminente queda do ditador Muammar Kadafi, a pergunta que começa a tomar conta da Líbia é: e agora, quem assumirá o poder?
Em entrevista a agência de notícias Reuters, o líder rebelde Husam Najjair, por exemplo, declarou estar mais preocupado com a possibilidade de os insurgentes começarem a lutar entre si pelo controle da capital Trípoli, do que com a ameaça representada pela forças de segurança de Kadafi.
“A primeira coisa que a minha brigada fará é criar postos de controle para desarmar a população, incluindo os líderes rebeldes”, afirmou Najjair. “Caso contrário, será um banho de sangue. Todos os grupos querem controlar Trípoli”.
Ao mesmo tempo em que o fim da guerra parece estar cada vez mais próximo, ainda não existe uma figura unificadora que possa assumir o governo com a queda do ditador líbio. “Não há um líder que seja respeitado por todos os grupos rebeldes”, contou Kamran Bokhari, diretor da Stratfor Global Intelligence. Além de não ter as instituições tradicionais de governo, o que faria com que a transição fosse mais fácil, as diferenças étnicas e tribais representam outras complicações.
Neste momento, o líder rebelde mais importante é Mustafa Abdel Jalil, presidente do Conselho Nacional de Transição (NTC) – grupo formado por adversários de Kadafi, com sede na cidade oriental de Benghazi. O NTC é composto por antigos ministros de goverbo e conhecidos membros da oposição, que representam os nacionalistas árabes, os islâmicos, os secularistas, os socialistas e os homens de negócios.
Em fevereiro, depois que o governo usou a violência contra os manifestantes civis, Abdel Jalil renunciou ao cargo de ministro da Justiça. Contudo, por ser ex-membro do governo de Kadafi, ele sempre será visto com suspeita por alguns manifestantes. Mahmoud Jibril, uma espécie de primeiro-ministro dos rebeldes, e Ali Tarhouni, são outros nomes de destaque entre os insurgentes.
As tensões entre antigos adversários de Kadafi e membros do governo que passaram a apoiar os rebeldes depois das manifestações podem frustrar as expectivas de se escolher um único líder que conduza o processo de paz. Muitos rebeldes rejeitam veementemente a possibilidade de antigos aliados de Kadafi participarem do novo governo. Tal pensamento poderia, por exemplo, prejudicar os esforços para trazer de volta ao país pessoas capazes de realizar aquela que dizem ser a tarefa mais crítica de todas: a revitalização da indústria do petróleo.