Bandeira da Argentina: os incidentes de segunda-feira se somaram aos episódios de violência registrados durante a jornada eleitoral (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2015 às 17h18.
Buenos Aires - As turbulentas eleições em Tucumán e a repressão policial a um protesto por acusações de fraude eleitoral renderam críticas e questionamentos sobre a vitória do kirchnerismo nessa província argentina segundo a apuração parcial, a dois meses para o pleito presidencial.
"Sou totalmente contra a repressão", ressaltou nesta terça-feira o governador em fim de mandato de Tucumán, José Alperovich, após a polêmica gerada ontem pela atuação da polícia na capital provincial, que deixou pelo menos dez feridos.
Alperovich detalhou que, embora "a maior parte das pessoas tenha se expressado em paz", um grupo tentou invadir "a Casa do governo", arremessou pedras e inclusive se aproximou do edifício.
No entanto, ele comentou que os "excessos" policiais não têm explicação e enfatizou que instruiu a promotoria a investigar a origem das ordens de ataque aos manifestantes.
Também se pronunciaram contra o comportamento das forças de segurança o chefe do Gabinete de governo, Aníbal Fernández, e o candidato governista à presidência, Daniel Scioli.
Os incidentes de segunda-feira, que se somaram aos episódios de violência registrados durante a jornada eleitoral, como a queima de 42 urnas, aumentaram o tom das críticas dos partidos opositores, que pedem a abertura de todas as urnas para a apuração definitiva em meio à suspeita de fraude.
A apuração parcial, que foi interrompida ontem com 81,5% das mesas contabilizadas, atribui 54,4% dos votos ao candidato a governador da Frente para a Vitória, Juan Manzur, 14% a mais que o principal rival, José Cano, da aliança opositora Acordo para o Bicentenário.
"Se quiserem contar todos os votos, todas as urnas, que sejam bem-vindos. Nos lugares onde houve incidentes, se quiserem, que se repitam as eleições", disse nesta terça-feira Alperovich, para garantir a "tranquilidade" sobre o processo.
De acordo com o candidato presidencial conservador, Mauricio Macri, líder da Proposta Republicana (Pro), em declarações à rádio "La Red", "nunca pode ser um comício normal quando há fatos tão irregulares como ocupar escolas, agredir militares e queimar urnas, pois a sensação é que não houve eleição".
Apesar da polêmica gerada, o representante da Junta Eleitoral de Tucumán, Antonio Gandur, considerou nesta terça-feira "impossível" a anulação do pleito e negou que todas as urnas serão abertas, já que não foi "vista fraude" generalizada.
Em coletiva de imprensa, Gandur detalhou que na apuração definitiva, "a que tem valor jurídico", será seguido o procedimento habitual, que só contempla essa medida em casos de erros ou inconsistências.
A Junta Eleitoral informou que as urnas queimadas foram consideradas nulas e que só recomendaria a repetição da votação nesses lugares caso significasse uma porcentagem significativa para alterar os resultados.
"(Os culpados pela queima de urnas) são lixos, não se pode fazer isso em uma democracia", ressaltou Alperovich, que reconheceu que os incidentes foram causados tanto por militantes opositores como governistas.
"Para mim, uma urna queimada em pleno século XXI é uma vergonha inaceitável que não podemos considerar natural", comentou Macri.
Tucumán, sexto maior distrito eleitoral do país, está em mãos do peronismo desde 1999.
Os incidentes no pleito da província se somam a outras polêmicas do calendário eleitoral argentino em 2015, como o suposto roubo de bilhetes de entrada e votos não contabilizados nas primárias da província de Buenos Aires e a estreita diferença que deu o governo ao socialismo na província de Santa Fé.
A corrida eleitoral terminará no dia 25 de outubro, data em que 32 milhões de argentinos estão convocados a escolher o sucessor de Cristina Kirchner na presidência.