Presidente chinês pediu que Mahmoud Ahmadinejad (na foto) seja "flexível" e "pragmático" (Mark Ralston/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2012 às 18h29.
Viena - As negociações com o Irã sobre seu controverso programa nuclear acabaram sem avanço algum, anunciou nesta sexta-feira o chefe dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"Não houve avanço algum" na reunião realizada em Viena, declarou à imprensa Herman Nackaerts, que classificou esse resultado de "decepcionante".
"A equipe da agência abordou a reunião com um espírito construtivo e com o desejo e a intenção de conseguir um documento", afirmou.
"Apresentamos um texto revisado que leva em conta as preocupações expressas anteriormente pelo Irã", mas os interlocutores iranianos "enfatizaram outros assuntos já discutidos e agregaram novos", disse, completando que não foi estabelecida uma data para a nova reunião.
O embaixador iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, reiterou, por sua vez, a vontade de seu país de dissipar todas as preocupações relativas aos objetivos de seu programa nuclear.
"Estamos dispostos a superar todas as ambiguidades para provar ao mundo que nossas atividades são exclusivamente pacíficas e que nenhuma das acusações (de que ocultam um objetivo militar) é verdadeira", declarou.
"Mas precisamos de tempo, paciência e de um ambiente sereno" para conversar, completou. "Não há obstáculos (...), vamos continuar trabalhando para um acordo", afirmou.
O objetivo do encontro consistia em concluir um acordo marco que tornasse possível aos inspetores da AIEA ter um acesso crescente a todos os locais, pessoas e documentos que pudessem ajudá-los a esclarecer a natureza do programa nuclear iraniano.
Em um relatório em novembro, a AIEA divulgou uma lista de elementos que indicavam, segundo a agência, que o país trabalhou para desenvolver a bomba atômica antes de 2003, e possivelmente também depois.
Após uma alentadora reunião celebrada em meados de maio, o diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, realizou uma viagem relâmpago a Teerã e proclamou, em seu retorno em 22 de maio, que estava próxima a conclusão de um acordo. No entanto, nada ocorreu desde então.
Amano mostrou-se muito mais cauteloso em 4 de junho: "Esperamos que um acordo seja assinado o quanto antes", declarou paralelamente ao conselho de governadores da AIEA.
A agência quer acessar prioritariamente a área militar de Parshin, onde suspeita que sejam realizados testes de explosões convencionais aplicáveis ao plano nuclear. Ela teme também, apoiando-se em imagens via satélite, que as autoridades estejam limpando o local.
As grandes potências e Israel suspeitam que o Irã esteja desenvolvendo a arma nuclear sob pretexto de um programa civil, o que Teerã desmente.
A ausência de avanços em Viena ofusca a reunião de Moscou entre o grupo 5+1 (Estados Unidos, China, Rússia, Grã-Bretanha, França e Alemanha) e Irã prevista para 18 e 19 de junho.
Após duas rodadas de negociações em Istambul em abril, e depois em maio em Bagdá, as duas partes apenas puderam constatar suas divergências, em particular sobre a polêmica atividade de enriquecimento de urânio a 20%, que aproxima o país do nível de enriquecimento necessário para a fabricação da bomba (90%).
Os ocidentais querem agora gestos concretos do Irã. Em caso de não haver progressos nas negociações, um embargo europeu contra o petróleo iraniano poderia entrar em vigor em 1 de julho.
O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, afirmou que seu país quer manter as negociações e não tenta fabricar armas atômicas, "mas as grandes potências parecem querer encontrar uma solução", declarou, segundo a agência Isna.
O presidente chinês, Hu Jintao, citado na sexta-feira pela agência oficial Xinhua, pediu que Mahmud Ahmadinejad seja "flexível" e "pragmático" nestas conversas.