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Direito à terra e à cultura leva indígenas à Rio+20

Os índios, procedentes de vários países de América, Ásia e África, estão hospedados desde terça-feira em uma aldeia construída por eles mesmos no Rio de Janeiro

Tribos indígenas que acamparam na Rio+20, em junho de 2012 (Ricardo Moraes/Reuters)

Tribos indígenas que acamparam na Rio+20, em junho de 2012 (Ricardo Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2012 às 07h10.

Rio de Janeiro - O direito à terra e o respeito à cultura aquecem os debates dos povos indígenas de meio mundo que se reuniram no Rio de Janeiro para chamar a atenção dos governantes durante a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

Os índios, procedentes de vários países de América, Ásia e África, estão hospedados desde terça-feira em uma aldeia construída por eles mesmos no Rio, onde realizam suas assembleias e discutem um documento com reivindicações que será entregue à ONU nos próximos dias.

O líder indígena brasileiro Marcos Terena explicou que o documento, ainda em discussão, se trata de uma agenda 'muito específica' de reivindicações comuns a todos os povos nativos, mas principalmente aborda o direito ao território e seu significado cultural.

'No caso indígena, para acabar com a cultura basta tirar a terra. Sem terra o índio não sobrevive', sintetizou Terena em declarações à Agência Efe.

O chefe guarani mbyá Francisco Guarani disse à Efe que as disputas por terras causaram pelo menos 70 assassinatos de índios nos últimos anos na zona fronteiriça entre Brasil e Paraguai, uma pujante região agrícola onde os latifundiários 'se sentem donos' das zonas dos povos nativos.

"Atualmente há um processo de massacres altamente violento. O negócio agrícola é muito forte, então os conflitos ocorrem constantemente", lamentou o líder guarani.

O chefe pataxó hã-hã-hãe Thyerry Iatso, da Bahia, explicou à Efe que os índios não se interessam pelo valor econômico das terras agrícolas e só buscam sua subsistência.

"Os índios têm a terra como a mãe terra, não é para ter hegemonia nem um grande capital. A importância da terra é para viver, é para preservar o meio ambiente, mantê-lo limpo, ter água boa nos rios para poder plantar e colher e daí tirar o sustento do nosso povo", afirmou.

Em suas primeiras reuniões no Rio, alguns índios demonstraram sua oposição à chamada "economia verde", uma das questões tratadas na Rio+20, por medo de que esta conduza a uma "privatização da floresta".

Os índios também pedem proteção contra atividades extrativistas que representam uma ameaça para povos de regiões muito diferentes, desde a Amazônia até as Filipinas.


A índia igorot Marifel Macalanda disse à Efe que os povos da região filipina de Cordillera sofrem com a ação dos mineiros que atuam em suas regiões 'tomando todos os recursos sem deixar nada para os índios', em projetos que costumam ser aprovados sem consultas prévias.

Os debates dos índios se prolongarão até o fim de semana, quando uma delegação se deslocará até o centro de convenções do Riocentro, sede da Rio+20, para apresentar suas reivindicações dentro das jornadas de diálogo organizadas pela ONU antes da cúpula de chefes de Estado, que acontecerá entre os dias 20 e 22.

As assembléias acontecem na chamada 'choça da sabedoria', uma grande tenda de lona e bambu com estrutura cônica, localizada no centro da aldeia Kari-Oca, onde durante estes dias moram centenas de índios.

A aldeia, que ocupa uma área de floresta virgem em uma região montanhosa a cerca de cinco quilômetros do centro de convenções da Rio+20, se transformou em um vitrine da diversidade e da riqueza das culturas indígenas.

De forma paralela aos debates, os índios cumprem uma intensa agenda de esportes tradicionais, atividades culturais e espirituais.

A maioria dos índios acampados no Rio é brasileira, mas os organizadores esperam que até o dia 22 cheguem outros povos de países vizinhos que enfrentaram problemas logísticos.

Acompanhe tudo sobre:ONURio+20

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