Negociações: nesta sexta-feira, um atentado suicida deixou mais de 50 mortos, em sua maioria rebeldes, em Al-Bab (Mukhtor Kholdorbekov/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de fevereiro de 2017 às 17h06.
A ONU tentava a duras penas relançar nesta sexta-feira as discussões em Genebra entre os dois principais beligerantes sírios, enquanto a violência continuava provocando estragos em terra.
No segundo dia da nova rodada de negociações entre o regime de Damasco e a oposição síria, as discussões para abordar o cerne da questão - a busca por uma solução pacífica - ainda não começaram.
Enquanto isso, na Síria, a violência seguia em pleno apogeu. Nesta sexta-feira, um atentado suicida deixou mais de 50 mortos, em sua maioria rebeldes, em Al-Bab, reduto extremista recém reconquistado, com a ajuda das forças turcas, do grupo Estado Islâmico (EI).
Outro ataque contra um posto de controle na entrada da cidade matou dois soldados turcos, anunciou Ancara.
Os dois atentados foram reivindicados pelo EI - excluídos das negociações - e evidenciam a fragilidade da situação em um país devastado por seis anos de guerra, onde atores nacionais e internacionais atuam com agendas muito diferentes.
Em outra frente de batalha, ao menos 32 insurgentes morreram em bombardeios aéreos do regime de Damasco contra 'bolsões' rebeldes ao oeste da cidade de Aleppo, que foi reconquistada há dois meses pelo exército, informou a ONG.
"O regime quer reforçar suas posições ao redor de Aleppo e toma os disparos de foguetes dos rebeldes como pretexto para bombardear suas posições", declarou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.
E segundo o OSDH, uma família de oito pessoas, incluindo seis crianças, foi dizimada em ataques aéreos em Al-Hmeirat, na província de Hama (centro). Os ataques foram realizados pela aviação russa ou síria, segundo a ONG.
Apesar do cessar-fogo anunciado no fim de dezembro com a mediação da Turquia, que apoia os rebeldes, e a Rússia, que apoia o regime, a violência nunca parou no país.
Em Genebra, as negociações começaram oficialmente na noite de quinta-feira e foram apresentadas pela ONU como uma "oportunidade histórica" para colocar fim a uma guerra que deixou mais de 310.000 mortos desde 2011 e provocou o deslocamento de 13 milhões de pessoas.
Mas os beligerantes ainda não se encontraram e as discussões ocorrem separadas entre o emissário da ONU, Staffan de Mistura, e os representantes do regime e da oposição.
"Será um processo longo e difícil", declarou Michael Contet, assistente de De Mistura, durante uma coletiva de imprensa.
O mediador da ONU entregou a cada delegação um "papel", que segundo fontes próximas às negociações inclui três pontos: transição, constituição e eleições.
"Vamos falar de procedimento", disse à AFP um membro um membro da delegação opositora, Asad Hana, antes de se encontrar com De Mistura.
O Alto Comitê de Negociações (ACN, oposição) exige uma negociação direta, enquanto o regime não anunciou publicamente sua opinião, mas rejeita a composição da delegação de seus adversários.
Na oposição também não há acordo entre os diferentes grupos de opositores, e além do ACN existem dissidentes procedentes do Cairo e de Moscou, considerados mais moderados em relação ao regime de Damasco.
A delegação do ACN não aceita que estes últimos tenham o mesmo status que eles.
Mas o principal obstáculo continua sendo o futuro político do presidente Bashar al-Assad. O ACN insiste que sua saída deve ser parte da negociação, o que é rejeitado pelo governo.
A "transição" política claramente não significa o mesmo para Damasco e seus aliados russo e iraniano, e para a oposição.
"Na cabeça dos russos e do regime, um governo de união nacional é formado, Bashar al-Assad continua como presidente e opositores entram (nos ministérios) na Caça e Esportes. Na cabeça da oposição está claro que o presidente sírio não pode permanecer no poder", resumiu uma fonte diplomática ocidental.
Enquanto isso, em Nova York, Estados Unidos, França e Reino Unido pediram nesta sexta-feira à ONU novas sanções contra os autores de ataques com armas químicas na Síria, e um projeto de resolução poderia ser apresentado para ser votado nos próximos dias.
O regime de Damasco e o EI foram acusado em outubro por ataques específicos em um relatório da ONU e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
A Rússia já anunciou que vetaria tal projeto de resolução.
Mas de acordo com uma fonte diplomática francesa, mesmo com um veto, a resolução, apoiada pelos Estados Unidos, iria enviar uma "mensagem forte" para o regime de Damasco e seu fiel aliado russo.