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Dinastia Trump S.A.: Influência de família em campanha sinaliza papel central em possível governo

Narrativa do ex-presidente, de que escapou do atentado na Pensilvânia por vontade divina, aumentou a determinação de filhos e nora de um retorno ao poder em 2025

Família Trump: grupo deve ganhar destaque em eventual novo governo

Família Trump: grupo deve ganhar destaque em eventual novo governo

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 21 de julho de 2024 às 09h09.

Última atualização em 21 de julho de 2024 às 10h34.

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Uma das decisões mais importantes da Convenção Republicana, que terminou na quinta-feira, foi a escolha do companheiro de chapa de Donald Trump na corrida à Casa Branca. Apontado como o futuro ideológico do partido, à imagem e semelhança do líder da sigla, J.D. Vance, de 39 anos, não leva no passaporte o sobrenome mais emblemático da direita americana hoje. Mas foi indicado ao pai por Donald Trump Jr., de 46 anos, seu “amigo e confidente”.

Don, como é conhecido, deixou Milwaukee com a alcunha de “príncipe herdeiro do partido”. E, com a saída de cena, desde a invasão do Capitólio, de sua irmã mais nova Ivanka, 42, e do cunhado Jared Kushner, 41, protagonistas controversos do primeiro governo Trump, as faces mais reconhecidas pela base conservadora na bilionária dinastia são agora, além dele, a de seu irmão mais novo, Eric, 40, e a mulher dele, Lara Lee, 41, desde março copresidente do Partido Republicano.

"Houve um tempo em que, para subir degraus no partido, era preciso beijar as mãos de Rupert Murdoch ou de outros titãs da direita. Essa era acabou", afirmou Don em um evento paralelo da convenção.

Mais tempo discursando

A referência a Murdoch não é acaso. Aos 93 anos, o “aposentado” czar da mídia, dono, entre outros, da Fox, do Wall Street Journal e do Times de Londres, jogou suas fichas para emplacar como vice Doug Burgum, favorito da minguada ala big business do partido. Murdoch via no governador da Dakota do Norte um nome mais sensível aos pleitos das grandes corporações. E, em Vance, um inexperiente populista. Suas frases feitas, entre elas “esse não será mais o partido de Wall Street” e “vamos governar sem a corrupção endêmica de Washington”, causam-lhe enfado. Decidiu entrar em uma queda de braço com Don. Perdeu. O resultado grita o papel cada vez mais central da família Trump em um futuro governo, provável com o derretimento do projeto de reeleição de Joe Biden, e nos rumos da maior legenda de direita das Américas.

Don, Eric e Lara foram destacados oradores no horário nobre da convenção, com o dobro do tempo de governadores, senadores e deputados do partido. Seus discursos, afinados, buscaram, poucos dias após o ataque que quase tirou a vida de Trump, humanizar a figura do pai, sogro e avô que, aos 78 anos, já afirmou desejar manter a influência da família no partido durante e após eventual segundo mandato.

Papel central

À frente da Trump Organization desde 1971, o ex-presidente se casou três vezes e tem cinco filhos. Tiffany, 30, a única filha de seu casamento com a atriz Marla Maples, é filiada ao partido, sem militância. E Barron, 18, filho com a ex-primeira-dama Melania, destaque por sua ausência na campanha até a aparição no último dia da convenção, foi ao primeiro comício do pai este ano.

"Os Trump ainda priorizam mais os negócios do que a política. Mas, entre os filhos, Don Jr. é o que se mostra mais interessado em ter um papel central na política americana das próximas décadas. E parece ter mais prazer ainda nos bastidores, pelo menos até o momento, do que em se testar nas urnas" diz o diretor do grupo de risco Eurasia para os EUA, Clayton Allen.

Alto, farta cabeleira preta com faixas grisalhas, casado pela segunda vez com uma apresentadora da Fox, pai de cinco, foi de Don a decisão de apresentar no palco do evento sua filha mais velha, Kai Madison, de 17 anos. Recebida pela base como herdeira real, é destaque nas páginas da mais recente edição da People.

Quando Trump tomou o Partido Republicano de assalto, em 2015, a sigla amargava duas derrotas seguidas para os democratas de Barack Obama. O fracasso do neoconservadorismo dos anos Bush e sua política intervencionista no Oriente Médio foi percebido pelo sagaz empreendedor e estrela televisiva de ocasião como oportunidade singular. Abandonou o Partido Democrata para criar um movimento popular dentro das fronteiras da então esfacelada direita. Os Bush, George pai, George filho e seu irmão, o governador da Flórida, Jeb, buscavam não misturar, publicamente, negócios com política. Tampouco ousaram se posicionar como os Kennedy da direita. Com os Trump, é diferente.

O êxito do patriarca em 2016, quando humilhou Jeb nas primárias, marcou, para a base disposta a “fazer os EUA grandes novamente”, a “chegada, finalmente, do povo a Washington”. Internamente, a candidatura era um tapa na cara da elite republicana. E a improvável vitória sobre a ex-senadora Hillary Clinton, um sinal de que realeza, ao menos do lado de cá do Atlântico, agora tinha menos a ver com sofisticação política e mais com a representação mais exata das entranhas da América Profunda, cristã e nacionalista.

Agitador político

As duas aspas anteriores foram extraídas do longo, mais radical e bem menos sofisticado, se comparado ao de Don, discurso de Eric na convenção. Também alto, cabelos curtos e claros, ele tem, como o pai, a voz nasalada típica do Queens, distrito nova-iorquino carente do glamour da vizinha Manhattan. É, como o irmão mais velho, um cão de guarda de Donald, com quem jamais ensaiou divergência. Se Don é o articulador, Eric é o agitador político, ainda que com menos sucesso. Ao menos até o acontecimento Lara Lee.

A ex-produtora de TV e modelo conheceu Eric em um bar de Manhattan, em 2014. Casaram-se, ocuparam um apartamento na Trump Tower e mantiveram discrição durante o governo Trump. Foi o sogro quem percebeu, nos comícios da campanha, que era ela quem, na família, entendia melhor a ambição do movimento que criou. Loura, também alta, fã de alta-costura, diverte os militantes com sua imitação perfeita de Donald.

Ímã de dinheiro

Articulada, tornou-se ímã de dinheiro nos eventos de arrecadação de fundos eleitorais. Na convenção, mais de um presidente estadual do partido creditou a ela a multiplicação de dólares (280 milhões em quatro meses) à disposição não apenas para turbinar a candidatura do sogro, mas também de candidatos a postos legislativos. Do catecismo de Trump, é particularmente fã da mentira sobre a fraude que lhe teria custado as eleições de 2020 quando foi derrotado por Biden. E conta que, no 6 de janeiro de 2021, o que jamais esquecerá será a lembrança dos “patriotas” que, “antes de protestarem”, celebraram o aniversário de seu marido em coro com um “parabéns”. Os dois filhos do casal surgiram no colo do ex-presidente em Milwaukee, e ela foi a primeira pessoa da família a tratar do ataque na convenção.

Em entrevista ao Washington Post para um longo perfil publicado na semana passada, ela afirmou que “há momentos em que as únicas pessoas em que você pode confiar são as de sua família. E para o meu sogro, tristemente, isso tem sido quase uma regra”. Sua adoração a Donald a fortaleceu na família, e o ex-presidente a quer no Senado em dois anos.

Uma das primeiras propostas de Lara após assumir o novo posto (Trump só a apresenta como “a cabeça do Partido Republicano”), foi a de a sigla passar a pagar a milionária conta dos advogados do ex-presidente nos muitos processos que enfrenta, de acusação de abuso sexual a tentar manipular o resultado das eleições de 2020, de seu papel na invasão do Capitólio ao suborno de uma ex-atriz pornô com quem teria um caso para que suas chances de vencer Hillary não fossem reduzidas. A sugestão foi rechaçada com argumento inusitado: comprometeria a ideia de que Trump não precisa se candidatar para aumentar seu status ou fortuna, apenas por seu amor aos EUA.

A narrativa do ex-presidente, de que escapou do atentado na Pensilvânia por vontade divina, aumentou, dizem pessoas próximas ao candidato, a determinação de filhos e nora de um retorno ao poder em 2025. Ainda faltam pouco menos de quatro meses para convencerem os americanos de que vale o voto assistir a uma segunda temporada da Família Trump na Casa Branca.

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