A reunião dos Brics aconteceu na manhã de sábado em Brisbane, na Austrália (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 15 de novembro de 2014 às 10h43.
Brisbane - A presidente Dilma Rousseff usou a abertura da reunião dos Brics - grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - para culpar países desenvolvidos pela piora das contas externas brasileiras.
Em discurso, defendeu que a falta de força das economias ricas não gera demanda para estimular países emergentes. Ao mesmo tempo, Dilma defendeu que o esforço monetário e a ação para alavancar exportações nos desenvolvidos têm derrubado o preço das commodities, o que pode comprometer a renda e o crescimento dos emergentes.
"Desde nossa última reunião em Fortaleza, a situação da economia mundial, infelizmente, pouco avançou. Os países avançados não conseguiram uma recuperação consistente e o comércio internacional não cresce o suficiente para estimular os países emergentes", disse Dilma, conforme trecho do discurso distribuído pela assessoria de imprensa do Palácio do Planalto.
A reunião dos Brics aconteceu na manhã de sábado em Brisbane, na Austrália, antes da abertura do encontro de cúpula das 20 maiores economias do mundo, o G-20.
A principal linha de raciocínio da presidente brasileira apontou para a falta de tração da economia global e as consequências para as economias em desenvolvimento. Entre os problemas mencionados, Dilma destacou especialmente a tendência negativa do preço das commodities.
"A queda de preços sinaliza o enfraquecimento da economia internacional e vai comprometer a renda e o crescimento de alguns emergentes", defendeu. Entre os Brics, Brasil, Rússia e África do Sul são grandes exportadores de commodities. A China, ao contrário, é compradora.
Além da economia mais lenta nos países ricos, a queda de preço das commodities é ainda influenciada pela política monetária dos Estados Unidos.
"Isso reflete também uma reacomodação da economia mundial às perspectivas de elevação futura do dólar americano", disse Dilma. No trecho distribuído pelo Planalto, não há qualquer menção à desaceleração da economia chinesa como fator de influência.
Economistas, porém, dizem que o menor crescimento da China é a principal fonte recente da acomodação dos preços de produtos básicos como petróleo, minério de ferro, metais e alimentos.
Cobrança
Diante do diagnóstico, Dilma cobrou ação dos países ricos no discurso feito aos Brics.
"É preciso que os países avançados recomponham sua demanda interna aos níveis pré-crise ao invés de tentar resolver seus problemas com o aumento das exportações", defendeu. "Essa situação provocou um déficit de transações correntes no Brasil de 3,7% do PIB", completou Dilma.
O discurso reforça a defesa de que "o Brasil está fazendo sua parte" para a recuperação da economia global. A contribuição brasileira, na avaliação do Palácio do Planalto, é explicada pelo déficit em transações correntes.
Esse resultado negativo mostra que o País demanda mais que produz e, assim, está "importando crescimento" de outras nações, o que ajuda na recuperação internacional. As economias ricas, ao contrário, têm superávit ou déficit externo decrescente. Isso, na avaliação do governo brasileiro, mostra que "não ajudam" na recuperação global.