Mundo

Diálogo com oposição na Venezuela termina em ponto morto

A negociação estava ligada às deliberações feitas desde segunda-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral para marcar a data da eleição

Maduro: "Temos a esperança de que as partes possam se encontrar em Caracas e produzir novamente aproximações", disse Medina (Marco Bello/Reuters)

Maduro: "Temos a esperança de que as partes possam se encontrar em Caracas e produzir novamente aproximações", disse Medina (Marco Bello/Reuters)

A

AFP

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 22h22.

As negociações sobre a crise venezuelana ficaram em ponto morto depois que o governo e a oposição fracassaram em sua tentativa de acordar uma data para as eleições presidenciais, adiantadas pelo oficialismo.

Após dois meses de diálogos em Santo Domingo, o presidente dominicano, Danilo Medina, anunciou nesta quarta-feira que não alcançou um acordo e que o processo entrava em um "recesso indefinido".

"Temos a esperança de que as partes possam se encontrar em Caracas e produzir novamente aproximações que permitam sentar e tirar um documento definitivo", declarou à imprensa Medina, depois de se reunir com os delegados da oposição na Chancelaria dominicana.

Medina assegurou que as partes acordaram na terça-feira que as eleições, nas quais o presidente Nicolás Maduro buscará a reeleição, se realizarão em 22 de abril, após um embate de datas: o governo pedia que fossem em 8 de março e a oposição em 10 de junho.

Mas os delegados da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) apresentaram nesta quarta-feira observações ao texto. Enquanto isso, Maduro disse "que só assinará o documento" que estava sobre a mesa na terça, acrescentou o governante dominicano.

Pouco depois, o delegado principal da MUD, Julio Borges, assinalou que em breve revelarão suas observações. "Se o governo não tivesse medo de eleições livres, teria que assinar esse documento", manifestou Borges na Chancelaria.

A negociação estava ligada às deliberações feitas desde segunda-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) - acusado pela oposição de servir ao governo - para fixar a data das votações.

Após o anúncio de Medina, o CNE convocou seus reitores para uma reunião às 23h00 GMT (21h00 de Brasília).

Esperamos "que o governo não cometa o erro absurdo de convocar eleições de forma unilateral. Maduro não é o dono da democracia na Venezuela, são os venezuelanos e eles devem ser respeitados", tuitou Borges.

Prestes a ser nocauteado

Com um sólido apoio institucional que inclui os militares e uma forte política de subsídios, Maduro tem possibilidades de se reeleger, segundo analistas.

Isto apesar de arrastar uma impopularidade de 70% diante da grave crise, com uma hiperinflação projetada em 13.000% pelo FMI para 2018 e a aguda escassez de alimentos e remédios.

Além disso, tem à frente um adversário fraco e fissurado. As presidenciais foram adiantadas pela governista Assembleia Constituinte para antes de 30 de abril - sem data definida -, dificultando a situação da oposição, que ainda não decidiu se irá para as eleições com um candidato de consenso, ou com vários, e até mesmo se participará.

"No cenário que se apresenta neste momento, com o atual poder eleitoral, está clara a vitória de Maduro, a não ser que a oposição alcance alguma decisão unitária", assegurou à AFP em Caracas a cientista política Francine Jácome.

Jácome sustenta que neste momento a oposição carece de liderança, pois seus principais dirigentes, Leopoldo López e Henrique Capriles, estão inabilitados politicamente.

"Se o inimigo está contra as cordas, termine de dar o nocaute", comentou o cientista político Leandro Area.

"A oposição deve aceitar que com o fracasso do diálogo se encerra um ciclo. O governo seguirá com as eleições e o CNE as anunciará, porque as condições estão dadas", acrescentou.

Para ele, a oposição "deveria se recompor, criar uma nova liderança, mas não deveria ir à eleição: com o diálogo rompido, se não resolverem as condições, não deveria ir", sustentou.

Letras miúdas

Segundo Medina, a MUD demandou durante o processo a habilitação de partidos políticos que os poderes judicial e eleitoral - acusados de servir ao chavismo - excluíram recentemente das eleições, além da libertação de "pessoas detidas".

"Verbalmente para o governo chegaram a um acordo sob a mediação de (ex-presidente do governo espanhol José Luis) Rodríguez Zapatero nesses dois pontos", afirmou o presidente dominicano.

O rascunho do acordo, segundo a AFP pôde ler, incluía a observação internacional da ONU, auditorias de todo o processo e a atualização do registro de eleitores para incluir os milhares que emigraram nos últimos meses.

Também quer a reabertura de centros eleitorais em zonas opositoras, suspensos pelo poder eleitoral nas eleições de governadores e prefeitos em 2017, e o acesso equitativo dos partidos dos meios de comunicação.

"Uma coisa é um convite, que era esse documento, e outra é um documento nosso, que é a articulação clara desses direitos", disse Borges em Santo Domingo sobre sua contraproposta.

Para Area e Jácome, o fracasso do diálogo deixaria a oposição mais dividida e Maduro "mais isolado".

Acompanhe tudo sobre:Nicolás MaduroOposição políticaVenezuela

Mais de Mundo

Netanyahu oferece quase R$ 30 milhões por cada refém libertado que permanece em Gaza

Trump escolhe Howard Lutnick como secretário de Comércio

Ocidente busca escalada, diz Lavrov após 1º ataque com mísseis dos EUA na Rússia

Biden se reúne com Lula e promete financiar expansão de fibra óptica no Brasil