Guaidó: em maio, líder da oposição da Venezuela chamou o povo às ruas em tentativa falha de retirar Maduro do poder (Isaac Urrutia/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2019 às 06h57.
Última atualização em 5 de julho de 2019 às 07h05.
No 208º aniversário de independência da Venezuela, o país se divide em atos do governo e da oposição. Nicolás Maduro organizou uma parada militar para celebrar a história nacional, com direito a apresentação das Forças Armadas Nacionais (FANB). Na outra ponta, Juan Guaidó, auto-proclamado presidente venezuelano, convocou protestos por todo o país para marcar a indignação do povo contra o governo.
A maior força política de Guaidó, presidente da Câmara, é seu poder de mobilização. Depois de ter convocado o povo para grandes marchas em maio para a tomada do poder, que falharam, sua reputação está um pouco abalada no país e internacionalmente. O caso da Venezuela só voltou aos holofotes quando, no último sábado, foi anunciada a morte do capitão Rafael Acosta Arévalo, detido pela Direção Geral de Contrainteligência Militar, acusado de atentar contra o presidente venezuelano.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicitou na última quarta-feira, 3, ao governo de Nicolás Maduro que “investigue, julgue e puna” os responsáveis pela morte. O órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos manifestou também seu “alarme e preocupação” pelo falecimento por “prováveis atos de tortura”.
Pelas redes sociais, Guaidó defendeu a realização dos protestos desta sexta-feira para denunciar a morte de Acosta e as práticas do governo de Maduro. “Neste cinco de julho nós vamos tomar as ruas de toda a Venezuela como um símbolo de nossa resistência e rejeição aos assassinados para provar que nós somos um país que não cresce acostumado com tragédias”, escreveu no Twitter. “O regime quer que nós nos aprisionemos em nossa dor e desespero. Vamos sair mais uma vez às ruas”.
Ontem, na véspera dos atos, a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, publicou um informe sobre a situação da Venezuela, no qual acusa o governo de de “tentar neutralizar, reprimir e criminalizar a oposição política e quem critica o governo”. Ela esteve em Caracas de 19 a 21 de junho, quando conversou com sindicatos, autoridades do governo, membros da igreja e parentes de presos políticos.
O texto da ex-presidente chilena aponta os excessos cometidos pelas forças do Estado e denuncia casos de tortura. No total, segundo o documento da ONU, o governo venezuelano registrou mais de 6.800 mortes entre 2018 e maio deste ano, supostamente devido à resistência às autoridades em operações policiais. Defensores dos direitos humanos aplaudiram a importância de seu relatório, mas o governo de Maduro, a acusou de formular um documento “cheio de erros”.
Nas celebrações desta sexta, portanto, o governo tenta apelar para a memória histórica militar nacional. Vladimir Padrino López, ministro da Defesa, anunciou que as forças armadas organizaram uma apresentação com direito a tanques de guerra e veículos blindados. “Continuamos a refinar a preparação para dar à nossa cidade uma grande parada cívico-militar no próximo dia 5 de julho: Dia da Pátria das heroicas e vitoriosas Forças Armadas Nacionais Bolivarianas” , escreveu Lopez.
O dia da pátria voltará a mostrar um país perdido em seus labirintos.