Gaza: mais de 50 palestinos morreram e, ao menos, 2 mil ficaram feridos em protestos, no dia da inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém (Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
AFP
Publicado em 14 de maio de 2018 às 16h43.
As dezenas de manifestantes palestinos mortos pelo Exército israelense na fronteira da Faixa de Gaza provocaram nesta segunda-feira (14) indignação e apelos por moderação por parte da comunidade internacional.
Muitos países, incluindo Grã-Bretanha, França e Rússia, condenaram a abertura da embaixada americana em Jerusalém, cuja transferência foi negada por 128 dos 193 Estados-membros da ONU.
A inauguração nesta segunda-feira provocou uma manifestação de dezenas de milhares de pessoas na Faixa de Gaza. Mais de cinquenta foram mortas por soldados israelenses na fronteira. O presidente palestino, Mahmud Abbas, denunciou um "massacre".
"A morte chocante de dezenas de pessoas e os centenas de feridos por tiros de munição real em Gaza devem parar imediatamente, e os autores dessas violações flagrantes dos direitos humanos devem ser responsabilizados", reagiu o alto comissário para os Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad Al-Hussein.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar "particularmente preocupado" com a situação em Gaza.
A Anistia Internacional denunciou uma "violação abjeta" dos direitos humanos e "crimes de guerra" em Gaza, enquanto a Human Rights Watch (HRW) denunciou "um banho de sangue".
"Estamos preocupados com relatos de violência e perda de vidas em Gaza. Pedimos calma e moderação para evitar ações destrutivas para os esforços de paz", declarou um porta-voz da primeira-ministra Theresa May.
"A França mais uma vez apela às autoridades israelenses para que exercitem o discernimento e a contenção no uso da força", disse o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, destacando "o direito dos palestinos de se manifestarem pacificamente".
Paris desaprova a transferência da embaixada americana para Jerusalém, que "viola a lei internacional", declarou o chanceler.
"Pedimos a todas as partes que ajam com a máxima moderação, a fim de evitar mais perdas de vidas humanas", afirmou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
Ela lembrou a "posição clara e unida" da UE, segundo a qual a transferência das embaixadas de Tel Aviv para Jerusalém não deveria acontecer até que o status da Cidade Santa seja acertado em uma resolução de conflito.
Perguntado se a transferência da embaixada americana faz a Rússia temer um agravamento da situação na região, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: "Sim, nós temos isso".
"Estamos convencidos de que não devemos reverter unilateralmente as decisões da comunidade internacional. E o destino de Jerusalém deve ser decidido pelo diálogo direto com os palestinos", disse o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.
"Nós rejeitamos essa decisão, que viola a lei internacional e as resoluções da ONU", declarou o presidente Recep Tayyip Erdogan. "Com essa decisão, os Estados Unidos escolheram fazer parte do problema e perdem seu papel de mediador no processo de paz" no Oriente Médio.
O porta-voz do governo, Bekir Bozdag, denunciou um "massacre" na fronteira com a Faixa de Gaza, cuja "administração americana é tão responsável quanto Israel".
"Lamento profundamente os terríveis episódios de violência na fronteira entre Israel e a Palestina. Nossa solidariedade com os feridos e as famílias dos mortos. O Brasil faz um apelo à moderação, um chamado à paz", escreveu o presidente Michel Temer no Twitter.
"O governo da Espanha está consternado pelo elevado número de manifestantes mortos e feridos hoje na Faixa de Gaza que se somam às vítimas das manifestações das últimas semanas e faz um apelo urgente à contenção de todos os envolvidos", indicou o comunicado do ministério das Relações Exteriores.
"Condenamos o que aconteceu. Haverá uma reação da nossa parte", disse o embaixador do Kuwait na ONU, Mansour al-Otaibi, cujo país é um membro não permanente do Conselho.
O Kuwait pediu uma reunião do Conselho de Segurança sobre a situação no Oriente Médio após as mortes em Gaza.
O rei Mohammed VI denunciou uma "decisão unilateral", que "se opõe ao direito internacional e às decisões do Conselho de Segurança".
O Ministério das Relações Exteriores expressa "sua forte denúncia aos disparos israelenses contra civis palestinos desarmados", chamando os mortos de "mártires" e advertindo contra uma "escalada".
O grande mufti Shawki Allam denunciou, com a abertura da embaixada americana, "uma afronta direta e clara aos sentimentos de mais de um bilhão e meio de muçulmanos na terra", o que "abre as portas para mais conflitos e guerras na região".
"Peço que se evite qualquer uso desproporcional da força e retomem o diálogo para uma solução duradoura para o conflito o mais rápido possível", escreveu o ministro das Relações Exteriores, Didier Reynders.
A ministra das Relações Exteriores, Ine Eriksen Søreide, disse estar "extremamente preocupada com a espiral de violência que estamos testemunhando agora na fronteira entre Israel e Gaza". "É inaceitável disparar munição real contra os manifestantes", acrescentou ela.