O jornalista Glenn Greenwald: o brasileiro David Miranda, companheiro do jornalista, foi detido no domingo (Lia de Paula/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2013 às 12h22.
Londres - Autoridades britânicas eram, nesta segunda-feira, alvo de críticas pela detenção durante nove horas do companheiro brasileiro do jornalista que revelou os documentos obtidos pelo fugitivo americano Edward Snowden.
O brasileiro David Miranda, companheiro do jornalista do jornal britânico The Guardian Glenn Greenwald, foi detido no domingo no aeroporto internacional de Heathrow em aplicação ao artigo 7 da lei antiterrorista de 2000.
Segundo o jornal londrino, o homem, de 28 anos e nacionalidade brasileira, foi liberado mas seus equipamentos eletrônicos, entre eles o computador, telefone celular, pen-drives, DVDS e jogos eletrônicos foram apreendidos.
Após a liberação, o brasileiro pôde embarcar e chegou na manhã desta segunda-feira ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro.
As autoridades britânicas tinham "zero suspeitas" do eventual envolvimento de David Miranda em atividades terroristas, insistiu Glenn Greenwald, visivelmente furioso, em um artigo no Guardian.
Miranda foi interrogado apenas sobre as atividades da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês), para a qual Edward Snowden trabalhava, disse o jornalista, para quem os britânicos "abusaram totalmente de sua lei antiterrorista por razões que nada têm a ver com o terrorismo".
A detenção estava destinada "evidentemente a intimidar aqueles que trabalham sobre a NSA e seu equivalente britânico GCHQ de um ponto de vista jornalístico", acrescentou.
"Se os governos americano e britânico pensam que esta estratégia nos dissuadirá de continuar cobrindo de maneira agressiva o que os documentos revelam, se equivocam. Isto terá um efeito contrário: nos encoraja a ir mais longe", advertiu o jornalista.
O ministério do Interior britânico se recusou nesta segunda-feira a fazer qualquer tipo de declaração, mas as autoridades britânicas estavam cada vez mais pressionadas para dar explicações, após as críticas do governo brasileiro, da Anistia Internacional e de deputados do Parlamento britânico.
A polícia britânica confirmou, por sua vez, os incidentes.
"Não foi detido, razão pela qual foi liberado", afirmou um porta-voz.
Esta detenção é "extraordinária", se indignou o presidente da Comissão Parlamentar Britânica do Interior, o trabalhista Keith Vaz, que exigirá explicações da polícia.
"Se recorremos à legislação antiterrorista desta maneira para assuntos não relacionados ao terrorismo, devemos saber", acrescentou nesta segunda-feira em declarações à BBC.
Outro deputado da oposição trabalhista, Tom Watson, considerou indispensável conhecer o eventual envolvimento do governo nesta detenção.
"Devemos saber se os ministros estavam cientes da decisão de deter David Miranda e quem tomou concretamente a decisão".
O governo brasileiro protestou duramente contra esta detenção, ao considerar "injustificável envolver um indivíduo, contra o qual não pesa qualquer acusação que possa legitimar o recurso à legislação" britânica antiterrorista.
A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional considera esta detenção "ilegal e imperdoável (...) uma tática revanchista".
"É totalmente improvável que David Michael Miranda, um brasileiro que fazia escala em Londres, tenha sido detido por casualidade, dado o papel que seu marido desempenhou ao revelar a verdade sobre a natureza ilegal da espionagem da NSA", disse Widney Brown, responsável de política e legislação internacional da Anistia.
Opinião compartilhada pela organização WikiLeaks, especializada na publicação de documentos secretos, que denunciou "o abuso por parte das autoridades britânicas da legislação sobre o terrorismo".
O jornal The Guardian destacou estar "chocado" com a situação.
David Miranda foi detido quando fazia escala no aeroporto de Heathrow em seu voo procedente de Berlim com destino ao Rio de Janeiro, onde vive com Greenwald.
Na capital alemã, ele passou uma semana na casa da documentarista americana Laura Poitras, que foi selecionada por Snowden, junto a Glenn Greenwald, para publicar os documentos que trouxeram à tona os programas de espionagem realizados pela Agência de Segurança Nacional americana.