Vacinação no Chile: país vacinou quase 20 pessoas a cada 100 habitantes, uma das melhores taxas do mundo (Ivan Alvarado/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 4 de março de 2021 às 06h00.
Com pouco mais de dois meses de vacinação contra o coronavírus, o Chile tem conseguido ser uma rara exceção na América Latina. O país já está entre os dez que mais vacinaram proporcionalmente ao tamanho da população. E com a chegada de novas levas da vacina da Pfizer, começa nos próximos dias a vacinar uma população relativamente mais jovem, com idosos na casa dos 60 anos, além de profissionais de educação, que são prioridade no plano de vacinação do país.
Nesta quinta-feira, 4, começa a vacinação em pessoas de 61 anos e trabalhadores da educação entre 24 e 27 anos. No dia seguinte, é a vez também dos chilenos de 60 anos e profissionais de educação abaixo de 23 anos.
Até o fim da próxima semana, o país já terá chegado até mesmo aos adultos entre 46 e 49 anos, o grupo mais jovem a ser vacinado na América do Sul até agora, com exceção de grupos prioritários. Mais doses da vacina da Pfizer estão previstas para chegar nos próximos dias, o que deve garantir o sucesso das próximas fases, segundo o governo chileno.
A meta é ambiciosa. O objetivo do Chile, segundo as projeções oficiais, é vacinar 5 milhões de pessoas ainda no primeiro trimestre, até o fim de março. Ao fim do primeiro semestre, em julho, o país espera ter vacinado 80% da população, cerca de 15 milhões de pessoas. Segundo as estimativas até agora, porcentagens na casa dos 80% seriam suficientes para se aproximar a chamada imunidade de rebanho e reduzir sobremaneira o contágio.
Com 19 milhões de habitantes, o Chile tinha pouco mais de 19 doses aplicadas a cada 100 habitantes até esta quarta-feira, 3, número que se equipara ao patamar de países desenvolvidos como EUA (24 doses a cada 100 habitantes) e Reino Unido (32 a cada 100 habitantes).
O Chile foi um dos países mais afetados pela pandemia na América Latina, com mais de 820.000 casos e 20.000 mortes confirmadas.
Mas seu rápido processo de vacinação tem como base os recursos que obteve para comprar as doses e uma comprovada estratégia de distribuição graças a uma rede de saúde pública primária, com história desde os anos 1950 em grandes campanhas de vacinação.
A posição do Chile entre os 10 que mais vacinaram no mundo proporcionalmente ao número de habitantes o coloca muito à frente dos vizinhos na América Latina.
No Brasil, que chegou ontem a 7 milhões de vacinados, a taxa é de pouco mais de 4 doses aplicadas a cada 100 habitantes. Após ter começado a vacinar em 17 de janeiro, o Brasil está entre os países que mais vacinaram em números absolutos.
Mas dado o histórico de vacinação em massa brasileiro e o grande tamanho da população, que exige mais doses do Brasil do que em outros países para algum retorno à normalidade, era esperado que o cenário fosse mais promissor a essa altura.
Nesta quarta-feira, o governo federal anunciou que negocia a compra das vacinas da Pfizer e Johnson & Johnson's para aumentar o portfólio de vacinas disponíveis, mas a demora nas negociações têm sido criticadas. Enquanto isso, a expectativa está na fabricação própria de Butantan e Fiocruz, que deve fazer o Brasil ter 200 milhões de doses até agosto, sobretudo a partir de abril.
Outros países da América Latina também engatinham na vacinação. A Argentina, que vacinou até agora majoritariamente com a Sputnik V, ainda está vacinando pessoas acima de 70 anos. Uma nova carga da Sputnik V foi recebida no último fim de semana, assim como as primeiras doses da vacina de AstraZeneca/Oxford, que também começa a ser usada. A Argentina começou a vacinação primeiro, ainda em dezembro -- e teve até o presidente Alberto Fernandez vacinado com a Sputnik V --, mas sofreu com a demora na chegada de novos lotes de vacinas.
O México, que vacina com Pfizer a AstraZeneca, também está muito atrás dado o tamanho de sua população, de 127 milhões de habitantes. Por ora, o país tem somente 2 doses aplicadas cada 100 habitantes.
O Uruguai começou a vacinar nesta semana, com meses de atraso em relação aos outros países, mas com um cronograma que soa promissor e a vantagem de ter tido mais tempo para se organizar. O país espera ter vacinas para metade da população até meados de março, com doses da Coronavac, da Sinovac (que já começou a ser aplicada em professores, policiais e outras categorias essenciais) e da Pfizer (que será destinada a profissionais de saúde e idosos). As primeiras doses da Pfizer chegarão na próxima segunda-feira, 8 de março.
Enquanto a vacinação ainda corre de forma lenta em boa parte da região, as novas variantes do coronavírus tornam o começo de 2021 um dos momentos mais desafiadores da pandemia até agora. O Brasil, em especial, chegou ontem ao maior número de mortes pela covid-19 em um único dia, um triste recorde pelo segundo dia seguido.
Nos outros países da região, o número de casos também avança. Mesmo no outro extremo, o Uruguai, que teve a pandemia controlada até agora, a alta de casos foi de 160% neste ano e começa a preocupar.
Enquanto isso, a variante P.1, encontrada em Manaus, que tem sido chamada de "variante brasileira", já circula em diversos países da região -- o último a identificar a cepa foi a Venezuela, que anunciou os casos ontem. A vacinação é urgente para evitar que a nova cepa se espalhe ainda mais, e que novas mutações possam surgir.