Trichet pediu aos líderes europeus a dar os passos necessários para superar as atuais dificuldades financeiras (Georges Gobet/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de outubro de 2011 às 18h58.
Frankfurt - A reunião dos líderes europeus para se despedir de Jean-Claude Trichet da presidência do Banco Central Europeu (BCE) se transformou nesta quarta-feira em uma reunião crucial para que a cúpula extraordinária da União Europeia (UE) do próximo domingo conclua com acordos para enfrentar a crise.
Em um ambiente de fervor europeísta, os líderes se despediram de Trichet com elogios a sua política de rigor monetário e às decisões pouco convencionais, como a controvertida compra de bônus de países devidos como instrumento para combater a crise econômica.
No entanto, foi o próprio Trichet quem pediu aos líderes europeus a dar os passos necessários para superar as atuais dificuldades financeiras, ao defender a solvência "urgente" da recapitalização dos bancos e a integração econômica e fiscal da UE.
Este será, junto com a forma de aproveitar melhor o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), um dos assuntos mais importantes da cúpula extraordinária do próximo domingo.
Quem também viajou a Frankfurt nesta quarta-feira foi o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Ele não compareceu à homenagem a Trichet, mas se deslocou à metrópole financeira europeia de última hora, fora de programa.
Antes desse encontro, o presidente francês tinha falado por telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel. Fontes tanto da França quanto da Alemanha diziam que isso seria tudo, até que Sarkozy resolveu fazer a viagem surpresa.
O encontro em homenagem a Trichet se prolongou por pouco mais de uma hora e meia. Não houve declarações finais dos líderes.
Em círculos econômicos e comunitários, soam vozes que indicam a aceitação de Berlim à possível moratória parcial da Grécia, algo que desagrada Paris devido ao impacto da medida sobre os bancos franceses, tendo em vista também a já questionada máxima qualidade creditícia "AAA".
Além disso, a França aposta que o fundo de resgate europeu seja a primeira instância empregada para recapitalizar as entidades financeiras com problemas de capital, algo que a Alemanha não deseja, já que prefere que cada país seja responsável por ajudar seu setor bancário.
A divergência é tamanha que, segundo os analistas, a viagem de Sarkozy a Frankfurt serve para que ele se reúna tête-à-tête com Merkel.
A chanceler alemã e o presidente francês tinham se reunido pela última vez em Berlim, no último dia 9, ocasião em que ambos se comprometeram a apresentar uma solução duradoura até o fim do mês.
Enquanto alguns líderes como o presidente da Comissão Europeia (órgão executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, e o próprio Sarkozy ressaltaram a importância de se obter na cúpula acordos definitivos que acalmem os mercados, Merkel minimizou nesta quarta-feira a gravidade da situação.
A chanceler reiterou que a cúpula da zona do euro do próximo domingo será um encontro importante, mas não o definitivo, já que a batalha contra a crise das finanças públicas e privadas da região, disse ela, será um longo caminho repleto de medidas.
"A cúpula do dia 23 não será o ponto final, mas um ponto a mais, e a ela seguirão muitos outros", declarou a líder, durante o encontro desta quarta-feira.
Em seu discurso, Trichet enfatizou a necessidade de melhorar a governança europeia, como instrumento essencial para evitar que se repitam situações como a atual. "A primeira lição da crise é que devemos reforçar o Governo em nível europeu", destacou.
Para ele, a UE necessita da criação de uma entidade que supervisione os países em matéria fiscal e econômica, que tenha poderes executivos em questões financeiras e que possa representar o bloco perante as instituições multilaterais.
Essa postura alinhou todos os líderes da UE participantes da homenagem, que acentuaram a importância da Europa, do euro e do papel decisivo de Trichet no processo de amadurecimento da moeda comum e na luta contra a crise da dívida.
"Se o euro se romper, a Europa se rompe", afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel durante seu discurso, no qual classificou Trichet como um "europeu convicto".
A chefe de Governo alemão, que reconheceu a lentidão da UE em dar respostas às dificuldades, apostou em aumentar a cooperação e integração dentro do bloco e combinar o que chamou de "solidariedade" comunitária com a redução da dívida e a melhora da competitividade das economias nacionais.