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Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2010 às 18h40.
San José - A América Latina se mantém como a região mais desigual do mundo, pois dez dos 15 países com maior disparidade do planeta ficam nesta região, segundo um relatório apresentado hoje na Costa Rica pelas Nações Unidas, que atribui o fenômeno à "herança geracional" e ao maus desempenhos das políticas públicas.
Para Isidro Solaga, coordenador do relatório regional sobre Desenvolvimento Humano, apresentado hoje em San José, o fenômeno da desigualdade na América Latina é complexo, mas obedece em boa parte a uma "herança geracional" e ao mau desenho de políticas públicas, que na maioria dos casos se limitam ao combate à pobreza.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) ressalta no relatório - que analisa aspectos como renda, educação e saúde, entre outros indicadores - que a situação do continente é delicada, pois até nos países com melhores resultados, a desigualdade é persistente e elevada.
Para Solaga, "o sistema político da região reforça a reprodução da desigualdade", pois na maioria dos países, por exemplo, os sistemas fiscais são "assimétricos", ou seja, tem uma forte carga no consumo, em lugar de taxar os lucros.
O relatório ressalta que a América Latina é um mosaico de realidades políticas e sociais diferentes, mas compartilha o desafio da desigualdade.
A Bolívia, por exemplo, é o país mais díspar do continente. Tem o mesmo nível de desigualdade que Camarões e Madagascar e com um índice de Gini de 60 (em uma escala de 0 a 100, onde 100 é o máximo de desigualdade), fica entre os três países mais desiguais do mundo.
No continente americano ela é seguida pelo Haiti, que mantém uma situação de desigualdade comparável com a da África do Sul e Tailândia, todos com 59 pontos no coeficiente de Gini.
O Brasil e o Equador (índice 56), superam nações como Uganda (índice 55), que tem o mesmo nível de disparidade nas condições de vida de sua população que Honduras, Panamá, Paraguai, Chile, Colômbia e Guatemala, superando Botsuana, Etiópia e Nepal.
Inclusive os países menos desiguais da América Latina - Uruguai, Costa Rica, Venezuela e Argentina -, mantêm níveis de disparidade muito elevados (mais de 45) se comparados com os coeficientes da Europa oriental (entre 24 e 43 pontos), e mesmo com os países desenvolvidos, cujo pico está em Portugal, com um índice Gini de 41.
A herança das condições de vida de uma geração a outra é palpável e preocupante no continente, e demonstra que muitas das políticas para favorecer a mobilidade social foram ineficazes.
Dados do relatório assinalam que, por exemplo, só 3,1% dos jovens cujos pais têm a educação primária incompleta concluem seus estudos universitários.
A desigualdade é clara em quase todos os níveis. A diferença no acesso à água entre a população de maior e menor renda no Peru é de 57%, seguida pela Nicarágua (52%) e El Salvador (45%), enquanto no Uruguai é de apenas 2% e na Costa Rica e Argentina de 4%.
Na Bolívia, os grupos mais ricos têm um acesso 64% maior à eletricidade que os mais pobres. Em Honduras a diferença é de 58% e no Peru chega aos 55%, mas no Chile e Venezuela os dois grupos têm praticamente o mesmo acesso.
Se dividirmos à América Latina por subrregiões não há grandes diferenças, embora o Cone sul seja a região com menos desigualdades e a região andina a de mais disparidades sociais.
Outro elemento comum em toda América Latina é que as maiores vítimas da desigualdade são as mulheres, assim como os indígenas e os afrodescendentes.
As mulheres também são maioria entre os trabalhadores informais, além de receber um salário menor e trabalhar mais horas.
O Pnud enfatizou que os atuais processos de tomada de decisões na região não favorecem a redução da desigualdade, pois é preciso lutar contra a corrupção e desenvolver políticas que vão além do combate à pobreza.