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Descriminalização do aborto passa a valer no Uruguai

A nova lei não legaliza tecnicamente o aborto, mas o despenaliza antes das 12 semanas sempre que forem cumpridos certos procedimentos regulados pelo Estado


	Mulheres fazem protesto no Uruguai sobre leis sobre aborto
 (Divulgação)

Mulheres fazem protesto no Uruguai sobre leis sobre aborto (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2012 às 20h13.

Montevidéub - A lei de descriminalização do aborto no Uruguai começou a ser aplicada nesta segunda-feira nos centros de saúde do país dois dias depois de grupos sociais e políticos terem feito uma campanha de recolhimento de assinaturas para pedir um referendo que derrube a norma.

As mulheres uruguaias e as estrangeiras com mais de um ano de residência no país podem se submeter a partir de hoje, quando se cumpre o prazo legal de dez dias desde que o Ministério da Saúde Pública (MSP) divulgou a regulamentação da Lei de Interrupção Voluntária da Gravidez, aprovada em outubro pelo Parlamento.

O tema do aborto divide os partidos políticos e a sociedade uruguaia quase à metade, e a lei foi aprovada unicamente com os votos da coalizão de esquerda Frente Ampla, que tem maioria na Câmara dos Deputados e no Senado e governa o país.

A nova lei não legaliza tecnicamente o aborto, mas o despenaliza antes das 12 semanas sempre que forem cumpridos certos procedimentos regulados pelo Estado.

Os hospitais públicos ou privados ''estão obrigados a realizar a cirurgia ou a garantir que esta seja feita por terceiros em casos de objeção de ideal'', disse Leticia Rieppi, diretora de Saúde Sexual e Reprodutiva do Ministério da Saúde Pública, em declarações reproduzidas no site da Presidência.

Dois centros médicos vinculadas à Igreja Católica anunciaram que recorreriam a essa objeção de ideal, mas nenhuma instituição se apresentou para realizar o trâmite contra o MSP.

As autoridades divulgaram um manual e guia de procedimentos que deverão ser seguidos por mulheres, instituições de saúde e os médicos para praticar os abortos.


As interessadas poderão solicitar a interrupção voluntária da gravidez até as 12 primeiras semanas de gestação, período que se amplia a 14 semanas em caso de estupro e sem restrições para o caso de más-formações do feto ou risco de vida para a mãe.

Previamente, as pacientes deverão passar por uma comissão formada por um ginecologista, um psicólogo e um assistente social que as assessorarão sobre os riscos de praticar um aborto e inclusive sobre a possibilidade de completar sua gravidez e dar a criança à adoção.

Depois, elas terão cinco dias para refletir, e assim que ratificarem sua vontade, passarão por um aborto ''farmacológico'' e de acordo com os critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), explicou recentemente Rieppi à Agência Efe após a cerimônia de apresentação do manual de atuação.

A iniciativa, incentivada pelo bloco governista de esquerda Frente Ampla (FA), viu a luz em outubro em meio à rejeição dos antiabortistas, mas também de alguns pró-abortistas que a criticam porque impõe controles estritos do Estado à mulher que quiser interromper a gravidez.

No sábado passado, organizações sociais e grupos políticos iniciaram uma campanha de coleta de assinaturas para pedir um referendo que derrube a lei.

A intenção é conseguir em uma primeira etapa 50.000 assinaturas, 2% do censo eleitoral, para que a justiça eleitoral convoque uma consulta inicial que seria realizada ao longo de 2013.


A essa votação, não obrigatória, deveriam comparecer pelo menos 25% dos cidadãos habilitados para votar - cerca de 600.000 - e expressar sua vontade de ir a referendo em outra data ainda a definir.

A campanha de coleta de assinaturas começou com a notícia do apoio à iniciativa do ex-presidente uruguaio Tabaré Vázquez (2005-2010), primeiro líder de esquerda da história do país e que em 2008 vetou uma lei de aborto aprovada por seu próprio partido, alegando motivos ''médicos e morales''.

Seu sucessor e correligionário na FA, José Mujica, que ratificou a lei, afirmou em entrevista que possivelmente ele também assine para respaldar o pedido de referendo.

''Assinar é para que as pessoas votem. Sempre estive de acordo que se vote. Toda essa decisão deveria estar nas mãos do povo, e não do parlamento'', disse o governante.

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