Em janeiro, Chávez reconheceu que a violência nas ruas venezuelanas provocou a morte de 155 mil pessoas nos últimos dez anos, ou 15,5 mil por ano (Juan Barreto /AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2011 às 10h30.
Caracas - Uma campanha pelo desarmamento da população conseguiu o que parecia impossível na Venezuela, unir os seguidores e os opositores do presidente do país, Hugo Chávez.
Uma comissão parlamentar mista está discutindo a criação de uma lei sobre o assunto na Assembleia Nacional (AN). 'Por que não nos unirmos quando se trata da vida dos venezuelanos? Temos que cumprir nosso compromisso com a vida, sem cálculo político', disse à Agência Efe o deputado de oposição Juan Carlos Caldera, membro da comissão.
A evidência de que as mortes causadas por armas de fogo não distinguem ideologias ajudou os políticos venezuelanos a discutir o desarmamento de forma conjunta. No início do ano, no entanto, chavistas e antichavistas discordavam sobre o tema.
Um deputado da oposição, na ocasião, disse que se todos os caixões das pessoas que morreram vítimas da delinquência no país fossem colocados juntos, eles seriam capazes de ocupar as rodovias do país. O comentário provocou repulsa entre os governistas.
Em janeiro, Chávez reconheceu que a violência nas ruas venezuelanas provocou a morte de 155 mil pessoas nos últimos dez anos, ou 15,5 mil por ano. O ministro do Interior, Tareck El Aissami, afirmou que a taxa de homicídios é de 48 por cada 100 mil habitantes, número acima da média da América Latina.
A organização humanitária venezuelana Provea divulgou recentemente que entre outubro de 2010 e setembro de 2011 ocorreram 13.080 homicídios.
As discussões realizadas na AN apontam para a importância do desarmamento: 98% desses homicídios foram causados por armas de fogo, e 63% das vítimas recebeu mais de cinco tiros.
'Os índices gerais de delitos vem diminuindo, menos o de assassinatos', declarou Chávez recentemente.
'Para conseguir diminuir a violência na Venezuela, é preciso possibilitar a entrega anônima e voluntária das armas em poder dos civis', disse o deputado Juan Carlos Caldeira, frisando que apesar dos números desencontrados, especula-se que num país com 30 milhões de habitantes, existam 15 milhões de armas de fogo.
'A política do desarmamento deve incluir oportunidades e benefícios, que vão desde alimentação, material de construção, bolsas de estudos e outras oportunidades', opinou o deputado.
Além das discussões no Congresso, foi criada também a Comissão Presidencial para o Controle de Armas, Munição e Desarmamento, que também conta com a participação da oposição. O objetivo é 'construir uma política de paz, que vá além do desarmamento', segundo o titular da comissão, Pablo Fernández.
'Se retirarmos todas as armas de fogo, isso não significará que a violência desaparecerá, nos agrediremos com paus e facas', alertou Fernández recentemente à televisão estatal, ao destacar que é necessário 'construir códigos de convivência e regras democráticas para acabar com os conflitos'.
O líder do grupo anunciou que em 2011 foram recolhidas 130 mil armas, que serão destruídas antes do Natal. Integrantes das duas comissões viajaram no mês passado ao Brasil para conhecer a experiência do país e obter informações sobre métodos de identificação de armas e munição.
A identificação é importante para controlar o mercado de armas, afirmou Fernandéz, admitindo que o contrabando de munição tem mais gravidades do que o de armas no país.
'A munição produzida pelo estado venezuelano chegam com muita facilidade nas mãos dos bandidos', explicou.
Um membro da Anistia Internacional Venezuela responsável pelo tema do controle de armas, César Marín, disse à Efe que 'é muito importante que exista a vontade política que está se vendo agora'.
No entanto, na sua opinião, é preciso ir além: 'queremos uma lei que contemple uma política integral de armas, na qual o desarmamento seja o capítulo final'.