O presidente americano, Barack Obama: "temos que fazer Obama retroceder", disse membro da oposição (Kevin Lamarque/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2014 às 15h08.
Washington - O passo adiante dado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao regularizar unilateralmente mais de cinco milhões de imigrantes ilegais, obriga à oposição republicana a calibrar sua resposta sem perder de vista que o voto latino será determinante nas eleições de 2016.
Os líderes republicanos no Congresso, John Boehner e Mitch McConnell, deverão fazer equilibrismos nos próximos meses para conter a ala ultraconservadora do partido, o Tea Party, que clama medidas maximalistas como a paralisação da atividade do governo.
A discussão agora é a dimensão do contra-ataque: o Tea Party quer usar a via orçamentária para forçar uma nova paralisia administrativa do governo federal como a do ano passado, enquanto o aparelho do partido defende medidas menos radicais como negar fundos para a implementação das medidas migratórias.
"Não podemos capitular, mas temos que fazer Obama retroceder inteligentemente. Se reagimos de forma desproporcional, o assunto já não é Obama, somos nós", ponderou o senador republicano Lindsey Graham, um dos legisladores que defendeu a reforma migratória integral estagnada na Câmara dos Representantes desde sua aprovação no Senado em 2013.
A retórica beligerante com a imigração cobrou uma conta cara dos republicanos após a eleição. "O partido boicota a si mesmo com suas duras políticas em imigração", comentou à Agência Efe Anthony Corrado, professor de Política Governamental no Colby College do Maine.
As análises pós-eleitorais internas de 2012 evidenciaram de novo uma das encruzilhadas que o Partido Republicano enfrenta para recuperar a Casa Branca: o discurso anti-imigração mobiliza suas bases mais conservadoras, mas afasta os latinos, o grupo de eleitores que cresce mais rápido nos EUA.
A maioria dos mais de cinco milhões de imigrantes ilegais que Obama regularizará com suas medidas são latinos e o presidente conta com o respaldo de todas as organizações hispânicas, que agora voltam suas atenções ao Congresso, para que cumpra sua parte e aprove a reforma migratória.
"Os republicanos, obstinados e imóveis durante tanto tempo em imigração, não podem se esquivar de sua responsabilidade. Há uma maneira inteligente de atuar para o país e também para o Partido Republicano", afirmou hoje o editorial do "The Washington Post".
"Regulando o sistema migratório fracassado em seus próprios termos, os republicanos podem anular o decreto do presidente, que, depois de tudo, é provisório e parcial", acrescentou o jornal.
O principal jornal da capital americana também conclui que "se os republicanos querem vingança, em outras palavras, já têm uma maneira de alcançá-la. Se chama legislação".
A mesma sugestão foi feita por Obama ontem à noite em seu discurso à nação: "Para os congressistas que questionam minha autoridade para melhorar nosso sistema migratório, ou minha atuação onde o Congresso não fez nada, tenho uma resposta: aprovem a lei (da reforma migratória)".
No entanto, a bancada republicana está longe de abrir-se para a colaboração com o presidente: senadores ultraconservadores como Ted Cruz sugeriram boicotar as nomeações do presidente e outros foram mais além ao defender um julgamento político ou prever uma crise constitucional.
Os líderes republicanos no Congresso, que a partir de janeiro terão o controle da Câmara e do Senado, não especificaram ainda qual será sua resposta ao anúncio de Obama, mas quiseram deixar claro com sua retórica que será contundente.
"(Obama) precisa entender algo, que se atua impondo sua vontade ao país, o Congresso atuará", disse Mitch McConell, que em janeiro deixará de ser líder da minoria para se tornar líder da maioria no Senado após a rotunda vitória que seu partido conseguiu sobre os democratas nas eleições legislativas de 4 de novembro.
"Como cada partido vai administrar seus respectivos riscos na batalha pela opinião pública neste assunto provavelmente definirá os dois últimos anos da presidência de Obama, assim como a corrida emergente para escolher seu sucessor", considerou o "The New York Times" em artigo.
A primeira prova desta afirmação chegou ontem mesmo por meio de Hillary Clinton, que imediatamente depois do anúncio de Obama publicou um incomum comunicado no qual destacava seu apoio ao presidente e instava o Congresso a fazer sua parte.
Para Hillary, a quem muitos consideram a candidata "inevitável" na corrida democrata pela presidência em 2016, o voto latino é fundamental, assim como para qualquer um que deseje presidir um Estados Unidos cada vez mais diverso.
Os imigrantes atuais e seus filhos representarão 37% da população em meados deste século, a porcentagem mais alta na história de uma nação que caminha rumo a uma maioria não branca e que desde 1965 recebeu 20 milhões de imigrantes latinos.