Joe Biden, presidente dos Estados Unidos (Mandel NGAN/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 2 de julho de 2024 às 16h38.
Última atualização em 2 de julho de 2024 às 17h01.
O deputado Lloyd Doggett se tornou, nesta terça-feira, o primeiro parlamentar do Partido Democrata a defender publicamente que Joe Biden abandone a disputa à reeleição nas eleições de novembro. O fraco desempenho no debate contra Donald Trump, na semana passada, expôs o que alguns veem como fragilidades do líder, que completará 82 anos em novembro, e levou a questionamentos sobre sua capacidade de comandar o país por mais quatro anos, até por aliados próximos.
Em comunicado, Doggett, deputado do Texas, elogiou os esforços de Biden para “ajudar a reconstruir o país após a devastação de uma pandemia, uma insurreição e anos de sucateamento com Trump”. Mas apontou que muitos americanos demonstram insatisfação com o governo, e as pesquisas mostram Biden atrás de Trump em estados onde venceu há quatro anos. Um levantamento divulgado no domingo pelo instituto YouGov mostrou que 72% dos entrevistados dizem que ele não deveria disputar a reeleição — até o momento, ele rejeita deixar a disputa.
O parlamentar disse que contava com o debate para mudar esse cenário, mas, segundo ele, “o presidente fracassou ao tentar mostrar seus avanços e mostrar as mentiras de Trump”. Citando a decisão do presidente Lyndon Jonhson de não concorrer à reeleição em 1968, em meio à Guerra do Vietnã, Doggett afirmou que Biden “deveria fazer o mesmo”.
“Minha decisão de tornar essas duras questões públicas não foi simples, e de nenhuma forma diminui o respeito por tudo que o presidente Biden conseguiu”, escreveu o parlamentar. “Reconhecendo que, ao contrário de Trump, o maior compromisso de Biden sempre foi com seu país, não consigo mesmo, tenho a esperança de que ele tomará a dolorosa e difícil decisão de desistir. Eu, respeitosamente, peço que o faça.”
No debate da quinta-feira passada, quando, como pontuou o deputado, se esperava um desempenho contundente de Biden, o que se viu foi um líder que tropeçava nas palavras, parecia frágil e por vezes confuso, e que permitiu que Trump desfilasse uma série de informações falsas e atacasse sua gestão sem muita resistência. “Catástrofe” foi uma das palavras mais ouvidas para descrever a noite depois que a transmissão terminou, acendendo uma série de alertas entre os governistas.
" Temos de ser honestos: não foi apenas uma noite horrível", afirmou, em entrevista à CNN, na terça-feira, o deputado Mike Quigley. "Eu só quero que ele reflita neste momento quanto isso impacta não apenas sua campanha, mas todas as outras campanhas que ocorrerão em novembro."
Ao mesmo tempo, aliados como a vice-presidente, Kamala Harris, e o ex-presidente Barack Obama saíram em defesa de Biden, argumentando que, embora a noite não tenha sido das melhores, ele conseguiu mostrar que era o nome “mais adequado” a comandar os EUA. Mas a “operação abafa” não evitou que alguns pesos pesados do partido se juntassem ao coro de questionamentos.
Em entrevista à NBC, a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi disse ser legítimo levantar dúvidas sobre a capacidade de Biden, assim como é legítimo fazer as mesmas perguntas sobre Donald Trump, que tem quatro anos a menos do que o presidente (mas se apresentou de maneira mais confiante e firme no debate).
"Acho que é uma pergunta legítima a se fazer: isso foi um episódio ou uma condição [de saúde]?", disse Pelosi, de 84 anos.
Ela confirmou ter escutado opiniões diversas sobre a permanência de Biden na disputa, mas revelou não ter conversado com o presidente desde o debate.
"Alguns estão dizendo 'bem, como podemos discutir o processo [de indicação] dentro do que pode ser possível?'”. Outros estão dizendo 'Joe é o nosso cara, nós o amamos, nós confiamos nele. Ele tem visão, conhecimento, capacidade de julgamento e integridade'", disse Pelosi à NBC. "Acredito em seu julgamento."
Pelosi ainda sugeriu ao presidente que faça algumas entrevistas “sem script” com jornalistas nos próximos dias e semanas, como prova de que está apto a mais um mandato.
"Isso seria muito bom para ele", concluiu a deputada. Horas depois, o presidente confirmou que dará uma entrevista à ABC, na sexta-feira, mas sem revelar se as perguntas serão combinadas previamente.