Trump: democratas acusam o presidente de se beneficiar do cargo para interesse próprio (Drew Angerer/Getty Images)
AFP
Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 18h06.
Os democratas concluirão nesta sexta-feira sua alegação inicial no julgamento político contra Donald Trump no Senado dos Estados Unidos, referindo-se à acusação de obstrução do Congresso, depois de acusá-lo na véspera de abuso "flagrante" de poder, com a fraca expectativa de romper a coesão dos republicanos.
Os democratas buscam romper a sólida unidade do banco republicano do Senado, que com a maioria de 53 a 47 provavelmente absolverá o presidente de ambas as acusações por abuso de poder e obstrução do Congresso. "Eles não querem ouvir", disse o líder democrata do Senado, Chuck Schumer, nesta sexta-feira em uma entrevista coletiva.
Segundo a acusação, Trump abusou de seu poder quando tentou pressionar a Ucrânia para interferir nas eleições de 2020 a seu favor, sugerindo ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que investigasse os negócios do filho de Joe Biden. O ex-vice de Barack Obama é um dos favoritos entre os pré-candidatos democratas às eleições presidenciais de novembro.
O congressista democrata Adam Schiff, promotor no processo em que os 100 senadores são jurados, encerrou sua alegação na quinta-feira, dizendo com voz embargada que "não se não pode confiar que este presidente faça o que é bom para o país". "Então ele deve ser destituído", disse Schiff, que liderou a investigação na Câmara dos Deputados.
O deputado acusou Trump de abusar de sua autoridade como comandante em chefe e como chefe da diplomacia dos EUA para se beneficiar politicamente.
Jerry Nadler, presidente da Comissão Judicial da Câmara dos Deputados, disse que Trump repetidamente "violou flagrantemente seu juramento", com comportamento "ilegal", por se considerar um "rei".
Segundo os democratas, Trump pressionou a Ucrânia sob ameaça de reter cerca de US$ 400 milhões em ajuda militar, para um país que enfrenta um conflito com rebeldes prussianos em seu território.
"Se permitirmos que esse grave abuso de poder continue, este presidente terá liberdade total para abusar de seu controle da política externa dos EUA, assim como qualquer presidente no futuro", disse a representante Sylvia Garcia, que também faz parte da acusação.
Garcia investigou como Trump pressionou a Ucrânia por razões "puramente políticas" e insistiu que não havia evidências para provar que Trump, como ele diz, se preocupava com atos de corrupção, pedindo ao seu homólogo ucraniano que investigasse os negócios do filho de Biden na Ucrânia.
Este será o último dia das alegações iniciais dos democratas, que a dez meses das eleições querem que as audiências mobilizem o eleitorado.
De sábado a terça-feira - com recesso no domingo - a defesa do presidente tomará a palavra.
Jordan Sekulow, um dos membros da defesa de Trump, desqualificou os argumentos democratas como "mais do mesmo, uma política hiperpartidária sob forma de jargão jurídico".
"Vamos defender o caso do presidente porque ele estava agindo totalmente de acordo com seus direitos constitucionais", disse à Fox News.
"Para começar, não acho que eles tenham as bases de um caso. Não há dúvida de que o presidente não será destituído".
O presidente minimizou novamente nesta sexta-feira o processo contra ele, afirmando ser uma "farsa" e reclamou que ele foi tratado de maneira "incrivelmente injusta" durante a investigação na Câmara dos Deputados.
Trump participará de uma manifestação contra o aborto, tornando-se o primeiro presidente americano a participar da "Marcha pela Vida", uma concentração que é repetida todos os anos para repudiar a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de permitir a interrupção do processo gravidez desde 1973.
Após as alegações da acusação e da defesa, os dois partidos terão um total de 16 horas para responder às perguntas feitas por escrito pelos senadores.
Após essa fase, eles devem decidir por maioria simples se desejam continuar o processo chamando novas testemunhas, conforme exige a acusação.
Caso contrário, eles devem votar a culpabilidade do presidente. É necessária uma maioria de dois terços para destituí-lo, o que no momento parece improvável.